Sunday, February 22, 2009

Guerreiros da Paz




Salve os guerreiros da luz
Salve os guerreiros da paz
O tapete de cravos brancos que cruza a avenida
E saúda a Rainha do Mar
Odoyá
Filhos de todas as tribos
Gingas de cada lugar
Brilham em prata da Lua
Branco das ondas do Mar
Filhos de Gandhy
Filhos gigantes de Yemanjá
Odoyá
Abram alas
Abram os braços
Abram as mentes
Desatem os laços da dor
Reinam por toda avenida
Com trajes em azul e branco
Agogô, alfazema e colar de contas
Que encantam meninas
São guias de paz e de amor
E seguem serenos, sorrindo
Seus hinos são cantos de paz
Cantados por todas as raças
Cantados por todos os povos
Cantados por todas as línguas
A bênção dos orixás
São filhos de todo esse mundo
Que ainda acredita na paz
E o tapete branco lava a alma
Peles claras e escuras
Dentes alvos e estandartes
Seguem serenos, sorrindo
Gandhys de todas as partes.


Alyne Costa
22 de Fevereiro de 2009


“Tem um mistério que bate no coração, força de uma canção que tem o dom de encantar.”

Friday, February 20, 2009

CARNAVAL

Havia um tempo em que alegria era inocência.
Atrás da máscara a face da verdade.
A sede da liberdade.
Soltando amarras.
Soltando o riso.
Soltando a essência.
Hoje, não há máscaras.
As máscaras são autônomas, perenes.
Hoje a festa busca o capital.
E prende a alegria.
Segrega o riso.
Dilacera a essência.
Mas ainda assim, eis a festa.
Completa.
Real.
Viva!!!
Eis a festa solitária dos que ainda brincam um carnaval.

Alyne Costa
7 de fevereiro de 2002

Friday, February 13, 2009

Porta Jóias

Eva Yerbabuena, bailarina flamenca


Na minha caixinha de música
A bailarina dança mal-assombrada
Nenhuma jóia guardada
Nem sabonete de motel
Na minha caixinha de música
Alguns alfinetes espetam verdades
Antigas cartas de amor
Sonetos que nem me lembrava mais
Letras de velhas canções
Riscos e rabiscos
Poemas eróticos
Alguns botões.
Na minha caixinha de música
Canhotos de filmes
Cheiro de mofo
Frasco vazio de um patchouli
Na minha caixinha de música
Retratos partidos ao meio
Recortes de modelo
Moldes de boa menina
Receitas de vizinhas
Na minha caixinha de música
Há um tempo que ainda não passou
E mora na saudade.
Outro tempo que ainda não veio.
Se dilata em ansiedade.
Na minha caixinha de música
Dobradiças enferrujadas
Veludo devorado por traças
E qualquer coisa que eu ainda ache graça.
Um antidepressivo vencido.
E a melodia que atravessa o tempo.




Alyne Costa



Salvador,13/02/2009

Friday, February 06, 2009

As Diferentes Faces do Amadurecer


Foto retirada do site: http://kerolasaber.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_10.html



Aprendo o quanto amadurecer pode nos proporcionar um enriquecimento de vida.


Vida, assim, dividida, sempre nova, fértil, plena, encantadora, mas na qual não podemos apagar as cicatrizes da alma. As marcas das experiências ficam, nos constroem.


Antes eu julgava que o coração criava crostas e íamos nos tornando mais resistentes às emoções: mortes não nos causavam tanto assombro, decepções não nos levavam ao chão, as perplexidades diminuíam e a aventura de estar vivo parecia cada vez menos excitante.


É claro que amadurecer nos torna fortes e isto não tem nada com a quantidade de anos vividos. Amadurecer tem muitas faces.


Amadurecemos muito com os sofrimentos, as perdas, a distância, a saudade, os diversos “pra sempre” e “nunca mais”, mas amadurecemos também com experiências únicas de encontros na vida.


