Monday, January 24, 2011

Amália, Dilma e a Janela


Tava cansada de olhar para aquela janela. Aquela mulher pálida e aquela cicatriz q eu via à distância e minhas brincadeiras de adivinhações.
O que foi isto?
O que terá sido?
Acidente?
Facada?
Assalto?
Marido ciumento?
Amante do marido?
E ela lá... Devia ter também seu enredo para minha vida. Devia saber de cor as cores das minhas calçolas. Minhas intimidades todas. Se assistisse novela, capaz de ter um imaginário bem fértil que lhe desse asas de me achar qualquer coisa: puta, sapatão, maconheira, traficante, e bota coisa no imaginário dela!
O adesivo de Dilma na janela me denunciava.
Deve já ter feito três abortos.
Ainda lembro o dia que me viu voltar da missa e o olhar escandalizado:
-Na missa?!?!
-Sim, na missa, lá na capela...
Olhou-me fixamente e deslizou os olhos pela vestimenta de meu companheiro, como se ganhando fôlego para, enfim, afirmar:
-Padre Napoleão não gosta da Dilma!
-É, eu sei, mas Jesus gosta!
Olhou, meio tensa, procurando conversa pra puxar e eu doida pra saber da cicatriz...
Não agüentei e acendi um cigarro, ainda com o gosto de hóstia na boca. Estava em jejum.
-Você fuma demais. Olha, perdi meu marido assim. Fumava que nem um capeta. Até que um dia não levantou mais. E eu fiquei aqui ao Deus dará, nem pensão recebo...
Pela fresta da porta vi que ela possuía um belíssimo oratório e tive vontade ver...
Pedi água.
Mas não chegou sequer a abrir a porta.
Meio tímida balbuciou:
-Você entende de pensão? De aposentadoria?
Eu que não estudei previdenciário na Universidade só lembrei de Alan. Ai, Alan, você sempre me salva nessas horas...
-Nâo, mas tenho um amigo que entende e muito. Ele trabalha no INSS.
-Será que você não pode me ajudar na minha pensão. Eu também vou votar na Dilma. Acho uma bobagem essas coisas que estão falando dela.
-Sâo, bobagens mesmo! Misturam política com religião, virou um sarapatel...
-Você gosta de sarapatel?
-Eu adoro sarapatel!
-Almoça aqui hoje!
E sarapatel pra cá, cerveja pra lá, Dilminha 13, pensões do INSS, descobri que a cicatriz foi um acidente de infância...
O papo rolou até às 22 h da noite.
Dona Amália virou a maior Dilmista, tal qual Jesus gostaria que o fosse!


Alyne Costa
Janeiro de 2011

Saturday, January 22, 2011

Façamos amor, mas façamos arte!



Volpi


O contato do ser humano com uma obra de arte, faz emergir um novo ser. Ninguém é intangível à arte em suas diversificadas formas de manifestação.

Não é vista apenas pelo olhar, mas pelos sentidos, captada, ainda que indiscernível, abre fendas, labaredas em todos que com ela se deparam. Cegos, crianças, fanáticos, "loucos", "mutilados morais", se o olho vê a arte, vai além.

Segundo o artista plástico Almandrade: "a arte produz efeitos imprevisíveis e é preciso entende-la sem descreve-la". E quem se atreveria a equacionar o seu alcance? A obra de arte transbora a pré-intenção do artista, reflete no espectador, transformando-o num homem novo. Quantas vezes não mudamos, não alteramos as nossas perspectivas perante relacionamentos e fatos após ouvirmos uma canção? E a mesma canção pode nos trazer leituras diferentes acerca da mesma realidade.

Não pretendendo adentrar no "mito da incompreensibilidade" da arte e sim a necessidade de utiliza-la como fato social propulsor de uma nova ordem: Se o homem muda com a arte, esta transforma o mundo!

O mundo moderno e suas neuroses tem na arte a sua mais sadia forma de profilaxia. Todos nós precisamos de angústias, crises existenciais, temores e fobias. Precisamos tanto que às vezes criamos problemas onde não existem. Precisamos de uma certa dose de loucura para que a vida não se torne morna ou sem sentido. Sem sofrimento qual paixão humana nos afundaria para que aprendêssemos a voltar à superfície novos, experientes, mais ternos e mais humanos?

Assim, amados, consumam menos drogas e mais arte!

"Poetas, seresteiros, cancioneiros, ouvis..."

A arte é a veia aberta da verdadeira revolução. E o artista? É todo aquele que aprendeu que a criatividade, da Ecologia à Bio-Medicina é a grande "sacada" para a nossa convivência "sustentável".

Segundo Miguel Torga: "De quantos ofícios há no mundo, o mais belo e o mais trágico é o de criar arte. É ele o único onde um dia não pode ser igual ao que passou. O artista tem uma condenação. E o dom de nunca poder automatizar a mão, o gosto, a enxada. Quando deixar de descobrir, de sofrer a dúvida, de caminhar na incerteza e no desespero, está perdido."
Assim, somos neuróticos, desesperados, sedentos de coisas novas, apavorados, inseguros, mas duvidamos. Sim, duvidamos! E alguém se lembra de que mesmo a dúvida é o preço?

Portanto, amados, não somos canhões, somos canários...

E façamos carinhos com nossos cantos, façamos amor com a intensidade dos nossos desejos, mas façamos arte com nosso suor!

Alyne Costa

Monday, January 10, 2011

Coral de Carolina



Haveria debruçada em alguma janela Carolina como ela?
Carol mais Carolina que aquela?
Fez do mundo sua janela e pulando fora dela criou nossa primavera...
Arde em Carolina a beleza da sã rebeldia
De quem veio para o mundo pra fazer estripulia
Vestindo de sabores sua fantasia
Alcança como quem dança a arte da sabedoria

Pára a natureza no olhar de Carolina
Onda do mar, mergulho de piscina
Suco de caju, beijo na surdina

Carolina temperança, tempestade e confusão
Carolina a vida ensina a ter mais compaixão
Pois o dia em teu sorriso arrebata um coração
Carolina flor menina adolescendo com paixão

Carolina que rastafarizou sua trança
Carolina que balançou o surfista na prancha
Saiu do colégio pela contra-mão
Fugiu do mudinho lá da Cruz da Redenção

Carol, caroca, cocora
Pula qual pipoca
Carol do Acupe, da gameleira, de itacimirim
Mas sempre Loly, coca-cola com quindim.

Alyne Costa