Thursday, September 22, 2022

Guerras

 


 

Habitou-me um grito aflito de sufoco desmedido

Eu que já não sei quem sou

Também desconheço os mares que habito

Ondas sonoras ressoam o caos mundano

Mutilações abismais dançaram tarde afora

Algum lugar em mim roga:

Leva-me embora daqui

Aonde haja paz, anjo e canto de bem-te-vi

Levam-me pra a casa aonde adormecem os ipês

Aonde quimeras inauguram a primavera

Leva-me aonde há vigílias de luzes azuis

Como os vagalumes resplandecem sua tímida luz

Traga-me um violeiro e um reino encantado

Viola, poesia, aroma delicado

Pela tarde o som do caos arrancou a minha sobra de razão

Enlouquecida a minha ternura transformou-se em confusão

Assim jaz a paz.

 

Alyne Costa, 22/09/2022

Monday, August 15, 2022

Biba Lagartixa

 Quem mora ou frequenta das bandas do Campo Grande, passando pela Vitória e Graça, com certeza já se bateu com ela por aí... Elegante, com seu corpo de manequim italiana e sua baianidade exibida em seu turbante e no seu carismático rebolado.

A conheci alí na Euclides da Cunha, na esquina do Carlos Crivelli quando ainda existia a Banca Fróes, o ano exato não sei, mas foi quando a moeda de 1 real valia muito. Passei na banca pra comprar cigarro e ela estava lá armando o maior fuzuê, naquele tempo era mais arrojada, me pediu uma ajuda e alguém tentou atrapalhar lhe dando algum valor em papel ao que foi categórica;

"-Não quero! Quero o dela porque o dela tem axé!"

E lá se foi meu um real, depois passou um tempão sumida e rolou o boato que havia falecido (biba morreu, biba morreu!), fiquei triste pra caramba até que um dia a encontrei e ela me gritou:

"-Ó não morri não, jogaram água quente no meu ouvido, mas eu tô viva!"

Fiquei aliviada...

E, de fato, a marca da queimadura ainda estava recente.

Veio a pandemia e eu nunca mais a vi.

Domingo passado, saí pra dar uma volta e a ví ali na Rua da Graça com seu turbante e sua sacola de lado... Dessa vez não me viu e eu pensei: Massa, sobreviveu!

Certa feita ela me disse que morava na Gamboa e quando me vê grita: "Olha ela!"

Biba Lagartixa é 100% Salvador.

Friday, July 22, 2022

O Daniel Lisboa, Véi.

 Recapitalando as histórias de buzú, tem um que merece um capítulo a parte, antes de entrar nos intermunicipais... O lendário Daniel Lisboa que conduzia a galera de Brotas pra Barra e circunvizinhanças.

Quem estudava na UFBA no PAF ou Vale do Canela tinha que se valer do Daniel Lisboa que era um buzú vazio e seleto, só usado na falta de outra alternativa dada a demora e horário reduzido.

Só passava de hora em hora (quando não atrasava!) e eu pegava e saltava na Vitória para ir paletando até a FADUFBA, na volta era a mesmíssima coisa.

Felicidade era encontrar os colegas que estavam em outros cursos e que há tempos não via.

Também era o Daniel que nos levava pro Porto. Certa feita, eu, Daniela e Rachel Ornellas resolvermos ir de tarde pro Porto. Sol a pino, pouca grana e ficamos lá na água saboreando o que só o Porto da Barra tem. Branquelérrimas, tomamos de vez todo o sol do mundo e voltamos no mesmo buzú de saída e biiquini, sem nenhuma abordagem indesejada, mesmo porque naqueles verões de paixões mis a maioria das abordagens eram desejadas sim e éramos felizes e não sentíamos vergonha disso.

Foi neste ano mesmo que começamos a frequentar os ensaios da TIMBALADA, sábado na OAS e domingos no Candeal mesmo. Era uma farra, inesquecíveis de Popó, Everaldo e Alexandre Guedes na Bacurinha a Fia Luna no seu timbal gigante, Ô Xubaquere Mãe, Mamãe eu vou pra África.

Privilégios de Brotas.

Alyne Costa, 22/07/22

Sunday, June 19, 2022

Zé Bernardo

 O primeiro "maluco" que me vem a mente é Zé Bernardo. Assim mesmo, com nome composto, com direito à dignidade pelo menos no nome pelo qual era conhecido.

