Sunday, May 29, 2011

Abraçando o Desespero



Parecia que andava de patinete por alamedas de um sonho doce. Uma fragância suave de jasmim me invadia e eu tinha vontade de viver de novo aquele viver inocente da infância não essa vida às avessas cheia de pressas e falsas respostas.
Eu lia os versos de Manoel de Barros e observava uma tela de Gustav Klimt e tinha uma súbita certeza que algumas pessoas são oníricas e necessárias a existência das outras porque o ser humano sem sonho está fadado a morrer de fome da vida.
Eu já havia tentado toda espécie de cura para meu desespero. Confesso que já havia feito consulta a uma médium que me fizera tomar um banho de schincola que me rendeu uma boa gripe, mas a cura não vinha...
A minha indignação morava solitária em meu peito junto com um grito preso na garganta, feito feto morto que não saía e minha barriga crescia como se vida havia ali dentro, mas não era vida, era dor.
Eu seguia grávida daquela arbitrariedade que tirara o chão e me fazia ter sentimentos ocos que não me agradavam porque de fato não me pertenciam, pertenciam ao grito que não saía. Um grito humilde, subjugado, covarde, carente de eco e sem esperança.
Até que uma hora imprevisível e desapropriada ele saiu e eu vi o anjo negro voar para longe de mim.
Eu pude ver a cor da Liberdade! E abracei meu desespero, meu destempero e meu desequilíbrio porque preciso deles para me sentir viva.
Alyne Costa
29/05/11

Saturday, May 21, 2011

Gaiola


Imagem retirada do Blog http://jornale.com.br/petblog/?p=601

Ainda não sei a cor do caminho, mas vou...
Sem pressa, sem medo, sem pacote
E se ele estiver em flor, eu abro um sol
E se estiver nublado, aparo a queda
Eu vou ali comprar um batom
Tirar uma medida
Tomar uma média
E se ele for setembro, eu fevereiro
E se ele chorar, rabisco a lua
E se ele não for?
Eu nem metade
E se ele não aparecer?
Eu, sim, saudade...
E se ele for Caetano, eu canto o Tom
E se for amanhã?
Eu Djavan...
E se não for bem assim?
E se não for urgente?
E se não for prece?
Eu oração....
Eu busco um guia, carrinho de mão...
E se era pra ontem?
Eu já nem sei.
E se acabou?
Precipitei.
E se ele for saturno?
Eu sou de lua...
E se ele nem souber?
Porra, que intua!
E se desistiu?
Não leu os sinais?
Eu corro atrás.
E se for de mármore?
Eu, astronave.
E se voou?
Um novo amor.

Alyne Costa

Do livro 29 Fragmentos

Wednesday, May 18, 2011

BLOG PROG BA



A dinâmica da comunicação na internet atravessa um momento inimaginável. Os movimentos sociais alcançaram escopo dentro da rede e podemos mensurar que ao lado da mídia tradicional temos outras alternativas à sociedade, de fácil acesso e baixíssimo custo.
No último pleito eleitoral presenciamos a força dos blogs e das redes sociais no processo, com os políticos buscando compreender e agir neste contexto.
Não é exagero algum afirmar que muitos blogs destruíram factóides políticos criados com escopo de prejudicar a candidata Dilma Houssef e a proliferação dos mesmos facilitou o esclarecimento do eleitor, engajando-o melhor na disputa eleitoral.
Recentemente estão ocorrendo no Brasil os Encontros Estaduais de Blogueiros Progressistas, tais como em São Paulo e Rio de Janeiro, dentre outros, todos preparatórios para o Encontro Nacional que será sediado ainda este ano em Brasília. Tais encontros, propiciando a vivência e discussão entre os participantes da blogosfera em efervescência, além de promover enriquecidos debates e trazer importantes nomes do cenário, fortalece a categoria ao acenar para uma maior organização do grupo e tirar importantes conclusões de seus debates.
Nesse contexto a Bahia de Glauber Rocha não poderia estar de fora. Assim, nos dias 10 e 11 de Junho, os Blogueiros Progressistas da Bahia estarão reunidos discutindo temas de ampla importância como a democratização da mídia e a banda larga e trocando idéias, sonhos, singularidades sobre tudo que permeia a realidade da blogosfera na Bahia. Desse amplo debate que versa sobre tema ainda novo, nenhum blogueiro progressista deve abrir mão. É a oportunidade de lançarmos nosso canto para que seja ouvido e de unirmos nossa força para que tenha amplidão!

