Sunday, February 25, 2024

Aninha, menina sem fita

Sem doce no bolso

Sem roupa bonita

Sem sapato novo
Sem festa, nem bolo
Sem boneca estrela
Sem Walt Disney
Sem valsa de 15 anos
Sem choro nem vela
Que mais querer, Aninha?
É tua toda a Primavera.

Alyne Costa, poesia de 2004

 Ah, Brasil!

Esta pátria minha de alma circense...
E não é que descobri na poesia de Bandeira que Catulo da Paixão Cearense
Era, de fato, maranhense?

Alyne Costa, poesia de 2004

Tuesday, February 20, 2024

 

Ontem me visitou um beija-flor azul

Eles me visitam sempre

E pairam mudanças no ar

Boas novas, esperança, acalanto

Têm o poder de secar um pranto

Não importa a rota torta

O quase entupimento da aorta

Eu pulei a cerca de arame farpado

E me deparei com a solitude

Os beija-flores podem ser anjos

Seu pouso é breve como a vida

Seu canto o idioma de Deus

Um girassol é flor de bom destino

E o alfazema perfume de bebê

Mas beija-flores...

Ah, os beija-flores...

São asas de encantamento.

 

Alyne Costa, 20-02-2024

Tuesday, February 13, 2024

 

Ousando

 

A gente se cansa. De vez em quando a gente não consegue nem mais erguer a cabeça.

Se cansa de ser honesto e ser autêntico.

A gente se cansa de ver os mesmos rostos nos noticiários justificando o que não se justifica.

O mesmo modus operandi a cada quatro anos.

Alianças, conchavos, alianças, conchavos, traições, mentiras, a gente se cansa.

O coração fica miudinho e não há dinheiro que restaure vidas massacradas.

Às vezes a vida massacra, sem dó nem piedade.

A gente ri porque não tem jeito mesmo.

E, de vez em quando, no meio do riso, a gente chora.

A gente se agarra à fé, mas são tantas versões de religiões...

A gente se encanta e se desencanta.

A gente chuta o balde.

A gente deixa de acreditar em dias melhores.

E passa a conviver com o cinismo.

Às vezes uma crueldade é tão grande que por mais que você tente sobreviver percebe que morreu um pouco.

E, de tanto viver nesse reino de injustiça, a gente quer enlouquecer.

A gente quer andar na contramão do destino, pegar água no cesto...

A gente não devia nem se incomodar nesse mundo em que se compra tudo, menos a verdade.

Mas a gente se incomoda e perde a paciência.

E a gente observa que não podemos nos permitir mais erros.

Não, não temos muito tempo.

São poucas as chances.

E a gente então ouve uma canção, toma um café e segue o baile.

E ousa, com toda audácia do mundo, ser diferente.

 

Alyne Costa, 13-02-2024

Saturday, February 10, 2024

 

De tanto querer

 

Às vezes o querer bem assola a gente

E brota sentimento

Como flor diferente

E o bem querer de não querer ver

O outro sofrer, passar perrengue

É querer ver o sol brilhar no coração de alguém

Pelo simples fato de desejar o bem

Saber pedir desculpa, sentir saudade

Desejar saúde plena e não pela metade

É ser vida servida num reino de intriga

É saber amar em várias nuances

O querer bem é mais uma chance

Em cada momento:

Um acolhimento

Um riso intenso e interno

Mesmo esperando um outono

Numa alma que chora num inverno

De distância, silêncio e poesia

Que mora na alma de uma utopia.

 

Alyne Costa, 10-02-2024

Sunday, February 04, 2024

 

“Pega teus desejos

Do corpo e

Da alma

E faz canção, poema, revolução.”

Viviane Lucas

 

Já era

 

Havia um tempo que eu amava e amar me bastava

Bastava com bastam os pequenos raios de sol

Aqueles que adentram as persianas e fazem festa na janela

Havia um tempo que eu amava e queria rechear a vida

Como se a vida fosse um bolo de aniversário

Daqueles bem antigos e confeitados

Mas quis a vida que eu abrisse mão do que não cabia mais em meus braços

E, fez da minha alma esse ser manco, travesso e consciente

Ciente que um pé atrás não é ser refém da desconfiança

A vida fez tanta lambança nesses meus poucos anos

Foram tantos planos e tantos desenganos que confesso a vocês

Meu coração?

Meu coração já era!


Alyne Costa 04/02/2024