Saturday, December 14, 2013

A Pele



Ainda sangra a pele exposta
Pele que não me pertence
O sol é o alimento primeiro
As seivas, sustentáculo
Atravessa meu peito um gemido
Sou colorida bastante
Tenho um certo ar de felicidade
O coração já não é o mesmo
Acelerado com a cidade
Agora hei de ter cuidado
Hei de bailar nua nos abismos
Ouvir conselhos e fazer preces
Oração, meu agradecimento
Já que não sou só lamento
Quero pular carnaval!

Alyne Costa 10/12/13

Wednesday, November 27, 2013

Já Não Sou Sozinha

No horizonte da insensatez
Assisto muda ao desfile do caos
E uma multidão multiplica-se em mim
Mitos, lendas, contos de fadas
Eu já não sou sozinha
E se encontro no amor um abrigo
Por vezes nele também encontrou seus avessos
Meus dentes roem ossos
Minhas pernas tremem
Minha capacidade é relativa
Enfrento mares tenebrosos
Engasgo com um grão de farinha
Sou pródiga e rica em esperança
E no meu do turbilhão uma dança
- Eu já não sou sozinha.


Alyne Costa, 26/11/13

Monday, November 25, 2013

Tia Avó


Ela parece um anjo
Com seus terços encantados
Uma lucidez que guia
Os netos apaixonados
Lê cordel, reza novena
Novela nõ assiste porque fez promessa
É serelepe, de riso e lágrimas fáceis
A gente chega perto dela e não quer mais sair
Uma história emendada na outra
Lembranças dos ancestrais
Pombinhas visitam sua varanda
Porque a casa é abençoada
Mãe, Tia, Vó, Tia Avó.
Todos querem seu aconchego
Me deu de presente o ofício de Nossa Senhora
Que hoje eu já sei decorado
Tia Helena deixa na gente um sabor de quero mais:
Quero mais missa
Quero mais palavras
Quero mais lelê
Quero mais Helenita
Pro mundo inteiro saber.

Para Tia Helena,

Alyne Costa, 23/11/13

Tuesday, November 19, 2013

Pecado



Klimt



Apenas no breu da noite aceito o meu desejo.
Carne...
Fibra...
Cais...
Penso nas coisas boas que você me traz:
Verbo, olhar, ciúme.
A minha vida sempre teve um lado obscuro.
Sempre me visitaram pensamentos proibidos.
É que sou assim:
Desajeitada.
Desajustada.
Desnudada.
Busco uma palavra para findar o poema, ela some.
No espelho e me vejo linda.
No varal as roupas alvas descansam.
Se alguma nódoa ficou foi a do meu pecado.

Alyne Costa
18/11/13

Saturday, November 02, 2013

Caderno de Confidências

Andando pela avenida, vejo vitrines...
Anúncios de espionagem na banca de jornal.
Cadelinhas passeando com lacinhos...
Acompanhadas de madames.
Eu sai sem batom e nem olhei pro espelho.
Devo estar medonha, uma bruxa.
Olho pros lados e avisto velhinhos sentados num banco de praça.
O que povoa suas mentes?
Vagas recordações, saudades mornas.
O mundo moderno é uma aspirina.
Sinto saudades dos antigos cadernos de confidências.
Lá deixava meus gostos e segredos adolescentes.
A infância passou...
A adolescência passou...
A juventude está deitada numa cama de hospital.
E eu apenas perdi o medo.
E me sinto viva.
Com o amor que ele me deu no café da amanhã.

Alyne Costa

2/11/13

Saturday, October 19, 2013

A Mulher Que Guardo em Mim

Arte by Henrri Matisse- Tristeza do Rei


Guardo em mim a fúria das tempestades
E na minha gaveta papéis coloridos me trazem de volta a infância
Cachorros correndo pelo varandal...
Uma alegria ímpar invadia o ser que nascia.
A esperança me vigiava as noites.
E uma cigana me cantava canções de ninar.
A Vó na cozinha preparava uma couve.
As minhas bochechas borradas de feijão davam o sabor da vida.
Saia pra passear nos ombros de meu pai com sua cabeleira exposta.
Pai, teu nome é saudade.
E das lembranças boas restam as canções no violão.
Versos ecléticos invadiam de luz o apartamento 1002.
E saíamos a caminhar pelas ruas conversando com os gringos em alemão.
Guardo em mim também a calmaria das hortaliças em ordem.
Guardo em mim a mãe meio tonta que ama o filho e só sabe amar.
Guardo em mim uma mulher que ainda não conheço.
Que tem gostos esquisitos e uma força estranha na hora da dor.
Guardo em mim uma amante trêmula, que ser carne e ser verbo é também ser mulher.
Tão longe da infância, mas que ainda aguarda as primeiras lições na lousa do giz.



