Sunday, August 28, 2011

Aprendendo Amar



Todos os domingos pela manhã ele vai à missa e me convida. Eu não consigo me levantar porque gosto muito de dormir até mais tarde...
Aí quando ele volta sempre traz flores e coloca do lado da cama. E essas flores, sempre as mesmas, já compõem a paisagem do meu domingo.
Ele faz milagres. Me cura, me salva, me afaga e me beija.
Eu sou distraída e tenho o desespero dos poetas.
O que machuca a ele dói demais em mim e eu desabo. Porque nessa comunhão de vida, eu pude então conhecer a força de um afeto.
Na minha desordem ele acha fotografias, um velho ponche que ganhei de meus tios na infância e me traz de volta o caminho.
Mora em mim uma tristeza latente que ele não compreende porque ele é pra fora e eu pra dentro...
Ela é discurso e eu silêncio.
Ele é meta e eu improviso.
Ele é mesa ornada aos domingos, eu bóia-fria...
Mas ele é aconchego e eu também...
Somos ternura, delicadeza.
Ele foi minha mega sena.
Ele me deu disciplina.
Ele está na minha fundação e eu lhe faço massagens com óleos perfumados para que ele me perdoe dos meus pecados.
E por enquanto eu aprendo amar...
Como quem começa a fazer poemas.

Para Tonga, 28/08/11
Alyne Costa

Saturday, August 13, 2011

Dona Culpa


Hoje amanheci com culpa.
Culpa porque ele pediu e eu tirei a roupa, aquela roupinha linda de dona de casa que você me deu...
Talvez tenha sido isso, a roupinha era confortável demais e eu gosto de asperezas.
Eu sei que você vai querer me colocar no colo e tirar de mim essa sensação ruim e certamente vai jogar toda culpa nele, mas não. A culpa é minha!
Não, ele não me tocou, não dessa vez...
E eu não permitiria que coisa alguma acontecesse, eu só queria mesmo tirar aquela roupinha de dona de casa em fino estilo.
Por isso acordei tão cedo...
Por isso não fiz o café...
Por isso eu disse te amo como quem pede desculpas.
Certa ocasião uma amiga comunista me disse que culpa era um sentimento burguês. Eu aboli culpa de minha vida.
Mas hoje ela veio toda saliente, sussurrando em meu ouvido:
-Traíra!
E eu confesso que temo não ter coragem de olhar aquela roupinha de novo, com suas florzinhas amáveis, seus delicados babadinhos. Roupinha de dona de casa assistir novela! E eu tirei para ele, poxa vida, quase um streap tease...
Não, não foi bem assim... Foi rapidinho! Quase uma espiadela.
E agora estou eu aqui, me entregando... Ouvindo Joana...
Se lembrar do passado, eu tenho um lenitivo, mas eu não posso sequer ter memória, a culpa não deixa.
Roupinha de dona de casa, era só o que me faltava...
Olhe Dona Culpa, acho bom a senhora procurar outra. Eu li Hilda Hilst! E cá pra nós a senhora não é minha, a senhora é dele! Tivesse ele me dado um saco de batatas fritas, o desfecho seria outro.

Alyne Costa
13/08/11