Alyne Costa
18/05/11

Sunday, May 15, 2011

A Vida



Meu gato senta em meu colo e sussurra:
-A vida é curta...
O barulho da motocicleta sugere:
-A vida é ritmo...
O japonês do balcão segreda:
-A vida é lânguida.
No velho rádio Gonzaguinha ainda canta:
“O que é o que é, meu irmão?”
A amiga obstinada chora:
-A vida é o choro do filho que eu não pari!
O irmão diz:
-Relaxe...
O poema de Drummond decreta:
“-A vida é breve e o amor mais breve ainda.”
Mas meu coração...
Ai, esse tolo, sem assunto, sem atenção, grita aos meus ouvidos:
A vida é ele!

Alyne Costa

Friday, May 13, 2011

O Amor Sem Bordas



E eu aprendi a amar um amor sem bordas. E tenho a sensação estranha de que eu não deva desistir. Absurdo ver o amor derramando numa imensa vontade de ser una. Una com essa manhã cinza de um frio fora de tempo. Una com essa vontade de ter a pele dele. ( O absurdo é tão somente o que não aceita um desafio? É apenas aceitar a regra imposta? Como se o dito fosse um rito... O absurdo é não poder mais amar; ) Una com uma vivência mais natural. Una com toda a natureza, com a paz e com a autenticidade de reagir. ( Mas ele é apenas um menino de 21 anos que eu aprendi a amar loucamente, amar cada suspiro dele e cada minuto dessa ausência insana. ).
Não há coerência na paixão. Eis sua razão de ser. Mas no amor tudo é coerência, tudo é de uma harmonia sublime. O amor sem bordas sabe não ter rumo certo, sua coerência está na imprecisão, mas ainda assim ele é fértil, manso, quase caipira. E de tão frágil e ao mesmo tempo intenso, vai construindo teias. Relendo antigos versos. Ouvindo as canções mais tolas. Tecendo o fio da vida como um processador de novas formas de viver. O amor sem bordas não teme. Não tem muita razão, pois não é mesmo pra ter. É essencialmente uma explosão de ser. E de repente o dia amanheceu.
Caminha pelos cantos, sobe pelas paredes, chora de saudade e emudece. Dias e dias vazios. É amor de quem amadureceu e não perdeu a inocência. De quem morre se perdê-la. Porque pressuposto básico do amor sem bordas é não esperar nada em troca, mas esperar... Esperar... O amor sem bordas não tem pressa alguma. Quer estar junto sem invadir, dividir. Ouve as canções da infância. Invade a casa do vizinho, toma um café. Está na sala de aula. Morre de rir. Estoura a espinha da terra. Quebra o espelho. Amaldiçoa e se arrepende. O amor sem bordas é eternamente adolescente e quase ancião de tão sábio. ( E, de repente: Ele não tem nada a ver comigo. Somos de mundos diferentes. Ai, que coisa mais paradoxal. As vezes ele está tão estranho. Hoje mesmo ele entrou e nem falou comigo. Zorra, nem gravou o número novo do meu telefone. Também... Quando ele nasceu eu já sabia ler... Ah, ele ainda é um menino de 21 anos. )
Mas o amor sem bordas é dissimulado... Fala que ama, mas não diz. Faz parte de sua magia querer ser lido nas entrelinhas. E inaugura então o idioma do sorriso. O amor sem bordas diz “eu te amo” quando ri. Então para entender o amor sem bordas alguém terá que saber ler sorrisos? Não, você pode também não entender. Ele não faz a mínima questão de ser entendido. Ele é poliglota! Fala em tatibitate também. Não que ele não tenha seu orgulho, tem sim, ora, sendo sua razão amar, o amor sem bordas quer ser reconhecido sim, ter seus minutos de fama no brilho do olhar de quem o captou.
É como um golfinho. Belo e escorregadio. Muito engraçado e adora criança. Mas esconde uma certa tristeza sim... Lá num cantinho da alma de quem ama o amor sem bordas há uma tristeza distraída ( e que fique assim por muito tempo! ) E, de repente, a gente se percebe mais paciente e calmo. Mais assíduo. Mais responsável. Bem mais cidadão. A gente se percebe mais inteiro. Feliz como golfinho e não como gente.
O amor sem bordas embora ressoe em todo coração que encontre, é egoísta, ama primeiro a si mesmo. O amor sem bordas sabe que é a única forma de amar, mesmo assim, deixa os meninos brincarem dizendo que amam; é tão bonito ouvir falar de amor... Mas eu ainda não me declarei ( ou já? ). Isto não faz nenhuma diferença. Não vou deixar de amar.
O amor sem bordas morre de medo de dar certo. Ele sabe que é correspondido, só não quer admitir. Tão simplesinho. E vai assim... Passando dias e dias. O amor sem bordas não quer nunca acabar. ( Eu adoro o jeito dele falar, amo cada monossílabo, cada respiração...) Quem pode imaginar o quantum do amor sem bordas? Quase uma heresia...
O amor sem bordas acredita no poder da palavra. É como um senhor alto, magro, de chapéu e um bocado de idealismo, sempre com uma frase gentil... O amor sem bordas é a cara de Gentileza! É também um adolescente de boné que rabisca versos no caderno que jamais teve coragem de mostrar para a menina de óculos ocultando os olhos, agasalho escondendo o corpo e tantos outros versos que jamais teve coragem de mostrar para o adolescente de boné.
O amor sem bordas ama sem olhar para os lados, pois não se importa de ser visto, embora a miopia reinante lhe permita certa clandestinidade. O amor sem bordas fala palavras obscenas. Ele desconhece tabus.
Não que seja vanguardista. De fato, é um conservador. Estabelece uma nova ordem para sempre insubstituível: Amar sem bordas. Daí emana seu aspecto revolucionário... Nada será como foi. ( Mas eu preciso levantar agora.... Lá fora cai uma chuva forte e tão escuro está o céu, que eu quero ver a chuva, costurar no tempo, imaginando como seria ele aos dez anos de idade chateado por uma chuva como esta lhe impedir de ir jogar futebol. E dormir um bom pedaço do dia também.

