Wednesday, November 27, 2013

Já Não Sou Sozinha

No horizonte da insensatez
Assisto muda ao desfile do caos
E uma multidão multiplica-se em mim
Mitos, lendas, contos de fadas
Eu já não sou sozinha
E se encontro no amor um abrigo
Por vezes nele também encontrou seus avessos
Meus dentes roem ossos
Minhas pernas tremem
Minha capacidade é relativa
Enfrento mares tenebrosos
Engasgo com um grão de farinha
Sou pródiga e rica em esperança
E no meu do turbilhão uma dança
- Eu já não sou sozinha.


Alyne Costa, 26/11/13

Monday, November 25, 2013

Tia Avó


Ela parece um anjo
Com seus terços encantados
Uma lucidez que guia
Os netos apaixonados
Lê cordel, reza novena
Novela nõ assiste porque fez promessa
É serelepe, de riso e lágrimas fáceis
A gente chega perto dela e não quer mais sair
Uma história emendada na outra
Lembranças dos ancestrais
Pombinhas visitam sua varanda
Porque a casa é abençoada
Mãe, Tia, Vó, Tia Avó.
Todos querem seu aconchego
Me deu de presente o ofício de Nossa Senhora
Que hoje eu já sei decorado
Tia Helena deixa na gente um sabor de quero mais:
Quero mais missa
Quero mais palavras
Quero mais lelê
Quero mais Helenita
Pro mundo inteiro saber.

Para Tia Helena,

Alyne Costa, 23/11/13

Tuesday, November 19, 2013

Pecado



Klimt



Apenas no breu da noite aceito o meu desejo.
Carne...
Fibra...
Cais...
Penso nas coisas boas que você me traz:
Verbo, olhar, ciúme.
A minha vida sempre teve um lado obscuro.
Sempre me visitaram pensamentos proibidos.
É que sou assim:
Desajeitada.
Desajustada.
Desnudada.
Busco uma palavra para findar o poema, ela some.
No espelho e me vejo linda.
No varal as roupas alvas descansam.
Se alguma nódoa ficou foi a do meu pecado.

Alyne Costa
18/11/13

Saturday, November 02, 2013

Caderno de Confidências

Andando pela avenida, vejo vitrines...
Anúncios de espionagem na banca de jornal.
Cadelinhas passeando com lacinhos...
Acompanhadas de madames.
Eu sai sem batom e nem olhei pro espelho.
Devo estar medonha, uma bruxa.
Olho pros lados e avisto velhinhos sentados num banco de praça.
O que povoa suas mentes?
Vagas recordações, saudades mornas.
O mundo moderno é uma aspirina.
Sinto saudades dos antigos cadernos de confidências.
Lá deixava meus gostos e segredos adolescentes.
A infância passou...
A adolescência passou...
A juventude está deitada numa cama de hospital.
E eu apenas perdi o medo.
E me sinto viva.
Com o amor que ele me deu no café da amanhã.

Alyne Costa

2/11/13