Sunday, July 17, 2011

A visita



Ele não visitou minha rua esta manhã como há semanas costumava fazer, com seus passos largos que prolongavam a calçada.
Não ajudou as velhinhas a atravessarem as ruas com suas sobrinhas coloridas, cujos desenhos me roubavam a sensação de dia de chuva e me transportavam para dentro de suas casas como se me convidassem a tomar um chá e com ela iniciasse diálogos sobre tempos de normalistas, filhos doutores e novas faxineiras.
Não parou em frente ao jornaleiro para ler as manchetes e nem comprou um maço de cigarros. Por lá não passou...
Não brincou com as crianças que entravam e saíam nos braços e nas mãos de pais e mães nervosas da clínica de emergência infantil.
Não pegou a condução e não foi ao cinema. O vendedor de canetas coloridas continuava adentrando todos os ônibus oferecendo seus produtos, motoristas e cobradores também eram os mesmos, mas ele não estivera em nenhum assento.
Na missa das 17 horas na capela do hospital o capelão pregava para os mesmos fiéis seu sermão cheio de filosofia e senso de humor, mas nem a fé, nem a beleza das imagens angélicas que ornavam o altar até lá o conduziram.
Da janela cinza meus olhos pareciam atravessar a cidade em busca. Uma busca sem endereço e sem direção. Acompanhava os táxis que paravam numa esperança cega que por ali descesse.
Passei a contar os carros em cores, mas eram muito rápidos. Mudei para os transeuntes, mas àquela hora já eram raros. Resolvi deixar acesas todas as luzes da casa. Um sinal. Quando o barulho de automóveis foi desaparecendo, passei a alternar a visita a janela à varandinha e a esperança não morria parecia agarrada às folhas da jibóia.
Já estava quase adormecendo quando ouvi o barulho da campainha. Abri a porta e ele me segurou uma das mãos se dirigindo ao sofá onde deixou o seu corpo cansado cair.
Seus olhos aprofundaram-se nos meus e ele pediu:
- Deixe sempre as luzes e a esperança acesas para que o amor não se perca no caminho.
Apaixonada, adormeci.

Alyne Costa
17/07/11

Friday, July 08, 2011

Carimbos



Queria colecionar carimbos.
Não se irrite.
Não de palpite.
Não dê as caras.
É brincadeira.
Pura besteira.
Já basta.
Não ligue.
Por carta.
Por e-mail.
Inútil.
Perfeito.
Superficial.
Estreito.
Raso.
Profundo.
Oceano.
Mundo.

Alyne Costa 8/07/11