Deveria ter uns 04 anos quando o conheci andando pelas ruas com suas roupas rasgadas, suas feridas que lembravam um São Lázaro, cobertas por tiras de tecido e uma toca de nylon amarela daquelas que se colocava verduras na feira prendendo seu cabelo ensebado.

Zé Bernardo tomava banho num bueiro e pouco lhe importava o mau cheiro, ali sentava-se, rolava e lavava o cabelo.

Ninguém tinha medo dele posto que inofensivo, doce e  sorridente. Só era sujismundo, tanto, que sua pele não se definia...

Todos brincavam com ele, davam-lhe sobras de comida, um pouquinho de farinha, um pouquinho de arroz num saquinho, sendo mantida a distância necessária. Não sei onde morava e creio que ninguém saiba mais pois são incertezas que os invisíveis parece trazer tatuada no DNA!

Se Zé Bernardo sabia ou não sabia eu também não sei... Só  sei que como canta o regueiro... "Andava pelas ruas da Bahia."

Enquanto Chico canta um samba, fala em devaneio, eu vou viajando aqui nessa história. O sorriso de Zé Bernardo está em minha mente feito "tatuagem" talvez para "me dar coragem" coisa   que diria o poeta "estamos todos precisando".

Alyne Costa, 19/06/22

Thursday, June 16, 2022

Outra vez Bandeira

 Eu ia começar hoje aquela história dos malucos beleza, mas veio a lembrança  de um poema de Bandeira.

"Havia um bicho na imundície do pátio."

Veio a lembrança da frase: "Só os loucos dizem a verdade" de Oscar Wilde

"Um dia pretendo tentar descobrir porque é mais forte quem sabe mentir..."

"Aquele bicho, meu Deus, era um homem."

"Se fosse só sentir saudade..."

Tá frio e eu tô afim de um dejavu.

Alyne Costa

Tuesday, June 14, 2022

A Blitz no Buzú

 Carambolas, só quem já passou por uma blitz no buzú naqueles anos 90 sabe o que é adrenalina.

Quem inventou essa história deve ter sido a maledicta (desculpa, moça) Kátia Alves porque isso foi na época do ACM, o Vô.

Lá ia eu voltando do Vieira naquele Comércio R2 da Sulamérica,foi quando a Ipitanga faliu e perdeu o monopólio das linhas de Brotas, me achando a própria turista porque o azulzinho fazia uma viagem.

Eu pegava quase umas 20:00h na lateral do CAV, companhia mesmo só da galera de Brotas e de Ednilson que pegava Rua Direta pra ir pro Uruguai. Ei de confessar que Ednilson (Atual Bigu) me dava uma certa segurança.

O buzú tava passando perto da entrada pra Santa Cruz quando de repente, não mais que de repente, o motô parou e a polícia entrou e botou os homens pra descerem do buzú, a galera toda de costas, mão na parede, pro baculejo, quem não teve uma boa história com esse negócio foi Marcão meu amigo, mas isso já outro livro.

As mademoseiles ficavam sentadas e eram delicadamente vistoriadas por uma Pfem. Foi a primeira vez que eu vi uma PM Mulher. Eu usava uma bolsinha preta e levava os livros na mão o que dava um desequilibrio da Z%R$$#2, apois, lá fui eu, abrindo a bolsa e mostrando a identidade pra Pfem sorridente, mas é claro né que eu tava de butuca no baculejo da galera lá embaixo no paredão que não era ainda esse negócio aí de paredão com caixa de som, pepepê papapá, caixa de fósforo.

Sei que não devia ser uma experiência muito agradável em virtude do semblante dos vistoriados. A parada se deu ali, um pouquinho antes da subida pro Santa Cruz que até parecia uma cidadezinha de interior de tão light, digo isso porque uma vez bateu um sono e eu dormi no buzú e fui acordar no fim de linha do Santa Cruz, o porquê eu não si, só sei que foi lá mesmo e desci do buzú até esperar o outro chegar.

Não tinha nem uma fichinha de telefone pra ligar pra ninguém, mas tinha orelhão sim, bons tempos da Telebahia, meu irmão...

Fiquei lá comendo um milho assado até o cobrador, gente boa, botar uns 4 passageiros no ônibus e ainda bem que tinha passe.

Não sei nem que horas fui chegar em casa, mas eram outros São Joãos... Tirei a farda, tomei um café e uma sopa, acendi um Plaza e fui estudar pro vestibular. O pessoal do colégio me chamava de turista porque eu faltava pra caramba. Vá lá meu irmão pegue um Comércio R2 no Garcia e chegue vivo na Cruz da Redenção que você vai saber o que é turismo hoje em dia.

