Saturday, December 25, 2010

O Menino e o Carrocel



POR ONDE PASSA A CANDURA DO TEU OLHAR
DESPERTAS MEU SORRISO COMO UM RIO QUE CORRE PRO MAR
ME SENTO MUDA, RECOLHIDA NO MEU ÍNTIMO SOPRO INFANTIL
NESSE MEU PEDAÇO DE BEM QUERER!
ESSE, QUE A GENTE OCULTA, MAS TEME PERDER.
OLHO SUAS HÁBEIS MÃOZINHAS DESLIZAREM SOBRE O PAPEL
TINTA, ALGODÃO-DOCE, SORVETE, CARROSSEL...
EU TE VEJO MENINO E JÁ CAMINHAS SOBRE AS NUVENS, ESCUTANDO A VOZ DO VENTO, CRIANÇA COMO TU.
E, ASSIM, COMO UM CARNEIRO ARREDIO, NÃO ESCUTAS A MAIS NINGUÉM...
E EU ME CALO, ABUTRE QUE SOU, ESTARRECIDA QUANDO TE ARRANCO UM NÃO...
E ME ENTORPEÇO VENDO A INOCÊNCIA BAILANDO LIVRE EM SEU CORAÇÃO

ALYNE COSTA
SSA, 29.07.91 PARA MEU IRMÃO RAFA, NOSSO TELENGO-TENGO

Tuesday, December 21, 2010

Contrabaixo


Era só o contrabaixo e a estrela russa que bailava nua.
Solitário na orquestra, pedias um maestro com asas de metal.
E me acordava o barulho do metrô em construção.
Algum espectro ou assombração.
E na avenida carnavalesca que ainda acordava:
Os passos do all star acompanhavam uma gringa qualquer. Sem rebolado.
Palavras em alemão me levaram à janela.
Podia ser um bilhete de loteria, mas era triste e eu via.
Não, não era triste, era sincronicidade.
Era carnaval acordando a cidade.
O contrabaixo agora fazia a melodia no meu coração.
E eu perguntava pela lágrima que não vi de Tereza.
Teria partido de avião ou navio?
As mãos de Tereza tinham rugas frias.
E seu sorriso não dançava valsa.
Amei teus segredos, dissimuladamente...
As tantas histórias.
A gramática rica.
Naquele tempo a minha magreza superava a de Tereza.
Tereza, tristeza que eu nunca compreendi.

Salvador, 21 de dezembro de 2010
Alyne Costa, para Victor Hugo da Rocha

Saturday, December 04, 2010

O Preço da Prudência



Hoje a minha inspiração foi visitada pela prudência... Inúmeras vezes na vida pagamos o preço da nossa imprudência que parei para avaliar o que não pagaremos por sermos excessivamente prudentes?
Desde criança somos brindados com prudentes conselhos dos adultos responsáveis por nossa saúde e bem estar: não ande descalço, não fique no sereno, cuidado com a chuva, saia do sol, e outros, escandalosamente, desarrazoáveis como não tome leite que você acabou de chupar manga, não corra porque você está menstruada...
O universo feminino sem dúvidas é bem mais tolhido por este excesso de zelo que o masculino, mas a prudência cerceia homens e mulheres sem distinção.
Não quero aqui um manifesto à irresponsabilidade. Não. Canja de galinha é saudável sim!
Falo é de quando prudentes demais, econômicos demais, responsáveis demais, deixamos de voar, sonhar, arriscar e assim avançar.
A prudência é uma virtude, mas nenhuma virtude é para fincar-nos ao chão feito árvores. Conheço uma senhora tão prudente com a internet que está perdendo a oportunidade de conhecer a mais dinâmica forma de comunicação do mundo moderno e se privando de ter acesso às maiores galerias de arte do mundo.
Julgando estar sendo “prudente” e evitando ter problemas com sua privacidade, uso irregular de seus dados pessoais, está sendo na verdade preconceituosa com o que desconhece e covarde em enfrentar o mundo novo que se descortina.
Ainda ontem lendo uma manchete de um importante jornal vi que a criminalidade estava levando o medo a nível epidêmico, pois mais de 70% da população sofria de medo o que prejudicava a convivência.
Prudentes, atrás de grades, câmeras, seguranças, pouco a pouco o homem se esconde do homem, tem medo do homem, vai se esvaziando, se esvaindo, se perdendo na sua solidão, trancafiando-se na sua angústia.
É o preço que se paga. Me lembra um livro que li na oitava série intitulado “Bóia, Boi, Bang!”, cuja autoria me escapa a memória e que narrava num trecho: “Metade da humanidade não come e a outra metade não dorme com medo da que não come!”
A nossa prudência já não acalanta o nosso medo. E o excesso de prudência apenas nos mutila os potenciais.
Como um dia cantou o já saudoso poeta Damario Dacruz:

“Tristeza que não vamos por medo dos caminhos...”

Alyne Costa
4/12/2010

Lousa



Hoje me visita uma espécie de prudência.
Como se tivesse febre do seu aconchego e me chamassem Rúbia.
Como se trocada a identidade eu fosse uma nova fábula.
E no fundo do boteco, violinos e oboés, evocassem uma anunciação.
E, talvez, me chamassem Maria Tereza, só para dar as mãos um pouco mais de firmeza.
Para dar aos passos trôpegos, alguma destreza.
E, talvez, certeza, aos novos caminhos.
E eu, vôo e vou, passarinho, sozinho.
Bicando-flor, Joana de Barros, De Moura:
Amarro o laço dos sapatos.
Só pra não tropeçar.
Mas permito quedas novas.
Que vida, Dona Sem Nome e Sem Sobrenome, é de remendo e cicatriz.
E assim, se faça aprendiz.
Refaça-a sempre, na lousa com giz.

Alyne Costa
4/12/2010