Friday, February 18, 2022

Sorte ou Revés

 


 

Não há mais pra onde enlouquecer

Não há mais noite ou dia

Sem lua e estrela não há magia

Nem telepatia

Não há roupa no armário da sua cor

Pensando há

Sonhando há

Minha ternura mora na minha timidez

Num barco de insensatez

Sem armadura, eu sou candura

Pura ternura

Já não sou mais triste

E habita em mim toda pureza que existe

E insiste e persiste e resiste

Sonhar um sonho bom sem preço

E mesmo que meu time perca, caia, suba ou vença

Não há de haver desavença

Será que ele jogou Scotland Yard ou Banco Imobiliário

Nem acredito em morte...

Não há revés, é sorte.

 

Alyne Costa, 19/02/2022

 


Pipoca no Jantar


 

Nem precisa chinelo

Eu gosto mesmo é de ficar descalça

De navegar

Gosto de mar e de lua cheia

De ver sereia na areia

De macaco, elefante e de turbante

E tá, taratatá tá tudo bem

Muito zem

Com ou sem?

Pimenta na moqueca, neném.

Maniçoba, faz é bem.

Quero ser feliz também.

Quiabada, então, demais...

E dai? Se eu tô sem calcinha?

Daí ver o envelope?

CEP? Mudado.

Endereço? Retificado.

Calor?

Muriçoca?

3ª Guerrra?

Me erra?

Carnaval na pandemia: Assimetria.

A gente inventa e bebe até uma coca:

De pirar? Saulo e Pipoca.

 Alyne Costa, 18/02/22


Alyne Roberta Neves Costa, 18/02/22

Tuesday, February 15, 2022

Miau, Miau, Miau, Cocorocó

 


Acredito que toda uma geração foi marcada pelo vinil. O vinil tinha sua magia que nem o melhor rádio do mundo sonharia em substituir.

Quem usou vinil sabia da sua delicadeza, era como um prêmio adquirir um vinil do artista predileto. E o cuidado necessário e, quase ritualístico com a sua manutenção? Solução, esponja para retirar o pó, plástico para proteger, antes de guardar na capa de papelão com um desenho psicodélico ou uma fotografia do pop star na capa.

Não podem ser esquecidos os compactors. Pequenos discos com apenas uma ou duas faixas de música, geralmente um hit.

Historinhas infantis povoavam meu imaginário. O primeiro vinil que ouvi foi numas rápidas férias em Caetité com Tio Paulo e Tia Valdirene, quando os dois moravam numa casinha em frente à casa de Tião Costa, na Rua Saldanha.

Eu voltava das minhas primeiras férias depois de ter vindo estudar em Salvador, estava com 06 anos. Lembro que fiquei horas impactada com a capa do disco, os quatro animais: a gata, a galinha, o cachorro e o jumento. Coisas de Chico Buarque para as filhas e coisas de Chico Buarque fogem a qualquer tentativa de elucidação e discernimento como toda obra prima que se preze. O som naquele primeiro momento não mexeu comigo, mas o LP sim.

Mais tarde ganhei o meu próprio exemplar de Os Saltimbancos. Choca galinha, só chocava... E, ouvi muito, muito mesmo, tanto ou até mais que a coleção Disquinho que trazia histórias incríveis como da velha Firinfinfelha e o Macaco Simão, A Roupa Nova do Rei, A Cigarra e a Formiga, João e Maria e A Bruxa.

Hoje vejo surgindo inúmeros contadores de história geniais, algumas crianças até, gente desenvolvendo no imaginário infantil, sua ancestralidade, sua cultura, seu sonho e sua magia.

Vida longa a todos os saltimbancos e aos contadores de história.

Alyne Costa, 15/02/22

Saturday, February 12, 2022

Para gostar de ler

 Enquanto o pequeno infante, repousa no jardim de Odin eu viajo para tempos distantes. Procuro saber de onde veio essa paixão por ouvir e contar histórias. Talvez das histórias que me contavam quando eu ia dormir. Sejam elas do rico imaginário popular ou das de Pedro Malasarte, dos irmãos Grimm, do Rouxinol que meu pai contava com seu entusiasmo peculiar.

Depois vieram os disquinhos, os livros, Pequerrucha e A galinha Quiquita que contava a história de uma galinha que tudo se esquecia e quando a mãe lhe perguntava aonde estava as coisas ela respondia: -Ah, mãe, eu me esqueci! Isso bastou pra minha mãezinha me botar a alcunha de Quiquita, toda vez que eu me esquecia alguma coisa.

Depois veio a fase biblioteca, livros folclóricos com lendas indígenas, africanas, depois a fase da Coleção Para Gostar de Ler e Vagalume, Christiane F, Agatha Christie, Sidney Sheldon e as primeiras viagens poéticas: Cecília Meirelles em Ou isto ou Aquilo.

Livros, livros, livros e mais livros. Jornais. Revistas. Bula de remédio.

E os professores, ah, professores e professoras. Podia escrever um livro sobre tantos, mas vou me ater aos que agora me veem à mente, Lucinha, Gessy, Lúcia, Hildemária, Emília, Joquinha, Gorda, Ângela, Araceli, Fofão, Dilza
e duas pessoas: Sibele e Madalena.

Sibele era uma mulher belíssima, silhueta de manequim, não sei onde está, mas a gente tinha uma forma toda especial de se comunicar e Madalena, meu Deus, que me perdoem os pobres mortais, ter sido aluna de Madalena Ferreira é outro departamento.

Alyne Costa, 12/02/2022 Desenho: Victor Costa Amorim

 

Wednesday, February 09, 2022

A Ilha

  

Estamos cercados.

Vírus, armas, cavalos alados.

Somos todos ilhas...

Cercados de sonhos por todos os lados.

Somos o P de Peter Pan o P de poesia.

Somos uma frangância leve de lavanda...

Um soninho em Luanda.

Ai, solidão, em plena diáspora das crianças que caminham, caminham, caminham...

Ai, meu Deus, quanto horror há no temor.

Eu quero um banho de cachoeira.

A valsa com um beija-flor.

Queria um retrovisor.

Ouvir Novos Baianos.

Ler um baralho, cigano, se não me engano.

Quero aprender a ser, sem temer as angústias obscenas da minha face secreta.

Quero amor sem indireta, sem metáfora, sem meta, sem a palavra certa.

Quero amor de improviso.

Num riso.

Alyne Costa, 09/02/2022

(ao som de Sonífera Ilha, Titãs)