Me vens com vinho e Neruda
Te dou Adélia Prado e Arruda
Alyne Costa, 15/06/23
De cá de dentro, bem do fundo do meu mundo, do que há de mais profundo, morimbundo, num segundo. Apenasmente reticente e inconsequente, paulatina e veemente, pela mente e plenamente. Sem querer e só por ser o que há para deter, toda dor que me habita, ora afoita, ora aflita. Todo verbo que reparte, ora Vênus, ora Marte, Cafundó de qualquer parte!
As Fogueiras do Meu Avô
As fogueiras do meu Avô, aquelas que ele acendia, com suas
mãos grandes e grossas não existem mais, porém nunca apagarão suas chamas.
Ele separava o pedaço de lenha que na manhã seguinte viraria
o tição daqueles em que se assa milho e batata e acendia, num ritual que só a
ele pertencia, nenhum filho, neto ou amigo lhe roubava essa tradição.
Nos anos de muita dificuldade, por vezes, não tinha fogueira
e à meninada fascinada naqueles fogos de artifício que, certamente, só traziam
benefício, corria pras fogueiras vizinhas e Ele chamava Vó e ia cumprindo a
tradição: de casa em casa e assim, reciprocamente. Lembro de uma iguaria sem
igual, o arroz doce de Ivone, ainda no tempo do Finado Loro, uma das coisas
mais gostosas que já provei.
Apagou-se, na velhice a chama da fogueira da vida de meu Avô
e lá se foi meu coração pelejar em outras plegas, conhecer as fogueiras da
Chapada, lá se foi meu encanto por essa noite que ainda aquece meu peito de
saudade porque é noite de festa, mas eu prefiro sentir saudade e quem disse
quee saudade, não nos traz ao menos na lembrança uma esperança que tem que
tiquinho de felicidade?
“Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo?”
Alyne Costa, 23/06/2023
“Olha pro céu, meu amor.”
De todas as noites, a mais linda
Há algo que aquece e aproxima
No céu nunca triste, toda lembrança resiste
Fogueiras e estrelas e toda delícia que existe
Uma sanfona embala o coração
Uma alegria em forma de paixão
Bandeirolas meninas enfeitam o que se chama vida
De uma noite eterna de São João.
Alyne Costa, 23/06/23
Mais Uma de Inverno
Ternurinha de inverno é pão na chapa quente
Torrada no azeite por puro deleite
Um incenso de sândalo e arruda de enfeite
Pra que não vingue qualquer mal querença
E saravá de virose, gripe ou fibrose
Que os chás sejam curadores com encantos
Que os sinos ressoem e levem quebrantos
Ternurinha de inverno é pão com geléia
Trago em charuto pra agradar caboclo
Uma colcha macia e um chinelo roto
Beijo na boca do garoto maroto
Filme de Woody e muito café
Na sala de espera uma quimera qualquer
Rever amigos, criar abrigos e ter prudência
Dizem que o mundo anda: Polarizado.
Acho que algum coisa ruim botou foi mau olhado.
E se não tiver jeito, stentes no peito.
Ternurinha de inverno tem sopa e manjericão.
E, alguma poesia, na palma da mão.
Alyne Costa, 8/06/23
Poetas Anônimos
Quando as horas acabam imensas
E os rios cansam
E um frio perfura a alma de esperança
Restaremos despidos e cantando
A chuva que cai sonhando
Já não tem qualquer tradução
Somos mambembes e saltimbancos sem tamancos
Os dias frios são plenos de recordações
Releio ávidas as placas de interrogação
A minha loucura mora assombrada na sua graça
E os meus pés frios pedem cochilos de ternura
No rádio eu ouço Sinônimos
E choro por todos os poetas anônimos.
Alyne Costa, 06/06/23