Saturday, November 21, 2009

O Abraço da Consciência Negra


Soam longínquas as espumas brancas dos mares atravessados pelo Navio Negreiro de Castro Alves...
Mas ainda arde a pele açoitada em tantos pelourinhos.
Ainda vive Zumbi nas camisetas coloridas e jamaicanas.
Consciência eloqüente e negra, consciência mãe do Brasil.
Ainda brilham em museus ornadas jóias designadas: escravas.
Ainda há um abismo a separar raças.
Um pai abraça o corpo do filho tombado ao chão.
Cinco horas de abraço.
Amor que não tem cor, nem raça, nem estirpe, nem religião.
Amor que tem a dor do corpo do filho tombado ao chão.
Vidas jovens ceifadas.
Destinos lançados ao léu.
O pai não terá mais vida sem dor.
Mas aquele abraço que me derrubou em lágrimas.
Aquele abraço permanecerá em minha memória e renascerá em cada abraço em meu filho.
Aquele corpo tombado ao chão...
Cada corpo de jovem tombado ao chão.
Leva consigo uma nação.
E leva também as nossas canções de esperança.

Alyne Costa
Salvador, 21/11/09

Para Nilton dos Santos, vigilante, que perdeu o filho de 18 anos na noite em que se comemorava a Consciência Negra

Sunday, November 08, 2009

Mãos


Mora em ti um sentido:
Tato.
Cai-lhe bem o afago.
O cabo de enxada.
O aceno.
Traças arquiteturas do infinito.
Pontes e construção.
Rabiscas atas, assinas duplicatas.
Cai-lhe bem a caneta e o pincel.
Discorres notícias e poemas.
Cava a areia.
Acaricia peles, dúvidas e almas.
Borda um sonho.
Firme, encaixa o prazer.
Trêmula, guia e oscila.
E na ânsia do desconhecido, ergue-se ao céu.
Segura a do irmão e ganha força.
Ergue torres.
Membro,
Segura o planeta!


Alyne Costa
8/11/09