Alyne Costa,

19/10/13

Cantiga de Mãe



A luz dos teus olhos é brilhante e viva
Tens a força do gigante
A claridade da lua reflete em tua face
O que sonhas?
O que temes?
Se teu destino é ser feliz?
Traz no peito a rebeldia dos ventos em furacão.
Mas não, não gritas ao absurdo.
Gritas as tuas verdades encontradas nos labirintos da vida
Ainda ontem sonhei que cavalgavas
Soldado armado de escudo e lança
Enfrentavas o escuro da noite e das matas
E o dia amanhecia e já não via teu rosto
Já eras um homem metade corsário
O meu amor por ti vela tua febre
Na certeza que os filhos são sempre os filhos
Em busca de um ninho de passarinho
Do acalanto de mãe
As tuas lágrimas me são um punhal
Se não sei porque choras...
Guardo no meu peito o que não sei.
E me silencio para apenas te amar.
Um amor que navega contigo e segue todos os teus passos.
Um amor de manhã que desbrava a madrugada,
Para Victor

Alyne Costa, 19/10/13

Friday, October 18, 2013




Crepúsculo

A minha essência é latente.
Sou flor e sou raiz.
Bailarina e atriz.
Trago cicatrizes profundas na alma que ainda moça chora.
O meu sexo se arde em labaredas no crepúsculo das horas.
E na fogueira das minhas vaidades ainda guardo o lenço perfumado.
O lençol bordado.
Não tenho jeito para passar roupa.
Mas sou mulher que gosta de inventar temperos e bater panelas.
Assim oblitero meus desesperos...
Enquanto no velho rádio ainda toca aquela nossa canção de amor.

Para Tonga,
Alyne Costa, 18/10/13

Wednesday, October 09, 2013

A força

Tenho a força das rochas escupidas pelos ventos.
Que se transformam na areia que margeia os oceanos.
As minhas dores me edificaram.
E tudo passou...
Acredito no milagre a cada nova manhã.
Tenho a força da chuva que molha a terra.
E fecunda a semente do novo ser que emerge.
Choro...
Rio...
Canto...
Oro...
Danço...
Amo...
E anuncio...
Um tempo novo de paz que envolverá a Terra.
Tenho a força e a flexibilidade.
Sou carinho e amizade.
Sou um sonho que não tem fim.

Alyne Costa, 8/10/13


Monday, July 01, 2013

Aquarela


Acredito em dias cheios de luz
E se adormeço amanheço nova
Coberta de flores
Plena de amores
Acredito em dias azuis e num arco-íris perto do por do sol...
Ali deponho meus segredos...
Sepulto meus medos...
Renasço colorida e cheia de vida.
Dias azuis e absurdo lilás.
A cor da vida menina é amarela?
Pinte uma aquarela.


Alyne Costa 1/07/2013


Friday, June 28, 2013

Nova Manhã



O meu verso não se veste em solidão
Dança ciranda com tantos outros
Parece ter agora acordado
Mas apenas estava preso a velhos grilhões
Agora berra num desfile cívico
Onde se ouve o grito de seus irmãos
O meu verso não passeia na praça
Não teme ser calado à força
Nem a forca, nem a escravidão
O meu verso sente fome e frio
Pega filas, respeita o sinal
Percorre por grandes avenidas
Mas não está perdido
Paga imposto
E ouve o alarido da multidão
O meu verso é uma criança que brinca
E brinda a esperança de uma nova manhã.

Alyne Costa

29/06/2013

Wednesday, June 12, 2013

Urgência

Nada é mais urgente que o amor.

Alyne Costa, 12/06/13


Thursday, June 06, 2013

Toda Sorte do Mundo

Tenho a cor dos que choram
Dos que se despem, dos que adormecem...
Tenho a voz dos que não gritaram
Ficaram a esmo ou viram pela televisão...
Tenho versos guardados dentro da manga
Com cheiro de frutas maduras e sabor de solidão...
Tenho toda a sorte do mundo:
Alguns pra chamar de amigo.


Alyne Costa 7/06/2013

                                                                          Imagem: Beto Barreiros

Sunday, June 02, 2013

Víbora

Emudeces o grito preso na garganta.
Omites a fêmea que pulsa em minhas veias.
Em vez de louca me faz casta e santa.
Uma estrada reta quando em mim percorrem sinuosas curvas.
Tantos abismos sobre meus ais e beiras.
Uma feiúra me assombra.
Nada me resta da bailarina e atriz.
Sobre a escrivaninha apenas a poeira do tempo, meu alento.
Meus versos emudeceram de tristeza.
A poesia me preenche as tardes fazendo descaso da solidão.
Meus passos outrora trôpegos retornaram firmes.
Sou mulher e comando astronaves coloridas.
Sobrevôo fogueiras e contradições.
Sou o sorriso do sim.
A lágrima do não.
Sou a ponte e o alçapão.
A primavera e o verão.
Sou ainda a velha embriagada.
A bruxa sagrada.
Sou a menina e sua caixa de lápis de cor.
Sou verme, víbora, açoite.
Sou o que fui e onde não vou.


Alyne Costa, 24/01/2013


Friday, May 31, 2013

Tapete Voador

No desabrigo em mim
Habita uma menina
Perdida num mundo de “ses”
Colecionando desatinos num pequeno caderno decorado
Um aro de flores desaba sobre sua alma
Frondosas copas verdes lhes trazem esperança
De permanecer criança
Acena um lenço para as tristezas de véspera
Pés no chão e mente nas estrelas
Pede apenas um tapete que voe!

Alyne Costa


30/06/2012