Saturday, April 22, 2023

Mundo cão e meu cão

 

“Sabe esses dias em que horas dizem nada?”

 

Mundo cão e meu cão

Vive-se um tempo, potencialmente, tristemente, esquisito...

Hoje eu resolvi dar uma volta com meu filho e meu cachorro, meu filho protelou, protelou, mas foi.

Subimos a rua e meu cachorro que pula como um cabrito, ia alegre e saltitante, entramos numa rua sem saída e deserta, feriadão e eu sem noção de que vivemos a era do “grande irmão”, achei que poderíamos ter um pouco de privacidade, enganei-me.

Fui vendo a rua e de repente uma criança grita:

“Ei, cadê você?”

Imaginei que brincava de esconde-esconde.

O jornaleiro passou em sua moto e jogou um jornal, não era bem o horário certo...

Um dos porteiros ouvia rock bem alto, a-do-rei!

Lembrei-me da doce Inês cuja casa ouvi pela primeira vez: “Titia que morava na Colômbia chegou, riu de mim porque não entendi...”

Um pouco mais tarde ví um curta excepcional, li alguma coisa, joguei conversa fora.

Tem um livro que eu nunca lí: Morangos Mofados.

Estou de fato emocionalmente exausta, nada me faz mais falta, dizem que solidão vicia e eu sou somente uma aprendiz do amor.

Alguns dizem que devo aproveitar a vida, que estou de boa.

Quem está de boa nesse deus dará?

Nesse calor infernal?

Confesso que cansei, tudo que eu queria era chorar, mas minhas lágrimas sumiram.

Eu só penso na capa de um livro que eu vi: “Porque pessoas inteligentes cometem erros idiotas?”

Porque já está todo mundo pensando nas eleições municipais se ainda nem nos recompomos da exaustão das presidenciais?

O pessoal quer guerra, confronto, caos...

Fico com Raul:

“Entrar pra história é com vocês”.

Alyne  Costa, 22/04/23

 

Saturday, April 15, 2023

A rota

Entre fugas e buscas

Os holofotes se apagam

Os heróis se calam

Paradigmas se evaporam

No caos, no cais

Apenas um beija-flor sobrevoa

Feito chuva farta na horta

Uma garrafa de vinho sobrevoa um mapa

Três Américas

Três estrelas

Três canções

Sobraram enigmas e corações


Alyne Costa 15/04/23

Wednesday, April 05, 2023

Uma noite dentro de um filme

 Nos bons tempos da Sala de Arte do Bahiano, vi alguns filmes muito bons, ir ao cinema era um refrigério...

Certo que aquela sala em especial tinha seu charme particular, ali encontrei e vivi cenas e flagras inesquecíveis. Mas não vou entregar ninguém, não dessa vez...

Tá tudo certo em construir delicatessem, espigão underground e talvez alguns binóculos indiscretos de alta resolução, bem, não vamos delirar... Vamos adoçar as palavras, usar de alguma leveza no olhar, porque não dá pra fugir do que por aí está.

Essa semana fui parar na emergência, evitei ao máximo, peguei um táxi (sim, eu pego táxi!) com um carinha fã do Chiclete até o Canela, voltei pela Vitória e o verde e o vento aliviaram a dor... Mas fui na emergência e juro, era um filme de Almodóvar...

Tramal, Dramin e Captropil e eu ligadaça pra não perder um lance. Uma moça de preto abriu as mãos cheias de pedras e me disse que eu ia ficar boa porque eu vestia lilás.

Pausa para a enfermeira que queria comprar uma moto! Concordo com ela!

Apareceu um crush, cismou que me conhecia (não sei quem é, tava de máscara), tava com uma tia (que bonitinho) e meio sem jeito pra levá-la ao banheiro e conversa vai, conversa vem, saiu pra ficar lá na ala da moça dos cristais. E antes me disse: - Vc é uma pessoa boa! Eu disse que sim quase me esquecendo do meu lado Malévola, mas é verdade eu sou uma pessoa boa e engraçada.

De repente chega um ruivo muito doido, com os olhos bem arregalados acompanhado de um rapaz bem miudinho com um brinquinho delicado que só na orelha, eu achei o casal meio desproporcional e tive medo daquele ruivo me meter o murro na realidade. Esse "Na realidade" aprendi com meu amigo que me ensinou a nunca esquecer a identidade e a chave de casa, ah, há coisas que só se aprende com os amigos gays.

Remédio acabou e eu quietinha, ultra bem comportada, quando pouso os olhos numa personagem new wave sentada na minha frente, a mocinha de cabelos cor de rosa, terno de tracinhos brancos (podiam ser bolinhas, eu enxergo muito mal e ainda não adquiri os óculos porque gasto demais e no dia que resolvi comprar reparei que os gatos haviam mijado na receita).

O tênis na mocinha era amarelo com quadradinhos pretos, meu Deus! Eu já tenho coisa demais! Vejo coisa demais e escrevo bobagem demais. Conversei com ela e depois o rapazinho magrinho me disse que os enfermeiros eram bons e eu concordei e acrescentei que era muita responsabilidade.

Enfim, fomos liberados, só uma saiu por conta própria, outra seria internada e o ruivão, graças a Deus, não voltou a tempo de me dar um murro!

Dei no pé e deixei o crush na outra ala trocando instagram com a moça dos cristais, enfim, saí correndo, se o crush for esperto me acha, se não for, que lamentável, vida que segue, vamos na sincronicidade, moça, cristais, UFBA, New Wave, a médica, ah! Se chamava Natália.

Shiva Om, a moça dos cristais estava de preto e meu talismã de Mercúrio escondido na mochila. Esse ninguém sabe, ninguém viu.