Wednesday, September 30, 2015

É Tarde

Já é tarde.
Não atenderei telefones.
Não acenderei as luzes.
Travarei a porta.
Resta-me pouco tempo.
Quero me perder nas minhas próprias coisas
Quero a leveza da poesia
Quero meu riso de volta
Quero o abraço terno do meu filho
Não quero de cuidados
Aliás, não preciso de cuidados
Não, eu não vou usar batom
Nem vou descruzar as pernas
Vou voltar a escolher minhas roupas
Farei uma grande fogueira com todos os papéis
Pintarei a casa
Jogarei fora todas as coisas velhas
Só não me livrarei dessa cicatriz
Ficará exposta
Á mostra
Não precisa devolver nada
Não quero nada de matéria
Voltarei a ter as tvs desligadas
E, depois, enfim, em torno do que sobrou de mim
Morrerei, enfim.
Alyne Costa, 15.05.15

Fados de Portugal

Fados de Portugal
De todos os meus encantos
Aguardando a pá de cal
O que vem a secar meus prantos
São fados de Portugal
E dentro dos acalantos
Poeira, farinha e sal
O que ainda me traz ventos
São fados de Portugal
Poesia de Manuel Alegre aos cantos
Tibieza e flores do mal
O que me acolhe tal mantos
São fados de Portugal
Da febre aos assaltos a bancos
Jovem negro morto no quintal
O que faz meus versos santos
São fados de Portugal.
Alyne Costa, 21/05/15