Aninha, menina sem fita
Sem doce no bolso
Sem roupa bonita
Sem sapato novoSem festa, nem bolo
Sem boneca estrela
Sem Walt Disney
Sem valsa de 15 anos
Sem choro nem vela
Que mais querer, Aninha?
É tua toda a Primavera.
Alyne Costa, poesia de 2004
De cá de dentro, bem do fundo do meu mundo, do que há de mais profundo, morimbundo, num segundo. Apenasmente reticente e inconsequente, paulatina e veemente, pela mente e plenamente. Sem querer e só por ser o que há para deter, toda dor que me habita, ora afoita, ora aflita. Todo verbo que reparte, ora Vênus, ora Marte, Cafundó de qualquer parte!
Ontem me visitou um beija-flor azul
Eles me visitam sempre
E pairam mudanças no ar
Boas novas, esperança, acalanto
Têm o poder de secar um pranto
Não importa a rota torta
O quase entupimento da aorta
Eu pulei a cerca de arame farpado
E me deparei com a solitude
Os beija-flores podem ser anjos
Seu pouso é breve como a vida
Seu canto o idioma de Deus
Um girassol é flor de bom destino
E o alfazema perfume de bebê
Mas beija-flores...
Ah, os beija-flores...
São asas de encantamento.
Alyne Costa, 20-02-2024
Ousando
A gente se cansa. De vez em quando a gente não consegue nem
mais erguer a cabeça.
Se cansa de ser honesto e ser autêntico.
A gente se cansa de ver os mesmos rostos nos noticiários
justificando o que não se justifica.
O mesmo modus operandi a cada quatro anos.
Alianças, conchavos, alianças, conchavos, traições,
mentiras, a gente se cansa.
O coração fica miudinho e não há dinheiro que restaure vidas
massacradas.
Às vezes a vida massacra, sem dó nem piedade.
A gente ri porque não tem jeito mesmo.
E, de vez em quando, no meio do riso, a gente chora.
A gente se agarra à fé, mas são tantas versões de
religiões...
A gente se encanta e se desencanta.
A gente chuta o balde.
A gente deixa de acreditar em dias melhores.
E passa a conviver com o cinismo.
Às vezes uma crueldade é tão grande que por mais que você
tente sobreviver percebe que morreu um pouco.
E, de tanto viver nesse reino de injustiça, a gente quer
enlouquecer.
A gente quer andar na contramão do destino, pegar água no
cesto...
A gente não devia nem se incomodar nesse mundo em que se
compra tudo, menos a verdade.
Mas a gente se incomoda e perde a paciência.
E a gente observa que não podemos nos permitir mais erros.
Não, não temos muito tempo.
São poucas as chances.
E a gente então ouve uma canção, toma um café e segue o
baile.
E ousa, com toda audácia do mundo, ser diferente.
Alyne Costa, 13-02-2024
De tanto querer
Às vezes o querer bem assola a gente
E brota sentimento
Como flor diferente
E o bem querer de não querer ver
O outro sofrer, passar perrengue
É querer ver o sol brilhar no coração de alguém
Pelo simples fato de desejar o bem
Saber pedir desculpa, sentir saudade
Desejar saúde plena e não pela metade
É ser vida servida num reino de intriga
É saber amar em várias nuances
O querer bem é mais uma chance
Em cada momento:
Um acolhimento
Um riso intenso e interno
Mesmo esperando um outono
Numa alma que chora num inverno
De distância, silêncio e poesia
Que mora na alma de uma utopia.
Alyne Costa, 10-02-2024
Já era
Havia um tempo que eu amava e amar me bastava
Bastava com bastam os pequenos raios de sol
Aqueles que adentram as persianas e fazem festa na janela
Havia um tempo que eu amava e queria rechear a vida
Como se a vida fosse um bolo de aniversário
Daqueles bem antigos e confeitados
Mas quis a vida que eu abrisse mão do que não cabia mais em
meus braços
E, fez da minha alma esse ser manco, travesso e consciente
Ciente que um pé atrás não é ser refém da desconfiança
A vida fez tanta lambança nesses meus poucos anos
Foram tantos planos e tantos desenganos que confesso a vocês
Meu coração?
Meu coração já era!
Alyne Costa 04/02/2024