Alyne Costa
Março de 2001

Monday, May 09, 2011

Hora de Um Café



E uma absurda felicidade me invadira com o frio daquela manhã. Morava no cinza daquelas nuvens. No rádio que alternava notícias e canções que eu não dava muita importância porque fazia um absurdo silêncio em mim...
E enquanto o silêncio reinava eu sentia fome e tive vontade de um café que não veio porque eu tinha preguiça de me desgrudar da coberta. Queria abraçá-la assim pelo resto do dia, deixando na mente reinar fantasia.
O telefone tocou, mas quando atendi a ligação caiu e não havia como retornar porque era um número não identificado e nada importava porque eu também não me lembrava qual era a data nem que dia da semana. Não tinha mesmo nenhum compromisso.
E nem mesmo aquela preguiça e sua felicidade eu precisava identificar porque nenhuma palavra a traduziria, talvez alguma canção, um hino ou recordação de infância...
E entre tanto dormir e acordar eu acabei sonhando com maçãs do amor coloridas o que me trouxe de novo uma fome diferente de nada que existia na cozinha.
Era uma espécie de orgasmo sem macho, de parto sem filho e nem se pode chamar de felicidade clandestina porque de tão legítima eu me dava alforria.
O rádio insistia em aumentar os devaneios quando tocou o interfone e o homem do gás me lembrou que já era mesmo hora de um café.
Alyne Costa
9/05/11

Thursday, May 05, 2011

Trilha do Poeta


Foto retirada do Blog http://malucosevagabundos.blogspot.com

O caminho do poeta é trilha repleta de incerteza.
E vem recheado de tristeza.
E lágrimas do coração.
É um caminho de quem vai sozinho levando no peito a multidão.
E um caminho que sonha o sonho de toda gente.
De ver mundo diferente, fim de guerras e escravidão.
Um sonho que vara a madrugada por aquele que segura a enxada...
E mata a fome da nação.
O caminho do poeta é rio em correnteza...
E querer fartura na mesa de cada um seu irmão.
É ver poesia na alfabetização.
O caminho por poeta vai por tortuosas ruas.
Segue em alamedas nuas em busca de compreensão.
Com seu canto vagabundo sonhando em ver o mundo de uma vez dar as mãos.
Dirão uns que ele delira.
Dirão outros de nada valer tanta ilusão.
Mas em seu peito triste:
Um profundo amor resiste e do sonho não abre mão.

Alyne Costa
5/05/11

Monday, May 02, 2011

Sobra de Alegria


Anjo da Melodia, Acrílica sobre Canson, Alyne Costa, abril de 2011

Seu amor me encontraria mesmo se mudasse o endereço.
Inteira.
Ainda revirada ao avesso.
Mesmo arrombada a porta.
O sangue pulsando na aorta.
Esse querer que é meu ritmo sublime.
Já tem a fragância do meu perfume.
Já me arrancou as algemas.
Já queimou todos os meus poemas.
Eu já virei colibri.
Ganhei asas e parti.
Dancei entre outras flores.
Celebrei outros amores que não mais habitam em mim.
Cubro-me em noite fria com a colcha de retalhos da alegria.
Aquela que guardei pra mim.

Alyne Costa
2/05/11