Friday, March 16, 2012

O Palco



Sentada nesse palco escuro
Me visitam a lua e um poema de Pessoa
Me cobram versos que sumiram
Me cobram a força que adormece entre almofadas coloridas
Sobrevivo, embora abertas tantas feridas
O sonho de ontem a noite ainda me bate à porta
A Assinatura, com letra trêmula e torta
Os doces olhos da morte se aproximam
E não os temo
Recebo-os como um doce mistério
Que tudo é breve, menos a poesia
E ela abraça o grito de liberdade
Meu compromisso maior
A minha amiga não tem tempo
Políticos não têm tempo
Juristas não têm tempo
Só a arte tem tempo pra mudar os rumos
E me abando sobre o leito de um rio
Uma gaita ensaia meu poema inédito
A minha bandeira vibra um grito: Liberdade!
Beija-flores me sobrevoam feito anjos.
E minha poesia parece sorrir.
Lê um poema de Espanca e encontra eco.
Meu vício vem desde antes eu nascer.
A solidão é minha guia e companheira
Pela vida afora
Pela vida inteira
Minha greve de fome não saiu nos jornais
Fujo dos noticiários da TV
Meu pecado adormece como pétalas de rosa da bíblia de meu pai
Passeia sobre as preces de minha mãe
E ainda sou a mesma menina insone cortando papel com tesourinha
Sou o assombro da casa escura
A maldição que não se completou
A loucura histeria acima da razão
A poesia que se transmuta em pão
O sonho que se rende ao amor.
Restaram as rugas e o livro de receitas
E uma dor emudecida
A minha greve de fome não foi anunciada
Nem sua causa
Nem seu quinhão
Restaram apenas o palco e o nada
Abençoados na escuridão.

Alyne Costa
16/03/2012