Dê a Cezar o que é de Cezar, era outra Bahia, e eu já iaaaaaaaa falar: "Vem de lá do Nordeste, cabra da peste".

Mas vamos lá, bandeira branca amor, não posso mais, pela saudade que me invade eu peço: PAZ!

Alyne Costa, 14/06/22


Tuesday, May 31, 2022

O que mais além de um Deus?

 Quando o Meu Coração Se Tocou

 

Primeiro foi Mariana e Brumadinho

Mas eu não me abalei porque não tinha Urânio

Depois foi o frio nas ruas de Sampa

Mas eu também não me abalei por ter agasalho às pampas

Veio o Padre Lancellot, a Santificação de Irmã Dulce

Mas eu também mandei às favas por em nada acreditar

Depois surgiram os ataques e a intolerância religiosa 

Mas eu também não me importei

Finalmente eu  percebi que as pessoas haviam se transmutado em senhas

E não havia nada que eu podia fazer, além de entregar tudo a Deus!

Alyne Costa 31/05/22

Monday, May 30, 2022

O Frescão e o Litoral Norte

Naqueles tempos “frescão” já era uma palavra ambígua, mas, como eu não quero arrumar confusão, vou deixar claro que estou me referindo ao buzú com ar condicionado que circulava pela Salvadorcity, lá nos fins da década de 80 e início de 90, nada contra os frescões, jovens ou não, resta claro!

Matemático que o “frescão” não tinha um valor nada fresco e só passava em locais pra “inglês” ver, mas eu tinha alguns amigos de linhagem nobre, que me permitiam, vez por outra, ir dar um passeio pelo “frescão”.

Podíamos ir nessa viagem classe “A” ao aeroporto, Iguatemi (o atual Shopping da Bahia), Praça da Sé ver o Elevador Lacerda. Naqueles tempos o Pelô ainda era o Pelô, o Olodum ainda não era Olodum e o Pelô, ai aiai ai, tá tudo certo na Bahia, apesar de chuva todo dia...

Aí a vantagem do “Frescão” era que além de ter poltronas confortáveis, ar condicionado, passava pela orla, ainda cheia de coqueiros, não reclamávamos da viagem que durava um século justamente por essa paisagem que só Salvador tem.

Ah, isso, a vida é passageira, e não se fazem mais frescões como antigamente, pois é. Agora a coisa entre uma “boiolagem” e outra, vai é de metrô, por exemplo, um brother meu das antigas adora o pessoal da segurança, hehe...

Eu não vou reclamar porque eu também gosto de um metrô, com ar condicionado e segurança, olha só enquanto o Harmonia canta aqui “tira a mão do bolso” hah, eu tô me lembrando de como chegar ao Litoral Norte, quando a Linha Verde não existia e o “buzú” passava por Monte Gordo e vixe, pra chegar em Itacimirim, meu irmão, era uma novela, o buzú literalmente “quebrava e sambava” e a gente ia na maior felicidade da vida, dividindo o “buzú” com galinha, baiana de acarajé. Pescador e tava tudo muito bem.

Coisa da Bahia, que só se vê por aqui.

Mas, eita, viajei mesmo, na maior harmonia, nesse calor, matei dois coelhos numa cajadada só!

Alyne Costa, 30-05-22

 

A Inédita


 Eu queria estar agora...

Na Floresta Amazônica...

Tomando uma coca cola...

Ou talvez uma água tônica!


Alyne Costa 30-05-22

Sunday, May 22, 2022

Davi e os Anjos

 Era uma vez, vejam vocês, um pequenino menino chamado Davi.

Davi cantava, dançava, pulava e corria. Corria daqui e pulava dali! Cantava de lá e dançava de cá! Davi era alegre em todo lugar!

Três anjos muito fortes e elegantes olhavam sempre por Davi, a tristeza nunca chegava por ali.

Davi conhecia a história de Maria a mãe de Jesus e cantava para que nenhum homem sentisse o peso da cruz.

E lá se ia Davi a cantar: Avéa, Véa, Fé, Maria!

E o mundo de Davi com seus três Anjos era só alegria. Anjo de curar dodói, Anjo de dar comidinha à criança pobrezinha e Anjo de desenhar a pintinha da Dindinha!

