Saturday, October 19, 2013

A Mulher Que Guardo em Mim

Arte by Henrri Matisse- Tristeza do Rei


Guardo em mim a fúria das tempestades
E na minha gaveta papéis coloridos me trazem de volta a infância
Cachorros correndo pelo varandal...
Uma alegria ímpar invadia o ser que nascia.
A esperança me vigiava as noites.
E uma cigana me cantava canções de ninar.
A Vó na cozinha preparava uma couve.
As minhas bochechas borradas de feijão davam o sabor da vida.
Saia pra passear nos ombros de meu pai com sua cabeleira exposta.
Pai, teu nome é saudade.
E das lembranças boas restam as canções no violão.
Versos ecléticos invadiam de luz o apartamento 1002.
E saíamos a caminhar pelas ruas conversando com os gringos em alemão.
Guardo em mim também a calmaria das hortaliças em ordem.
Guardo em mim a mãe meio tonta que ama o filho e só sabe amar.
Guardo em mim uma mulher que ainda não conheço.
Que tem gostos esquisitos e uma força estranha na hora da dor.
Guardo em mim uma amante trêmula, que ser carne e ser verbo é também ser mulher.
Tão longe da infância, mas que ainda aguarda as primeiras lições na lousa do giz.



Alyne Costa,

19/10/13

Cantiga de Mãe



A luz dos teus olhos é brilhante e viva
Tens a força do gigante
A claridade da lua reflete em tua face
O que sonhas?
O que temes?
Se teu destino é ser feliz?
Traz no peito a rebeldia dos ventos em furacão.
Mas não, não gritas ao absurdo.
Gritas as tuas verdades encontradas nos labirintos da vida
Ainda ontem sonhei que cavalgavas
Soldado armado de escudo e lança
Enfrentavas o escuro da noite e das matas
E o dia amanhecia e já não via teu rosto
Já eras um homem metade corsário
O meu amor por ti vela tua febre
Na certeza que os filhos são sempre os filhos
Em busca de um ninho de passarinho
Do acalanto de mãe
As tuas lágrimas me são um punhal
Se não sei porque choras...
Guardo no meu peito o que não sei.
E me silencio para apenas te amar.
Um amor que navega contigo e segue todos os teus passos.
Um amor de manhã que desbrava a madrugada,
Para Victor

Alyne Costa, 19/10/13

Friday, October 18, 2013




Crepúsculo

A minha essência é latente.
Sou flor e sou raiz.
Bailarina e atriz.
Trago cicatrizes profundas na alma que ainda moça chora.
O meu sexo se arde em labaredas no crepúsculo das horas.
E na fogueira das minhas vaidades ainda guardo o lenço perfumado.
O lençol bordado.
Não tenho jeito para passar roupa.
Mas sou mulher que gosta de inventar temperos e bater panelas.
Assim oblitero meus desesperos...
Enquanto no velho rádio ainda toca aquela nossa canção de amor.

Para Tonga,
Alyne Costa, 18/10/13

Wednesday, October 09, 2013

A força

Tenho a força das rochas escupidas pelos ventos.
Que se transformam na areia que margeia os oceanos.
As minhas dores me edificaram.
E tudo passou...
Acredito no milagre a cada nova manhã.
Tenho a força da chuva que molha a terra.
E fecunda a semente do novo ser que emerge.
Choro...
Rio...
Canto...
Oro...
Danço...
Amo...
E anuncio...
Um tempo novo de paz que envolverá a Terra.
Tenho a força e a flexibilidade.
Sou carinho e amizade.
Sou um sonho que não tem fim.

Alyne Costa, 8/10/13