Wednesday, November 23, 2011

Lições do Desconnforto




Uma vez ou outra na vida nos deparamos com o desconforto. Seja ele proveniente de uma dúvida, uma quimera, uma dor física que desconhecemos a origem, uma dor na alma proveniente da sensação de não termos tomado o rumo certo.
Nos sentimos meio perdidos na vida, no desconforto da insegurança. Não vemos borboletas, apenas traças que rapidamente destroem as névoas de lembranças boas, de dias felizes e de esperança.
E, assim, como quem quebra um osso precisa de ortopedia para superar a dor, necessitamos com urgência ir em busca do nosso nicho, o nosso grande tesouro interior.
Um banho quente, uma roupa macia, uma música bela, um por do sol...
Uma viagem real ou de sonhos.
Lembranças de amigos, reais ou imaginários.
Rever aquele filme que tanto gostamos.
Entrar em contato com nosso próprio templo e fazermos uma prece.
Esquecermos um pouco o rigor e assumir uma postura mais flexível e nos perdoarmos intimamente por maior que tenha sido a burrada porque vida é processo contínuo de aprendizados e recomeços e como é confortável ter fé.
“Fé na vida, fé no homem, fé no que vier” e assim com o pulmão repleto de ar, deixarmos a alma chorar e como um rio lavar a nossa própria falta de compreensão de razão de vida.
Lembrarmos de uma história contada na infância e buscar pela sobrevivência de nossa identidade os nossos sonhos que se foram, despedaçados pelo caminho.
Confortável é o peito que vibra de amor e perdão por beijo de filho, colo de mãe e saudade de pai.

Alyne Costa, 23/11/2011

Saturday, November 05, 2011

Resgate



Você me amordaça e me tira a graça...
Depõe contra mim.
Me estilhaça.
Me joga no chão e tripudeia.
Como se não tivesse nem sangue na veia.
Me cobra dobrado o bem que pensa que me fez.
E eu que não sou dama de um baralho.
Te deixo jogar sozinho.
Me escolhe as vestes, os meios e os fins.
E meu grito oprimido é meu silêncio vendido em módicas prestações.
Um silêncio que ninguém entende nem quer entender.
Um silêncio de mulher que sabe que na hora certa vai vencer.
E enquanto você fala para uma palestra invisível eu finjo que não vejo.
Eu finjo que beijo.
Eu finjo que não sei.
E nesse patins sem rodas eu desfilo pela vida.
Deixo que me joguem pedras.
Deixo que me condenem sem contraditório.
Calada, deixo morrer a poesia.
Calada, tremo em face ao abismo.
Calada, eu já nem cismo.
Mas ainda há amor.
Um amor que vinga e adormece embora acompanhe sua pasta de notas fiscais...
Seus telefonemas em código.
Suas fugas para além do cais.
Já não tenho medo porque guardo um segredo.
Falo em dialeto cigano, da vida que, por engano, insiste em sobreviver.
Resgato sorrisos...
Fico só observando as mudas gravuras na parede.
A mulher sem terra se envergonha de mim.
É que eu não sei ser assim tão única.
Eu sou várias.
E às vezes me dispo pra um varão invisível que pagará meu resgate.
E me levará de volta ao templo de sonhos.
Povoado de anjos de vários tamanhos.
Onde meu sorriso se descortinará!

Alyne Costa
5/11/2011