E todo Davi é gigante não importa a religião e Davi ensinava que para aprender a grande lição, a gente tem que dar a mão, amor, calor, abrigo e proteção.

Entrou na asa de São Miguel, saiu na asa de São Rafael, o Rei Davi mandou avisar que a barata não tem sete saias de filó pois é mentira da barata: Ela tem é uma só.

Alyne Costa, 22/05/22

Monday, May 16, 2022

Beleza Rara


 

Olhos de mel ou turquesa?

Aonde brilha a tarde o sol da meia noite?

Em ti fez habitat toda beleza...

E em meu peito febril mora o açoite...

 

Em que idioma traduz seu amor?

Quantos tostões custam meus sofrer?

Sua amplidão me remove a dor.

Meus olhos só são olhos pra te ver.

 

Turca ou síria, rara é tua beleza. 

Canta e baila sobre meu temor.

Meu caminhar é realeza e roga amor.


Feito menino sem caderneta de papel e sina.

Desatino a fitar-te e meu eu quase desatina.

Que meu verso não tem cor nem te alucina.


Alyne Costa, 16/05/22

 

Wednesday, May 11, 2022

Amanhecida

 Em mim moram muito mais que vendavais

Sou uma cascata orvalhada dos lírios brancos que me esperavam na esquina

Um patinete movido à gasolina

Na trança colorida da menina que pulou a mina

Sou fonte, árvore, brisa, canção

Sou verbo, flor, forte, fonte

Uma canção no coração do ateu

Da flor:

Um novo horizonte.

Alyne Costa, 11/05/2022

Thursday, May 05, 2022

Ponto de Partida


 

Era uma vez dois menininhos iguaizinhos, Pedrinho e Luquinhas. A única diferença estava no coraçãozinho: o de um mais molinho, o de outro mais durinho, um brincava de índio e o outro, de soldadinho.

Estudavam brincando, cantando, dançando e o pião rodando. Adulto não é capaz de botar o pião no chão, oi lá vai, lá vai, lá vai, lá vai o botijão no chão.

Acontece que na escola desses menininhos havia vários brinquedinhos: totó, dominó, peteca e boneca.

Tanta boneca: Gigi, Gege, Jojo e Juju, Sissi, Suzy, Barbie e ela que morava numa ilha: Emília, Emília, Emília!

Mas Emília, era outra estrutura: Nasceu de uma caixa de costura: Oh, como no ponto de partida a vida do adulto é dura!

Acontece que na escolinha de Pedrinho e Luquinhas havia algo de cortar o coração, dois meninos legais que eram chamados de “Lerdão” e “Patetão”.

Eles só tinham como amiga uma menininha fofinha e um menino menor e “Lerdão” namorava uma batatinha de cabelo igual cenourinha e muito comilona e PLOFT: Peidona.

Pedrinho chamou Luquinhas e falou: Isso não pode acontecer vamos pedir aos Súper Iguais para coisas assim não acontecerem nunca mais.

Entrou no bico do gavião saiu no bico faisão: Toda criança merece ser tratada com o coração.

Alyne Costa, 05/05/2022

 

Thursday, April 28, 2022

Aurora, a Menina que não conhecia o Zé Gotinha

 Aurora é uma linda menininha de rosto redondo feito bolachinha.

A bela menininha, com olhos de gatinha, adora desenhar com todas as cores e chupar bala de todos os sabores, dos mais coloridos aos mais deliciosos sabores.

A Avó de Aurora que ama muito a menininha lhe deu de presente uma ratinha de roupa pretinha e vermelhinha e Aurora achou uma gracinha.

Mas a Avó de Aurora ficavz muito zangada e chateada e pensava em lhe dar uma bela palmada: Muita bala, o dente estraga!

Um belo dia Aurora falou:

-Eu quero colorir, mas o mundo não tem cor, eu estou meio doente. Não estão vendo gente?

Levaram aurora para o Hospital onde Aurora que estava muito doente foi apresentada a um boneco sorridente, uma gracinha: O Zé Gotinha!

Todos ficaram felizes para sempre pois dia após dia, Aurora era vacinada e o chefão da história quanta doçura: O Zé Gotinha, o rei do país da gente, da criança vacinada e contente.

Entrou na ponta da língua, saiu no bico da seringa, o rei mandou dizer que parasse de mandinga e que a avó de Aurora estava cheia de razão e, corojosa falava pra toda gente: Viva o SUS! Atenção, eleição, vamos minha gente votar consciente!

