Saturday, August 18, 2007

O Filho-Poema Meu


Meu filho me furta a máquina fotográfica digital...
Estréia um reino novo entre a distância que abre foço entre nós.
Deita comigo sob a colcha de retalhos para eu não dizer mais que não tenho marido.
Aprendeu a madrugar.
A ter mais delícia em voltar pra casa do que ir à aula.
Me acorda de noite com pés gelados, ri alto e acorda a vizinha.
De vez em quando coloca meia nos pés para surpreender...
Volta na hora certa para não me preocupar e aprendeu a fazer poemas.
Meu filho cresce fazendo apostas com minha tristeza.
Reclama, birra, faz greve.
Brinca de ser meu dono.
E eu me vejo cheia de um amor novo.
Um amor tão moderno que nem cabe nas minhas velhas lições do improviso.

Alyne Costa
Brumado, 18 de agosto de 2007

Wednesday, August 01, 2007

O Poema-Pai do Meu


Agosto em mim, nubladas paixões
E veias rompem, vasos dilatam
Sobre a lápide, a lembrança do menino-tenente
Na estante os olhos da lucidez me fitam.
Cercado de púrpuras rosas.
Os olhos do poeta resuscitam.
Do poeta de tanto ver
E, ainda, sem sombras, sem foco de dor, seus olhos me fitam a lançar-me lembranças:
Das ondas de arco-íris.
Do olhar de Célia.
Do tempo em que lhe sobraram apenas seus dois olhos e seu eu.
Cada um ao fundo do que pertencia.
O poeta cantador e violeiro.
Antecipador da razão.
Que rezava em fina maestria ter sido o findar da inocência a falência do seu querer.
Foram teus os versos-pai dos meus.
Como a minha angústia também procria.
E neste bailado da saudade que me invade.
Não brilham apenas os olhos-luz de Célia.
Brilha tua luz, ampulheta de minha alegria.
Brilha sua nudez pela Avenida.
Brilha teu cobre doado pela garrafa de café.
Brilha tua nobre inversão de valores.
A tua prodigalidade matriz da minha.
A tua doação, suas lágrimas repletas de verdade.
O seu poema ainda vive em mim...
Corre por minhas veias assimetricamente e em desafio.
E o teu canto, poeta vivo em minha estante, cercado das púpuras rosas que por ti criei...
O teu canto, poeta, vive em minhas entranhas.
Me amanhece quando é sol.
Me acalanta quando há lua.
O teu poema guardado manuscrito nos meus íntimos labirintos.
O teu gemido, teu pranto de dor.
De uma dor sem tradução...
Está tão vivo a fitar-me com teus olhos.
Cobrando-me a caderneta de anotações.
Exigindo-me contas e condutas.
Coragem e imaginação.
A prestar-lhe contas da vida que me deu.
Vida como a sua...
De poeta e flor.


Alyne Costa
Brumado, agosto de 2007