Thursday, April 27, 2017

Idioma

Ontem sonhei que Nova York ouvia tango
Que cantores palestinos dançavam rumba
Que no Saara não haviam tâmaras e sim amêndoas
Que todas as pessoas se entendiam e bailavam como os ciganos
Mandei preparar um vestido dourado
Um espelho encantado
Como numa fábula
Vi crianças darem as mãos
Vi travestis distribuindo rosas vermelhas
Vi pretos velhos fumando cachimbo
E Dolores me amamentando
A minha bandeira era um arco-íris
E tremulava num céu azul de outono
Ouvi rouxinóis cantando
Poetas profetizando
E loucos se amando
No meu sonho não haviam cárceres nem manicômios
E a minha roupa clareava a noite que chegava carregada de estrelas cadentes
E, na cadência de um samba, Nanã acalantava o mundo
As freeiras oravam com terços cristalinos
Os pastores pregavam um tango argentino
O Doutor chorava sua lágrima de menino
E não havia nenhum átimo de dívida ou credor
Ontem eu sonhei que o mundo
Falava o idioma do amor.

Alyne Costa 27/04/17


Thursday, April 06, 2017

Silêncio

De monge
No universo onírico em que habito
Acompanho teu silêncio
E em noites enluaradas costumo banhar-me numa cachoeira
Ondinas me segredam canções de ninar
Fados, valsas e sambas de roda
Eu sou toda alma e coração
Feita de amor pulsante
Me olho na face oculta do espelho
Acendo uma fogueira
Salamandras bailam ao som de um blues
Como se diz eu te amo em sânscrito?
Leio e releio a carta de Paulo
A madrugada assobia seu nome
E a solidão amaldiçoa o medo
Meu verbo
Minha carne
Minha pele
Meu ermo
Na chuva surgem fogos de artifício
Santo anjo do senhor...
Talvez seja amor
Ou precipício.
Alyne Costa, 4/04/+7

Amar Tanto e Até Morrer


As tuas memórias no Facebook
Alyne, as memórias que partilhas são importantes para nós. Pensámos que gostarias de recordar esta publicação de há 3 anos.
Onde mora a minha dor?
Habita o meu silêncio e permeia meus sonhos.
Desenha a minha distância nos morros de um caderninho encantado.
A minha letra borda em suas páginas correspondências.
Cartas de amor.
Cartas de despedida.
Cartas de boas vindas.
Algumas lições de esperança capturadas no olhar da menina de tranças.
Onde mora o meu perdão?
Nas flores de maio que nascem na palma de minha mão.
No meu velório e na minha primeira comunhão.
Numa saudade que transborda as veias do coração.
Veias e esquinas.
Veias e alamedas.
Veias e praças repletas de flamboyants.
Onde moram meus vícios?
Na sede de desespero e riscos.
Nas chagas da incompreensão.
No abandono e na solidão.
Na solidariedade e no dividir o pão.
Onde mora o meu amor?
No meu olhar que mareja.
Na alma que inteira viceja.
No corpo que ele beija.
E até numa certa agonia...
Que persegue noite dia...
Este peito de poeta.
Que já não reconhece as setas de ser só e uma só ser.
E, por tristeza ou quebranto, capaz de causar espanto.
Ama tanto e até morrer.
Alyne Costa
30/06/11