Saturday, April 23, 2022

O Circular e o Passe escolar

 

O Circular e o Passe Escolar

O primeiro circular de Salvador surgiu aproximadamente por volta de 1982/83, saía do Campo Grande para a Praça da Sé e vice versa, a Estação da Lapa estava em fase de acabamento, mas a Ipitanga estava lá firme e forte levando todo mundo para Brotas. Aonnnnnde que Brotas ia ficar de fora?

E, foi mais ou menos nessa época que surgiu o passe escolar, vinham em cartelas e eram destacáveis o que facilitava enormemente a sua função ambígua, ou seja, não servia apenas para pagar o buzú, rolava roleto de cana, algodão doce e ameduins (torrado ou cozido).

Naqueles idos era uma viagem longa sair do Garcia pro Campo Grande e pegar o circular pra saltar na Lapa e da Lapa pegar outro pra chegar lá na Cruz da Redenção. Muita fome, muito sono, muita sede, muito enjôo... E a Ipitanga estava lá com seu ônibus laranjão de letras pretas: IPITANGA.

O circular era branquinho com detalhes azul e vermelho. Nessa época em que já saíamos sozinhas da escola íamos em bando e sempre passando dicas para fugir dos assaltos e assédios (dos mais leves às mais absurdos), por exemplo se a calçada estava estreita, era melhor não ficar escondida entre a calçada e os automóveis cujos proprietários, temerosos de danos, estacionavam na calçada e o trânsito fluía louco. Tinham os guardas de trânsito, mas eram uns muito bonzinhos e educados, essas malditas cartelas nem sonhavam em aparecer (malditas ou benditas? Sei lá, viu?).

Foi bem nessa época que Ritchie que havia estrondado nacionalmente com “Menina Veneno”, lançou aquela música : “Você passou num circular pela praia do Leblon...”.

Leblon? Não. Era Doceria Nubar no Campo Grande, Primavera e Savoy lá na altura do Relógio de São Pedro.

Inesquecível e insubstituível salada de frutas da Savoy.

Na verdade o passe escolar surgiu primeiro que o vale transporte, tenho quaaase certeza! Mas os dois tiveram o mesmo destino: Seu objeto não era o contrato celebrado ao rolar a borboleta, mesmo porque, quem nunca deu uma traseira que atire o primeiro Miguelito.

Alyne Costa, 23/04/22

 

 

Thursday, April 21, 2022

 Os Irmãos Tralalá

Era uma vez Valentim e Vincent, com 5 e 2 aninhos, de cabelos vermelhos como tomatinhos e olhos azuis como gatinhos.

Valentim, já grandinho, já ia para a escola como um atleta: de bicicleta.

Vincent que nasceu durante a pandemia do Covid 19, com a prova dos nove ainda não mexe, ia com um dos pais para a creche.

Filhos de mãe brasileira e pai dinamarquês, uma dupla da pesada, gostavam muito, nas brincadeiras de fazer zoada como só, por isso viraram os Irmãos Trololó.

Valentim gostava de batucar, pra lá e pra cá, pra cá e pra lá, mesmo que para isso pegasse uma colher e uma vasilha de tapeware. Bac Bacum Babá, lá estava ele a batucar.

Vincent que gostava do irmão imitar, não conseguindo fazer batucada, preferiu assoprar. Fitfiufiu, quando vou conhecer o Brasil? E tudo virava apito, até o lego, se acredito! Se achava uma caneta, muito cuidado, virava corneta!

Uma bela manhã de outono, ainda cheio de sono, ao sair de seu prédio, pois ir pra escola não havia remédio, já que toda criança quer mmesmo é brincar nem que seja de trololó tralalá, viu uma árvore vestida de cores que eram lindas flores.

O menino ganhou ar, olhou pra moa e falou: Hoou, a primavera chegou? Ali muitas flores há! Agora sua família pode nos visitar.

Entrou na ponta de um canal saiu pelo bico de outro canal e a bailarina dinamarquesa mandou contar que alguém aprendesse falar Tralalá!

Alyne Costa, 21/04/22

Para Valentim e Vicent




Monday, April 18, 2022

A Casa da Velhinha Neném

 


Era uma vez uma velhinha muito limpinha, boazinha e alegrinha. Talvez por ser bem miudinha era chamada por todos de Neném.

Dois menininhos Zezinho e Lucinha foram molhar na casa da velhinha que era sua avozinha.

A Vovó deu para cada um uma canequinha para bem cedinho irem até o curral tomar leite da vaquinha.

