Monday, May 06, 2024


Quintal

O quintal da minha avó não tinha nobreza, tinha singeleza

Uma laranjeira que teimava em não dar frutos

Uma figueira que fornecia maravilhosos figos

Um pé de pinha que todos namoravam

E tinha um abacateiro que reinava, soberano

Naquele tempo, por ali quase não haviam flores

Apenas boas noites que sorriam serenas

Todas as horas do dia

 

Alyne Costa, 07-05-2024

 

Quintal

O quintal da minha avó não tinha nobreza, tinha singeleza

Uma laranjeira que teimava em não dar frutos

Uma figueira que fornecia maravilhosos figos

Um pé de pinha que todos namoravam

E tinha um abacateiro que reinava, soberano

Naquele tempo, por ali quase não haviam flores

Apenas boas noites que sorriam serenas

Todas as horas do dia

 

Alyne Costa, 07-05-2024

Sunday, May 05, 2024

 

Advogado e Bacharel

Vou aproveitar a insônia e esclarecer uma coisa... As pessoas acham que todos os formados em Direito são advogados, não é bem assim.

Graduado, formado, vira bacharel, se aprovado no exame da OAB, tirar a carteira e partir para defender causas, exercer a advocacia, vira, aí sim, advogado. Esse pessoal que vocês vêem bem vestidos e de carrão por aí pelos fóruns e adjacências.

Eu nunca tive vocação pra advogada, para Ariana Suassuna tinha muita, formei virei bacharela, passei em concurso e até trabalhei (a duras penas), mas meu negócio mesmo é conversar, escrever, pintar, ver filmes e gostar de gente.

Suassuna também ia ser advogado, pode pesquisar que vocês vão ver a bagaceira.

Agora eu sou aposentada, graças a Deus. A melhor profissão do mundo, aposentado não pode fazer nada, nem favor. Então agora quando perguntam minha profissão eu encho o peito e fato:
-Aposentada!

E as cortinas se fecham, ninguém fala mais nada.

Quando eu era Secretária Designada do Juizado de Brumado, assinava os documentos com o diminutivo de Bacharela: Bela. Alyne... Perere parara.

Um belo dia chega um cidadão:

- Eu queria falar com Bela Alyne.

Lá fui eu explicar o que significava o tal Bela.

Não vou entrar no quesito estagiário porque esse povo é uma praga, tudo deles é: Vou processar fulano e cicrano e beltrano. Óbvio que tinha muitos queridinhos e queridinhas que alçaram lindos vôos e deixaram saudades, mas eles são terríveis.

Quem dizia isso era Thomaz nas aulas de Penal, cuidado com estudante de Direito, estudante de Direito é uma praga!

Uma praga necessária, mas uma praga!

 

Alyne Costa, 06-05-2024

 

 

 

“Existem pessoas que são como a cana, mesmo reduzidas a bagaço só fornecem doçura.” Dom Helder

Certa ocasião eu viajava de volta para Salvador e ao meu lado no ônibus vinha um jovem de aproximadamente 23 anos, ele lia um livro de Augusto Cury e enquanto travávamos uma conversa leve e despretensiosa ele me mostrou uma gravura e me perguntou o que eu via, respondi que via uma velha, e ele insistiu...

- Olhe de novo!

Respondi, como num lampejo:
-Vejo uma moça mordendo uma maçã!

Ele guardou a gravura me olhou com um sorriso jovial, quase angélico e me disse que poucas pessoas conseguiam ver as duas imagens.

Era um jovem adventista e ia para Recife, ainda muito jovem viajava dando palestras, sua presença era cheia de paz e ternura e no final da viagem ele pediu que eu entregasse um dvd a um amigo que iria me procurar.

Hoje depois que escrevi um poema sobre um barba azul, um amigo das antigas me perguntou quanto de mim havia naquele poema, eu fiquei sem condições de explicar como conheci a história do barba azul no livro Mulheres que Correm com Lobos num grupo terapêutico que participei na pandemia e o que o aprofundamento daquela história me mostrou tudo que estava diante de meus olhos e eu não sei porque cargas d´água não via.

Reparem que há coisas que todo mundo vê e há coisas que ninguém vê e ainda há coisas como as da gravura que o companheiro de viagem me mostrou que poucas pessoas conseguem vê.

De fato, por muito tempo, eu abri mão de mim, me afastei do que eu era e vivi à deriva, mas eu sabia que me reencontraria um dia e que talvez alguns afetos não sobreviveriam.

Eu, que quase nunca tenho febre e raramente gripo, estou tirando uns dias para cuidar de uma otite, quanto à maluquice, essa não tem cura. Aproveitem e boa viagem.

