Tuesday, February 14, 2017

Sereias

As sereias atômicas retornaram
Com seus colares de cavalos marinhos
Trazendo pra perto a energia do mar
Ou de um vale repleto de porcos-espinho

As sereias vestiam-se de dourado
E chafurdavam graças por toda parte
Á cada mulher um homem amado
E um pouco de talco trazido de marte

As minhas canções são agora discretas
Como são discretas toda minha dor
Mas vamos deixar as janelas abertas
Para de vez entrar o amor

As sereias sorriram com um lindo semblante
E a esperança se realinhou
A alegria vindoura será melhor que antes
Colando o peito que se desfacelou.

Alyne Costa, 14/02/17

Monday, February 13, 2017

O bem te vi cantou baixinho
Sou somente um passarinho
Queria lavar calcinha
Mas sou podre na preguiça
Aqui ninguém é perfeito
E tudo é somente passagem
Canções me remetem a um tempo
De obscuras miragens
Posso ser bruxa ou santa
Ir comprar pão na rodagem
Me alimento de poesia
Essa é minha fantasia
Um sono que não tem fim
Mas é bem feito pra mim
Agora, me dá um tempo
Que vou é cuidar de mim.

Alyne Costa, 13/02/16

Sunday, February 05, 2017

Me recomendaram uma canção de Zeca Baleiro que diz: "vejo os pombos no asfalto... eles sabem voar alto, mas insistem em catar as migalhas do chão."
Desde que nascemos fomos sentenciados por dois grilhões: o medo e a culpa.
E é esse medo que nos paralisa e nos impede de atingirmos o topo das nossas montanhas. É o medo de ser diferente, de não ser aceito, de correr riscos, de discordar e até de não agradar, de não ser amado, correspondido. Assim, a gente não mergulha no mar porque naquela praia alguém já se afogou, assim, morrendo de medo, a gente perde o sumo da vida, que, escorrendo por entre nossos dedos, se esvais. E não tem retorno.
E de tanto medo que nos é embutido nessa cadeia que se passa de um pra outro, a gente não diz que ama quando ama, a gente não ouve que é amado quando está sendo amado, a gente não diz que está sentindo saudade, a gente não liga, a gente não procura, a gente tem vergonha de algo que aconteceu... Porque é certo que a rejeição é muito dolorosa, mas certamente é muito mais lamentável o não viver.
O outro grilhão é a culpa, aprendemos desde miudinhos a culpar nosso amiguinho por aquela queda de bicicleta, a nossa amiga apaixonada por aquela nota baixa e vamos botando sempre nas mãos dos outros a responsabilidade por nossos erros. De fato, é muito mais confortável agir assim que mudarmos de postura, rompermos com velhos padrões, doar ao tempo o que não nos serve mais. É indispensável descobrir que só crescemos quando tomamos em nossas mãos as rédeas de nossas vidas, quando paramos de delegar a terceiros a responsabilidade por nossos atos e decisões. Aprendemos também a morrer de culpa quando erramos. Não, não adianta. Adianta seguir em frente e agir, tentando um caminho diferente.
E entre tantos medos e culpas, acabamos achando que não merecemos. Não merecemos estarmos equilibrados quando a maioria desequilibra, não merecemos sorrir pois a humanidade se acostumou a nos ver chorar, não merecemos comer fora porque não somos ricos, não merecemos brilhar porque assim vamos ofuscar alguém, não podemos viver o presente porque nosso futuro será uma tragédia.
Não somos pombos, somos seres humanos, falíveis, verdade, mas podemos e merecemos construir uma vida melhor.

Alyne Costa, 6/02/16