A casa da Avozinha era uma gracinha, limpa, com luz de fifó e muitas frutas, galinhas, água de pote, moringa e melaço de cana para todos os netos, bisnetos e sobrinhos se lambuzarem o ano todinho.

Havia um lampião e um grande rádio de pilha, que toda cheirosa e bem vestida, a velhinha ouvia  a missa de Aparecida.

E fechava seus miúdos olhinhos, os lábios dava um sorrisinho e a velhinha pedia por cada menininho.

Um dia assim, meio desses tristinhos, tiraram da avozinha os menininhos. Mas para que as flores e as gargalhadas nascessem todos os dias no varandal e no quintal da velhinha, sempre com seu sorrisinho, Papai do Céu lhe abençoou com cada netinho! E seus netinhos nunca deixavam sozinha a velhinha. Voavam em sua casa feito bandos de passarinhos.

Alyne Costa, 18/04/22

Fotografia: Alyne Costa







Thursday, April 14, 2022

Luisinho e Laura

 Era uma vez Luizinho que não era irmão nem do Zezinho, nem do Huguinho e sim de Laura, uma menina que gostava muito de se intrometer nas brincadeiras do irmão, até soltar bolas de sabão.

Luizinho tinha quatro anos e se achava já um homenzinho, amoroso e cuidadoso, estava sempre atento às peripécias da irmãzinha.

Em sua cidade foi inaugurado um parque de Dinossauros, no mesmo dia, Luizinho exigiu de seus pais que deveriam fazer um passeio para ver se encontrava algum Dinossauro chamado Lineu porque era assim que sua irmã nomeara seu dino da Silva Sauro de brinquedo.

Num ensolarado dia de domingo pela tarde, os pais das crianças resolveram satisfazer o sonho do menino que usou sua fantasia de homem aranha para a mais nova façanha.

Laura quis ir vestida de bailarina, parecia uma boneca malina.

Quando chegaram no parque havia um muiiiiito grande que chamava atenção por ter olhos vermelhos, braços bem menores que as pernas e bocão aberto.

A menina pediu ao pai que a pegasse no colo para ver de perto aquela bocarra aberta e cheia de dentes.

Luizinho, de imediato, assustou-se, que bailarina mais prosa e corajosa!

Quando, Laura chegou pertinho do Senhor Dinossaurão, olhou e falou para   seu imão:

- Olha só, que olhão vermelhão, que será que ele tem dentro dessa bocona?

De imediato colocada no chão pelo pai encabulado, olhava para o irmão sorrindo, pedindo solução.

Luizinho, sorriu e respondeu pra menina:

Laura, essa bocona serve para que ele coma!

Entrou na boca do tiranossauro Rex que disse que só contaria outra com um relógio Rolex.


Alyne Costa, 14/04/22




Monday, April 11, 2022

Luna no País dos Coelhos

 Era uma vez uma menina chamada Luna, de olhos bem arregalados e vestidos com babados.

Laço de fita na cabeça e que adorava coelhinhos pretinhos com manchas brancas, olhinhos vermelhos e cocô de bolinhas.

Um belo dia, seu irmão, Ravi, que sonhava com todas as bandeiras coloridas do mundo e até em planetas de outros mundos, lhe fez um convite:

- Vamos viajar? A páscoa está chegando já já. Vamos ver os coelhinhos e ganhar ovinhos!

Luna, entusiasmada, respondeu com um laço vermelho e branco na cabeça:

- É uma daquelas viagens internacionais?

Ao que entãoo já tristonho menino disse:


- Nada disso, é tempo de ficar em casa, vamos viajar de fato, através deste buraco preto, vermelho e branco, descalços para toda fofura do mundo entrar pela sola dos pés, com cheiro de algodão doce e picolé de menduins.

A menina entrou no buraco, mas não acabou o pato, desnhou um sorriso de chocolate na boca do Ravi que nunca mais parou de sorrir.

Entrou no bico do pinto e saiu no bico do pato, o rei pediu que contasse mais três pois estava desenganado e o galo cocorejou:



Eu sou um coelho enpanado.

Alyne Costa

11/04/22

Fotografias: Pinto  e gato, internet e Revista Brotoeja (pesquisar histórias em quadrinho retrô), fonte: Internet


Sunday, April 10, 2022

Presente de Grego

 

Presente de Grego

“...De manhã nossas roupas espalhadas no chão

Todo mundo foge é da solidão” Guilherme Arantes

A madame tentava dobrar a esquina com sua sina

De cada lado uma menina

Estragou a arte de Van Gogh num porta retrato

Comprado numa loja de R$1,99

É pro moção

É pra mocinha

Atrevidinha

Pra Inglês ver.

