Sunday, October 30, 2011

Mosaico


Pieta


Penso em traduzir sentimentos.
Dores, silêncios, lamentos...
A vida? Desenho a giz.
Trago uma caderneta de aprendiz.
E assim me refaço.
Trago novas rugas num sótão de ausência.
Não quero regras.
Um catavento como referência.
Menos cismas e mais paciência.
Um bem-te-vi me acorda todas as manhãs.
Sem que eu perceba, meu coração se abre em festa.
Aparo as arestas.
Colo-me em mosaico de tons pastéis.
Intensa, me agarro nos momentos.
Guardo frases de recordação.
Um mapa mundi na palma da mão.
Por vezes navego na contramão do previsível.
E cochilo à sombra do irremediável.
Do sem costume.
Do sem jeito.
Do bem que sinto e guardo no meu peito.
Que se extravasa na amplidão do mar.

Alyne Costa

Friday, October 28, 2011

O Amor Sem Bordas



E eu aprendi a amar um amor sem bordas. E tenho a sensação estranha de que eu não deva desistir. Absurdo ver o amor derramando numa imensa vontade de ser una. Una com essa manhã cinza de um frio fora de tempo. Una com essa vontade de ter a pele dele. ( O absurdo é tão somente o que não aceita um desafio? É apenas aceitar a regra imposta? Como se o dito fosse um rito... O absurdo é não poder mais amar; ) Una com uma vivência mais natural. Una com toda a natureza, com a paz e com a autenticidade de reagir. ( Mas ele é apenas um menino de 21 anos que eu aprendi a amar loucamente, amar cada suspiro dele e cada minuto dessa ausência insana. ).
Não há coerência na paixão. Eis sua razão de ser. Mas no amor tudo é coerência, tudo é de uma harmonia sublime. O amor sem bordas sabe não ter rumo certo, sua coerência está na imprecisão, mas ainda assim ele é fértil, manso, quase caipira. E de tão frágil e ao mesmo tempo intenso, vai construindo teias. Relendo antigos versos. Ouvindo as canções mais tolas. Tecendo o fio da vida como um processador de novas formas de viver. O amor sem bordas não teme. Não tem muita razão, pois não é mesmo pra ter. É essencialmente uma explosão de ser. E de repente o dia amanheceu.
Caminha pelos cantos, sobe pelas paredes, chora de saudade e emudece. Dias e dias vazios. É amor de quem amadureceu e não perdeu a inocência. De quem morre se perdê-la. Porque pressuposto básico do amor sem bordas é não esperar nada em troca, mas esperar... Esperar... O amor sem bordas não tem pressa alguma. Quer estar junto sem invadir, dividir. Ouve as canções da infância. Invade a casa do vizinho, toma um café. Está na sala de aula. Morre de rir. Estoura a espinha da terra. Quebra o espelho. Amaldiçoa e se arrepende. O amor sem bordas é eternamente adolescente e quase ancião de tão sábio. ( E, de repente: Ele não tem nada a ver comigo. Somos de mundos diferentes. Ai, que coisa mais paradoxal. As vezes ele está tão estranho. Hoje mesmo ele entrou e nem falou comigo. Zorra, nem gravou o número novo do meu telefone. Também... Quando ele nasceu eu já sabia ler... Ah, ele ainda é um menino de 21 anos. )
Mas o amor sem bordas é dissimulado... Fala que ama, mas não diz. Faz parte de sua magia querer ser lido nas entrelinhas. E inaugura então o idioma do sorriso. O amor sem bordas diz “eu te amo” quando ri. Então para entender o amor sem bordas alguém terá que saber ler sorrisos? Não, você pode também não entender. Ele não faz a mínima questão de ser entendido. Ele é poliglota! Fala em tatibitate também. Não que ele não tenha seu orgulho, tem sim, ora, sendo sua razão amar, o amor sem bordas quer ser reconhecido sim, ter seus minutos de fama no brilho do olhar de quem o captou.
É como um golfinho. Belo e escorregadio. Muito engraçado e adora criança. Mas esconde uma certa tristeza sim... Lá num cantinho da alma de quem ama o amor sem bordas há uma tristeza distraída ( e que fique assim por muito tempo! ) E, de repente, a gente se percebe mais paciente e calmo. Mais assíduo. Mais responsável. Bem mais cidadão. A gente se percebe mais inteiro. Feliz como golfinho e não como gente.
O amor sem bordas embora ressoe em todo coração que encontre, é egoísta, ama primeiro a si mesmo. O amor sem bordas sabe que é a única forma de amar, mesmo assim, deixa os meninos brincarem dizendo que amam; é tão bonito ouvir falar de amor... Mas eu ainda não me declarei ( ou já? ). Isto não faz nenhuma diferença. Não vou deixar de amar.
O amor sem bordas morre de medo de dar certo. Ele sabe que é correspondido, só não quer admitir. Tão simplesinho. E vai assim... Passando dias e dias. O amor sem bordas não quer nunca acabar. ( Eu adoro o jeito dele falar, amo cada monossílabo, cada respiração...) Quem pode imaginar o quantum do amor sem bordas? Quase uma heresia...
O amor sem bordas acredita no poder da palavra. É como um senhor alto, magro, de chapéu e um bocado de idealismo, sempre com uma frase gentil... O amor sem bordas é a cara de Gentileza! É também um adolescente de boné que rabisca versos no caderno que jamais teve coragem de mostrar para a menina de óculos ocultando os olhos, agasalho escondendo o corpo e tantos outros versos que jamais teve coragem de mostrar para o adolescente de boné.
O amor sem bordas ama sem olhar para os lados, pois não se importa de ser visto, embora a miopia reinante lhe permita certa clandestinidade. O amor sem bordas fala palavras obscenas. Ele desconhece tabus.
Não que seja vanguardista. De fato, é um conservador. Estabelece uma nova ordem para sempre insubstituível: Amar sem bordas. Daí emana seu aspecto revolucionário... Nada será como foi. ( Mas eu preciso levantar agora.... Lá fora cai uma chuva forte e tão escuro está o céu, que eu quero ver a chuva, costurar no tempo, imaginando como seria ele aos dez anos de idade chateado por uma chuva como esta lhe impedir de ir jogar futebol. E dormir um bom pedaço do dia também.

Alyne Costa

Friday, October 07, 2011

Eu sei...



Tava querendo brincar de brincadinho.....
Eu, assim, de amor assustadinho...
De saci pererê,
Eu atrás de você!
De mula-sem-cabeça:
Você quando der, apareça!
Mas vc resolveu morar em meus lençóis.
Formar em minha mente uns nós!
E eu que sou gente que sente,
Gente, sabe, assim, meio diferente...
Resolvi fugir dos seus laços.
Guardando horas pros teus abraços.
Eu: Guardo um mundo pra ti!
Eu que sou o seu bem-te-vi!
Que sempre sobrevivi!
Que nunca de amor morri...
E você me leva pra Pós...
Eu meto isca nos anzóis...
Eu arremato o algoz.
Sou fera e caçador.
Sou fêmea pra toda dor.
Eu sei parir sem chorar.
Eu sei sorrir sem flutuar.
Eu sei amar sem chorar.
Sim...
Eu sei!

Alyne Costa, 8/10/11