O Frescão e o Litoral Norte
Naqueles tempos “frescão” já era uma palavra ambígua, mas,
como eu não quero arrumar confusão, vou deixar claro que estou me referindo ao
buzú com ar condicionado que circulava pela Salvadorcity, lá nos fins da década
de 80 e início de 90, nada contra os frescões, jovens ou não, resta claro!
Matemático que o “frescão” não tinha um valor nada fresco e
só passava em locais pra “inglês” ver, mas eu tinha alguns amigos de linhagem
nobre, que me permitiam, vez por outra, ir dar um passeio pelo “frescão”.
Podíamos ir nessa viagem classe “A” ao aeroporto, Iguatemi
(o atual Shopping da Bahia), Praça da Sé ver o Elevador Lacerda. Naqueles
tempos o Pelô ainda era o Pelô, o Olodum ainda não era Olodum e o Pelô, ai aiai
ai, tá tudo certo na Bahia, apesar de chuva todo dia...
Aí a vantagem do “Frescão” era que além de ter poltronas
confortáveis, ar condicionado, passava pela orla, ainda cheia de coqueiros, não
reclamávamos da viagem que durava um século justamente por essa paisagem que só
Salvador tem.
Ah, isso, a vida é passageira, e não se fazem mais frescões
como antigamente, pois é. Agora a coisa entre uma “boiolagem” e outra, vai é de
metrô, por exemplo, um brother meu das antigas adora o pessoal da segurança,
hehe...
Eu não vou reclamar porque eu também gosto de um metrô, com
ar condicionado e segurança, olha só enquanto o Harmonia canta aqui “tira a mão
do bolso” hah, eu tô me lembrando de como chegar ao Litoral Norte, quando a
Linha Verde não existia e o “buzú” passava por Monte Gordo e vixe, pra chegar
em Itacimirim, meu irmão, era uma novela, o buzú literalmente “quebrava e
sambava” e a gente ia na maior felicidade da vida, dividindo o “buzú” com
galinha, baiana de acarajé. Pescador e tava tudo muito bem.
Coisa da Bahia, que só se vê por aqui.
Mas, eita, viajei mesmo, na maior harmonia, nesse calor,
matei dois coelhos numa cajadada só!
Alyne Costa, 30-05-22