Sunday, May 31, 2009

Terra Mater


Entre hortências e pés de café
Sonho virar parteira
E as raízes que sugam o néctar do solo me sussurram segredos antigos
Que no coração da natureza tanto faz bicho ou gente
Flor ou semente
Beija-flores rodopiam
E entre um ou outro ninho de passarinho
Um vaga lume percorre a noite sozinho
Sinto cheiro de vida
E uma brisa leve acalanta qualquer receio
Aprendo manha de serpente
E a mata ganha forma de gente
Já nada mais sou que parte deste ciclo da vida
Vida campesina possível e real
E a mão do poeta colhe as hortaliças viçosas
A mão da poeta prepara um café
E tudo passa a ter um sentido que a mente não compreende
Porque nem tudo é passível de compreensão
Basta os sinais lidos pelo coração
Que atravessa a mata e escala as montanhas
Que rocha, bicho, água, flores e ervas dão a lição
Terra Mater, mãe da vida
Da flora e fauna, da gente oprimida.
Mãe de acalanto profundo.
De respeito à natureza e ao mundo.


Alyne Costa

Maio de 2009
Para Dato e Telma

Friday, May 15, 2009

Flor de Pensamento


No infinito onde habito apenas reinam pensamentos
Com cores claras e alguma saudade até do tempo que era criança
No carnaval minha mãe fazia fantasias...
Com mãos de fada que nunca machucam.
Inexoravelmente a vida passa:
Perdas, ganhos, disputas com a própria vida.
E ela, a vida, nos absorve...
Amigos que vão, amores que chegam e nos arrancam do chão.
O resto é colheita das boas.
Que vida é feito solo para ser arado.
Planta para ser regada.
E precisamos acertas nas palavras...
Nos diálogos íntimos que traçamos com os fantasmas que nos perseguem.
Se for medo ou solidão, apago-os.
E enfrento de sorriso amarelo estas condições que o mundo impõe.
Coisas de cidade grande de vez em quando perdem a graça.
E até escada rolante vira bicho estranho.
Mas a gente vai crescendo, às vezes sem poda.
Noutras sem achar graça nenhuma.
Algumas morrendo de rir de um teatro que nos envolve e sem querer estreamos.
Como se vida fosse reino encantado de novela.
E em passos miúdos, sigo rumos que eu mesma traço.
Já sem pressa e sem fazer caso de certezas.
Que a vida é feito rio que lava tudo...
Até as nódoas de uma alma que somente pede paz.

Alyne Costa
15/05/09

Sunday, May 10, 2009

Coisa de Mãe


Como este ventre gerou o que não me pertencia...
Aparo minhas dúvidas como se assistisse meu filho escolher bola de gude.
E aprendo a enfrentar as dúvidas dele que tanto me aquecem.
Aprendo mais quando estudo com ele.
E o Egito me parece tão perto na hora da revisão.
Se os vídeos do Yotube não me seduzem...
O fazem bastante as gargalhadsa de menino que cresce, rebelde e sagaz.
Sou uma mãe que nunca teve avental....
Muito menos pantufas.
Sou mãezinha, assim:
De misturar atum e arroz e inventar que é um prato mexicano.
De inventar lendas e cantar musiquinhas da primeira escola.
De dar xodó na hora certa e chorar em horas erradas.
Sou mãe e aprendo.
Mais que professora.
E se erro muito.
É que nada, nem manacá, nasce perfeito.
A vida me rega e eu cresço com filho.
E feito passarinho, aqueço o ninho.
E filho cresce comigo.



Para Victor

10/05/09

Tuesday, May 05, 2009

Caduca


De volta ao altar, ergo as mãos
Mas as palavras que me saem, não são preces
Calo minha oração enquanto admiro as rugas que me nascem
E sonho envelhecer nos braços dele
Em seu desvelo, enrolo-me feito novelo
E como em sonho, acendo velas pelo porvir
Lembro as longas e enrugadas mãos de meu avô
Pela manhã rego as mudinhas das plantas
E a palavra de amor, viola o silêncio com um telefonema
E o dia assim amanhece, com promessas claras
E cheiro de bolo frito de tapioca e sal
Mesmo se chove as manhãs são claras
Cheias de esperanças novas
Volto ao altar e ergo as mãos
De puro agradecimento, Deus, é feita minha poesia
Assim, calma, sem estardalhaço
Feito aposta de menino
Mas eu queria mesmo era ter mãos encantadas
Para aparar o intangível do amor que o céu derruba em mim
Aparar e colocar em taças
Servir a quem se achega como de costume
E essa vida que faz pouco caso de ser entendida
É meu valioso dom
E ela não é mais minha e nunca o foi somente
Ela é teia de um fio maior
Tecido dia a dia
Hora em porão de dúvida, outra em despensa cheia de amor
É a velhice que chega ainda tímida
É a vida florindo a graça de quem cresceu.

Alyne Costa
5/05/09