Saturday, April 03, 2010

Nunca se sabe se um anjo está no começo ou no fim da fila...


Acredito mesmo que de pequenos gestos ou posturas mentais podemos abreviar caminhos e atrairmos situações.
Gentileza e cordialidade nada nos custam, mas podem e como enriquecer nossas vidas e as que com elas se entrelaçam.
No meu trabalho lido diuturnamente com pessoas com determinados tipos de problemas a serem resolvidos. São estas pessoas que ao pagarem impostos, pagam também meu salário e, ciente que devo atendê-las, orientá-las e encaminhar a resolução de seus problemas optei por tornar este momento mais leve, para as duas partes.
Certa ocasião, uma pessoa me questionou:
“_ É assim todo dia? Como é que você agüenta ouvir tanto problema?”
Apenas respondi:
Alguém tem que ouvir!
Inúmeras vezes o que a pessoa apenas precisa é ser ouvida. Não que eu seja um exemplo sublime de paciência. Decididamente não o sou. Mas acredito mesmo que se você conseguir ouvir, dar um sorriso, olhar para a carteira de identidade do cidadão, fazer uma pergunta sobre sua cidade natal, dizer um elogio sincero à sua caligrafia, você estabelece um outro parâmetro de relação e a tarefa de ouvir que para muitos poderia ser um estorvo, se torna leve e enriquecedor.
Saber ouvir o outro, olhar nos olhos, sorrir sincero não custa nada, afinal como cantou o sábio Gonzaguinha: “Cada pessoa sempre é a marca das lições diárias de outras tantas pessoas.”
Quarta-feira a tarde meu filho me acompanhou à médica. Na saída precisei passar no banco para tirar o dinheiro para ele assistir ao jogo do Vitória. Ao entrar no banco havia uma fila. Imaginei que a fila havia se formado por estarem alguns dos caixas-eletrônicos com defeito. E permaneci na fila até perceber que uma garota se aproximou de um dos dois caixas eletrônicos e só então questionei para uma funcionária qual o destino daquela fila e ao ser informada que era para pessoas com dificuldade em lidar com o terminal eletrônico, me retirei e aguardei em direção aos caixas eletrônicos que estavam operando normalmente.
Poucos instantes depois um senhor se aproximou e me perguntou:
“-Esta fila é para que?”
Respondi:
-Depois de alguns minutos nela sem saber descobri que é para as pessoas que vão utilizar os caixas eletrônicos com auxílio da funcionária do banco.
Ele abriu um sorriso enorme e me disse que aguardaria sua vez atrás de mim.
Como ele trazia um livro grande sobre o braço, perguntei curiosa:
-Este livro é uma bíblia?
Ele me respondeu:
“_Sim, é uma bíblia, é sempre conveniente trazermos um bom livro às mãos, principalmente quando não sabemos o momento em que enfrentaremos filas.”
Ao observar o sorriso largo e a gentileza daquele senhor, eu comentei alegremente:
-Seu sorriso é igual o de meu primo Claúdio.
Ante a informalidade de meu comentário, ele apenas me perguntou:
“_ E esse Claúdio é gente boa?”
Respondi com toda minha sinceridade que era gente muito boa!
Ele sorriu agradecido.
E eu sai do banco sorrindo com a clara certeza que havia encontrado um anjo.

Alyne Costa 3/04/09