Porque o velho John continua mexendo com a gente sim.

Pay Atention


Alyne Costa

10/04/2022

Res Nullus

 As coisa, todas elas

Brancas, pretas

Feias, belas

Todas elas

São de ninguém

Agora e sempre

Terra do Sem Fim

Amém.


Alyne Costa, 10/04/2022

Monday, April 04, 2022

Luto da Mulher que Luta

 

Luto da Mulher que Luta

 

“E a solidão dos bares que a gente frequenta... Quando eu não estiver por perto canta aquela música que a gente ria...” Oswaldo Montenegro

“Está certo dizer que estrelas estão no olhar de alguém que o amor elegeu para amar.”

Jesus de fato é a alegria que mora no coração dos homens e esses homens exprimem esse amor em vários idiomas e caminhadas com pés descalços que nunca se cansam de amar.

Incansáveis orações em formas de canções.

Esse amor passeia pelos destinos de pessoas com diferentes desatinos ao badalar dos sinos.

Tentam compreender, dimensionar, presos na mais sutil incapacidade de amar.

Cantam apenas contradições travessas como em tristes jogos de guerra.

Tocam apenas, em segredo, armas de brinquedo.

A histeria é seu pedigree.

Já o Jesus que faz o homem sorri, apenas pousa por aí...

No canto dos passarinhos, livres e sozinhos.

Nas asas das borboletas azuis, vermelhas e pretas.

Mas cantam.

Porque o silêncio há muito não é urgente.

Esse eterno luto que me habita e me faz aflita.

Não mora só em mim.

Mora na história de Caim e Abel, leu a bíblia, os cânticos e salmos.

Esse luto que me habita o peito todos os dias.

Fez pouso no coração bonito e aflito do meu filho.

Na compreensão de meu tio velho.

Nos meus insistentes equívocos.

No beijo não beijado.

No abraço não doado.

Na mão não tocada.

No terreno baldio da falta de noção e dimensão.

Pousada da humana incompreensão.

Alyne Costa, 4/04/22


Para meu Pai João Roberto, 22 anos de saudade.

 

Friday, February 18, 2022

Sorte ou Revés

 


 

Não há mais pra onde enlouquecer

Não há mais noite ou dia

Sem lua e estrela não há magia

Nem telepatia

Não há roupa no armário da sua cor

Pensando há

Sonhando há

Minha ternura mora na minha timidez

Num barco de insensatez

Sem armadura, eu sou candura

Pura ternura

Já não sou mais triste

E habita em mim toda pureza que existe

E insiste e persiste e resiste

Sonhar um sonho bom sem preço

E mesmo que meu time perca, caia, suba ou vença

Não há de haver desavença

Será que ele jogou Scotland Yard ou Banco Imobiliário

Nem acredito em morte...

Não há revés, é sorte.

 

Alyne Costa, 19/02/2022

 


Pipoca no Jantar


 

Nem precisa chinelo

Eu gosto mesmo é de ficar descalça

De navegar

Gosto de mar e de lua cheia

De ver sereia na areia

De macaco, elefante e de turbante

E tá, taratatá tá tudo bem

Muito zem

Com ou sem?

Pimenta na moqueca, neném.

Maniçoba, faz é bem.

Quero ser feliz também.

Quiabada, então, demais...

E dai? Se eu tô sem calcinha?

Daí ver o envelope?

CEP? Mudado.

Endereço? Retificado.

Calor?

Muriçoca?

3ª Guerrra?

Me erra?

Carnaval na pandemia: Assimetria.

A gente inventa e bebe até uma coca:

De pirar? Saulo e Pipoca.

 Alyne Costa, 18/02/22


Alyne Roberta Neves Costa, 18/02/22

Tuesday, February 15, 2022

Miau, Miau, Miau, Cocorocó

 


Acredito que toda uma geração foi marcada pelo vinil. O vinil tinha sua magia que nem o melhor rádio do mundo sonharia em substituir.

Quem usou vinil sabia da sua delicadeza, era como um prêmio adquirir um vinil do artista predileto. E o cuidado necessário e, quase ritualístico com a sua manutenção? Solução, esponja para retirar o pó, plástico para proteger, antes de guardar na capa de papelão com um desenho psicodélico ou uma fotografia do pop star na capa.