 

Alyne Costa, 05/05/2024

 

Saturday, May 04, 2024

 

Amor no Café

 

Por onde meus pés pisarem

Levarei lembranças e buscarei fragâncias

O cheiro da vida quando a terra molha

O cheiro do café sorvendo na boca

O cheiro da lavanda infantil depois do banho

Vida também tem perfume

O suor do homem que ainda não amei

Tudo isso é cheiro da vida e traz esperança

Lí em algum lugar que a volta da vida é grande

Como grande é o sonho e o dom de amar

A gente jura que não quer nunca mais

Mas o amor chega na fronteira de todos os desencantos e faz rebuliço

A gente sobrevive sem qualquer coisa,

Mas ninguém vive sem amor...

Amor, no café, por favor.

 

Alyne Costa, 04/05/2024

 

Friday, May 03, 2024

 

O Canivete do Barba Azul

 

Havia um tempo em que as lembranças eram doces

E tinha a sutileza de campos floridos

Das crianças e seus alaridos

Havia um tempo em que eu me permitia amar

E sonhava com uma casinha branca de portas azuis e sonhos nas janelas

Mas meus sonhos não envelheceram comigo

Foram todos sepultados pelo barba azul

Eu, na minha tolice fazia mimos no barba azul...

Cuidava até mesmo da sua gripe

Nada importa mais

Tampouco a eternidade das dívidas

O que importa mesmo é que o barba azul com sua impiedade esperta

Arrancou meu coração com seu canivete suíço.

 

Alyne Costa, 4/05/24

 

Monday, April 22, 2024

 

Não me pegue, não me toque

 

Quando meu filho era ainda um bebê eu comprei naqueles livreiros que existiam vendendo de porta em porta, uma caixinha com alguns livrinhos da Disney e lia para ele durante as noites, antes de dormir.

Um desses livros contava a história de Bambi e, numas das passagens, era dito pela mãe do personagem: “Se não tiver uma coisa boa para dizer, não diga nada.”

Eu peguei essa máxima para mim, por muito tempo, e, como também havia lido emprestado de Sandrinha, minha colega, Pollyana Menina e Pollyana Moça, vivi com esse complexo por muitos anos. Sempre vendo o lado bom das coisas, o lado positivo das pessoas, talvez também aquela base cristã que me fazia acreditar que o bem que se faz, apaga-se o mal que se fez.

Certa ocasião, falei para um carinha que eu gostava sobre a “filosofria” do livrinho de Bambi, ele me disse:
“ – Cuidado com essas histórias de Bambi, olhe para onde seu filho vai!”

Isso não importa, para onde quer que meu filho vá, só lhe desejo ser um homem de bem, embora eu não sei até aonde eu seja uma mulher de bem... Melhor esquecer essa história de bem, bem não deu muito certo na minha vida.

O fato é que a vida, ela, inexoravelmente, me levou essa singeleza das historinhas Disney, e aquele tempo que Belchior cantou que “Fez comigo o mal que a força também faz”, me colocou em momento de me erre, me poupe e me salte.

E, não me pegue, não me toque...

Certo que ninguém quer saber nem tem nada a ver, a vida me trouxe pessoas maravilhosas, mas me trouxe também muita decepção.

Decepcionada, mas livre, não do aspecto jurídico, social, posto que estamos todos emaranhados nessa prisão que é viver.

Sigo então com gotinhas de orvalho de esperança que na contradança do baile me acorda de manhã, me faz preparar uma dose de café e escrever alguma coisa, ora poesia que, embora não alimente o físico, acalanta a alma.

Alyne Costa, 22/04/2024

Saturday, April 20, 2024

 

Exaustão

 

Sabe cansaço?

Cansaço de existir?

Pensar, escolher, falar, sentir...

Tudo isso cansa.

E tudo cansa.

Mas cansada de que?

Cansada das treitas da vida.

Cansada de ver as máscaras se dissolvendo na chuva.

Das estradas e das curvas que a vida nos faz.

E essa vida feita de urgência nos rouba os momentos.

Aqueles momentinhos mágicos de felicidade que não volta mais.

Sentimento é rio perene e a gente que aprende a cor e a dor do amor.

Muda de cor.

Sente o sabor da flor viril que a poesia não abriga nem pede arrego.

E se tiver que morrer, que não seja de medo!

 

Alyne Costa, 20/04/2024

Saturday, April 13, 2024

 

A solidão compõe a minha face e ela me é genuinamente necessária como a água ao sedento.

Pessoas passearam por minha vida e traçaram seus desenhos com tintas do absurdo.

Algumas me fizeram felizes, outras apenas se divertiram.

Não sei se já amei, também não sei se o amor existe.

Decerto, minha alma esfarrapada não precise mais dessas ilusões.

A morte que a cada dia é mais próxima me é um íntimo mistério e como morre-se nesses dias.

As gavetas que tento arrumar denunciam fraudes e mentiras...

O absurdo do mais incrível mora nas gavetas das almas dos que heroicamente mentem.

Teses, antíteses, enredos, emaranhados de medos e mentiras.

Queria ter força, sorrir, acreditar...

Meus olhos marejam saudades da minha inocência.

Os ébrios das madrugadas sobrevivem...

Só minhas pequenas flores morreram.

 

Alyne Costa, 13/04/2024