Amadurecer não significa perder o encanto pelas coisas que vivenciamos, antes saboreá-los com menos pressa e mais ternura.


Amadurecer não significa perder a vibração e a magia perante o novo, mas vibrarmos numa outra faixa, com mais responsabilidade pelos nossos sentimentos e pelos alheios.


Amadurecer é a incrível descoberta de um eu profundo e paradoxalmente jovem, novo, sedento de releituras.


Isso porque o nosso olhar muda. Passamos a ver a vida sob uma ótica mais amena, menos rigorosa, mais terna e mais valorizadora dos pequenos encantos do cotidiano, antes quase imperceptíveis.


O amadurecimento pode nos vestir sob diferentes aspectos: filhos, lutos, rompimentos, crises e descobertas. Toda gama de relações e fatos que nos circundam acenam para essa evolução do eu que assim, se descobre, se desnuda, transmuta e cresce. Mas este crescer não tem sentido se é um crescer solitário e silente.


Amadurecer/Crescer significa também ramificar e se abrir, expor ao mundo, ao vizinho, ao amigo, ao colega de trabalho a riqueza de nossas experiências. Isso é saber amadurecer junto, trocando, cedendo, doando parte de sua alma ao mundo, que como cada um de nós também amadurece.


Mas o mundo é outra história e a história é cíclica... Porém, jamais igual. Amadurecer não é virar Mamãe e Papai, Vovô e Vovó... Não é repetir atos, padrões, certezas e regras. Amadurecer é se descobrir: limites e potencialidades. É querer continuar bebendo no pote da vida, mas perder (ganhar) um pouco mais de tempo apreciando o sabor.


Amadurecer é estar aberto sempre, é ter menos “pé atrás”, é aprender a depositar confiança nas pessoas, pois estas são seres humanos e não ciladas. É ir ao encontro do outro menos desarmado já que a vida urge e não viemos ao mundo apenas para guerrear, precisamos também de doçura e de paz.


Amadurecer significa ver encanto nas coisas mais ínfimas, mas que mais nos tocam a alma e nos transformam como seres humanos.


Amadurecer é não só aprender com os erros a não repeti-los, mas, sobretudo perceber que errar é inerente à natureza humana e, assim, devemos ser mais flexíveis com os que erram conosco.


Amadurecer é muito mais que esta maravilhosa descoberta do “eu”... Amadurecer é a deliciosa descoberta do “outro”... E como um dia afirmou Drummond: “Aprendi novas formas de amar e tornei outras mais belas”. Talvez amadurecer seja exatamente a afirmação da necessidade de descobrirmos, inventarmos, pela nossa sobrevivência, novas formas de Amar.




Alyne Costa








Texto também públicado no site: www.somostodosum.ig.com.br

Tuesday, February 03, 2009

Baile

Modigiliani, Red Nude (Nude on a Cushion)1917Oil on canvas Private collection



Quero tudo distante e tão perto
Nada a ponto de arriscar
Cultuo as mais remotas tradições
E de joelhos te rogo um beijo
Prendo os cabelos desejando que os solte
Que os puxe.
Preparo-te amor um alimento, com zelo de mãe.
Panelas ao fogo enquanto pito.
Preparo-te amor a sobremesa.
Preparo meu corpo sem qualquer fadiga.
Hidratante, creme dental, calcinha nova.
Preparo-te os aposentos e espirro perfume.
Sobre os travesseiros, alecrim.
Preparo-te uma noite sem assombros.
Sem notícias, sem celular.
Preparo o meu sexo.
Como se prepara um carinho.
Te acerca de mim que a noite é calma.
E sonho meus galopes no infinito de nós dois.
Me pega no colo que ainda sou criança.
Faz-me brinquedo e ri dos meus calundus.
Preparo-te canções de amigo.
Que a noite é tua.
Tira-me pra dançar?