Não podem ser esquecidos os compactors. Pequenos discos com apenas uma ou duas faixas de música, geralmente um hit.

Historinhas infantis povoavam meu imaginário. O primeiro vinil que ouvi foi numas rápidas férias em Caetité com Tio Paulo e Tia Valdirene, quando os dois moravam numa casinha em frente à casa de Tião Costa, na Rua Saldanha.

Eu voltava das minhas primeiras férias depois de ter vindo estudar em Salvador, estava com 06 anos. Lembro que fiquei horas impactada com a capa do disco, os quatro animais: a gata, a galinha, o cachorro e o jumento. Coisas de Chico Buarque para as filhas e coisas de Chico Buarque fogem a qualquer tentativa de elucidação e discernimento como toda obra prima que se preze. O som naquele primeiro momento não mexeu comigo, mas o LP sim.

Mais tarde ganhei o meu próprio exemplar de Os Saltimbancos. Choca galinha, só chocava... E, ouvi muito, muito mesmo, tanto ou até mais que a coleção Disquinho que trazia histórias incríveis como da velha Firinfinfelha e o Macaco Simão, A Roupa Nova do Rei, A Cigarra e a Formiga, João e Maria e A Bruxa.

Hoje vejo surgindo inúmeros contadores de história geniais, algumas crianças até, gente desenvolvendo no imaginário infantil, sua ancestralidade, sua cultura, seu sonho e sua magia.

Vida longa a todos os saltimbancos e aos contadores de história.

Alyne Costa, 15/02/22

Saturday, February 12, 2022

Para gostar de ler

 Enquanto o pequeno infante, repousa no jardim de Odin eu viajo para tempos distantes. Procuro saber de onde veio essa paixão por ouvir e contar histórias. Talvez das histórias que me contavam quando eu ia dormir. Sejam elas do rico imaginário popular ou das de Pedro Malasarte, dos irmãos Grimm, do Rouxinol que meu pai contava com seu entusiasmo peculiar.

Depois vieram os disquinhos, os livros, Pequerrucha e A galinha Quiquita que contava a história de uma galinha que tudo se esquecia e quando a mãe lhe perguntava aonde estava as coisas ela respondia: -Ah, mãe, eu me esqueci! Isso bastou pra minha mãezinha me botar a alcunha de Quiquita, toda vez que eu me esquecia alguma coisa.

Depois veio a fase biblioteca, livros folclóricos com lendas indígenas, africanas, depois a fase da Coleção Para Gostar de Ler e Vagalume, Christiane F, Agatha Christie, Sidney Sheldon e as primeiras viagens poéticas: Cecília Meirelles em Ou isto ou Aquilo.

Livros, livros, livros e mais livros. Jornais. Revistas. Bula de remédio.

E os professores, ah, professores e professoras. Podia escrever um livro sobre tantos, mas vou me ater aos que agora me veem à mente, Lucinha, Gessy, Lúcia, Hildemária, Emília, Joquinha, Gorda, Ângela, Araceli, Fofão, Dilza
e duas pessoas: Sibele e Madalena.

Sibele era uma mulher belíssima, silhueta de manequim, não sei onde está, mas a gente tinha uma forma toda especial de se comunicar e Madalena, meu Deus, que me perdoem os pobres mortais, ter sido aluna de Madalena Ferreira é outro departamento.

Alyne Costa, 12/02/2022 Desenho: Victor Costa Amorim

 

Wednesday, February 09, 2022

A Ilha

  

Estamos cercados.

Vírus, armas, cavalos alados.

Somos todos ilhas...

Cercados de sonhos por todos os lados.

Somos o P de Peter Pan o P de poesia.

Somos uma frangância leve de lavanda...

Um soninho em Luanda.

Ai, solidão, em plena diáspora das crianças que caminham, caminham, caminham...

Ai, meu Deus, quanto horror há no temor.

Eu quero um banho de cachoeira.

A valsa com um beija-flor.

Queria um retrovisor.

Ouvir Novos Baianos.

Ler um baralho, cigano, se não me engano.

Quero aprender a ser, sem temer as angústias obscenas da minha face secreta.

Quero amor sem indireta, sem metáfora, sem meta, sem a palavra certa.

Quero amor de improviso.

Num riso.

Alyne Costa, 09/02/2022

(ao som de Sonífera Ilha, Titãs)