Saturday, December 23, 2023

O que eu não disse a meu amor

Ontem, meu amor fez 29 anos e me arrependo de muitas coisas na vida, mas talvez a que mais me arrependa seja algo impossível, eternizar o seu abraço...

Me arrependo de não ter dito muitas coisas, mas talvez a coisa que eu mais me arrependa é de não tê-lo dito que as pessoas não são nem tão boas, nem tão más quanto possamos pensar, posto que somos todos imperfeitos e que esse processo de viver é muito doloroso e que eu guardo em meu coração materno que sempre perdoa, tudo que ele me disse, as coisas bonitas e as tristes.

Meu pai tem um poema que diz que “ter perdido a inocência” foi a “falência do seu querer” e aqui no peito arrebatado de orgulho de sua véia uma verdade é sussurrada: Para as mães seus filhos são eternamente inocentes!

Alyne Costa, 23/12/23

Wednesday, December 20, 2023

 

Absorta

As cores não me concentram, me absorvem

Minhas multifaces se revelam em matizes

Por vezes sou intensa e loucamente rubra

Noutras, leve azul piscina

Meu bem querer tem cor de dendê

Mexe por dentro feito não sei o que

Enquanto meu gato adormece no meu colo

Sonho com telas e lápis de cor

Das coisas que ainda não rabisquei

Meu cérebro se reparte em instalações

Buzinas, lentes, semáforos me azucrinam

E o que me habita de lucidez navega em oceanos marrons

Sou crespa, ácida e meu peito é pura candura

Se me queres louca, aqui estou

Se me queres aflita, bem mais bonita,

 

Alyne Costa, 20/12/2023

Wednesday, December 13, 2023

 

Mais um ano finda...

Quando eu estava grávida de meu único filho humano, certo dia, num pequeno shopping em Brotas (É, eu tive certos privilégios na vida, um deles foi ter morado em Brotas nos anos 80/90) havia um homem com um turbante jogando cartas, me aproximei dele com aquela curiosidade juvenil e acertei uma consulta e perguntei como seria meu futuro com aquela criança e o cartomante me respondeu:

“Minha filha, todos os homens são pais de todas as crianças do mundo!”

Aquela frase ficou martelando em minha cabeça até que, amadurecida, volta e meia ela vem à tona e eu percebo que é uma grande verdade.

Meu avô que foi a primeira visita masculina a meu filho na UTI Neonatal, não foi só bisavô, não existe bisavô, existe pai três vezes, sim, as avós tão certas...

Nesse período natalino ou fim de ano foi o período que meu filho nasceu e, algumas lembranças... Ah, lembranças e memórias fazem as nossas histórias.

Como esquecer as rosas vermelhas que minha prima Denise foi me levar no hospital na noite de Natal?

Como esquecer Dani ceando comigo aquele panetone? Aquela amiga que me acompanhava para cima e para baixo e cujo pai, meu  inesquecível amigo Augusto, acertou o dia que o rebento veria a luz da vida?

A visita daquele paquera que me levou uma caixa de chocolate e que me deu uma crise de risos?

Sim... Todos os homens são pais de todas as crianças do mundo, somos todos cidadãos do mundo e numa guerra não existe razão. Finda o ano e sinto-me cansada, desejo de coração a todos que compartilharam mais um pouquinho de vida comigo nesse 2023 de tantos repentes e mudanças, existencialmente difícil ante tantos acontecimentos guardadinhos aqui na cachola, um novo ano melhor, com mais amor e menos razão, mais utopia ao romper dos dias, um ano de música, paz e alegria.

Um ano com mais alimentos e sentimentos...

Boas Festas!

Alyne Costa, 13/12/23

 

Cura

“Só eu sei as por que passei.”

Cura quem reconhece e por vezes desobedece

Aquilo que não concorda

Cada um tem seu  processo

Sua dor, sua ilusão

Cada um é recomeço e às vezes solidão

Todo mundo já foi criança e, nas cirandas da vida:

Pegou piolho ou lombriga

Não precisa remoer...

Me curar foi tão difícil e continua o sendo

Sigo alegre e enloucrescendo

Tagarela e apaixonada

Sei quando o outro cala

E respeito a faixa de pedestre

Nunca tive um automóvel

E sou fã de um buzú

Quem quiser gostar que goste

Que eu já não estou nem mais lá

Me importa o clima do planeta que está prestes a estourar

Continuo me amando

Mesmo sendo um pouco vesga

Mas, mas, mas...

Sou baixinha e bonitinha

E, não vem que não tem dor no joelho

Quando passo um batom

Vejo ele em meu espelho!

 

Alyne Costa, 13/12/2023

Monday, December 11, 2023

 

No Mundo

 

Nesse mundo, bem lá no fundo

Escolho me acolher

Ver minh’alma florescer

Sou feita do barro de chegadas e partidas

Quero a paz abençoada

Jamais a alma vilipendiada

Por cicatrizes que não me pertencem

Mas que surgem e ressurgem pra me machucar

Cada um cria suas teses ou catequeses dos diálogos travados na vida

Seja lágrima de riso ou despedida

Nesse mundo, bem lá no fundo

Escolho dormir no seu ombro

Enquanto a bailarina faz um solo

Faço meu abrigo no seu colo.

 

Alyne Costa, 11/12/23

Tuesday, November 21, 2023

 

Lembranças

Moram nas minhas lembranças não somente os amores que vivi

Os afetos sinceros que colhi e sei bem quais os são

Também os tropeços e os recomeços

Arranquei à foice a mordaça e uma parte de mim ainda acha graça

Daquela eu que não existe mais

Ah, fim de ano que tens do cotidiano?

Um tanto de desengano recheado de luzes coloridas

Um bocado de luz nas novas feridas

Um desenho rabiscado e um sonho ainda não sonhado

Ah, fim de ano que ficou de aprendizado?

A falsidade que há de ficar no passado.

Que traz de bom?

A esperança dançando na valsa da vida...

Na janela colorida, nas luzes da avenida

E essa minha sanha de mulher atrevida!

Alyne Costa, 21/11/23

Sunday, November 19, 2023

 

“A arte é uma ferida feita de luz.” Georges Braque

 

Há dores concentradas feito chagas na alma do poeta

Que, profeta da vida, atiça esperanças ao vento...

Morando no reino do sentimento.

Ora em riso e ora em pranto

Traz ao coração um acalanto

Feito canção de ninar

Há cores em potes transparentes de flores

Que, perfume do tempo, mora feito brisa no silêncio do vento

E, muda, assombro meu querer que já não tem ciência nem prazer

Há uma velho triste que mora no menino

Um moribundo que balança o sino

Alardeando a morte do que não se sabe

Há uma bruxa na boneca da vida

Que insiste em se fazer colorida

Oposta a qualquer sinal de fim

É breve a vida e nós o sabemos

E, nem sempre, são fartas as colheitas

Os paços são trôpegos no início e no fim

E entre o querer e o amar:

O caminhar...

 

Alyne Costa, 19/11/2023

Sunday, November 12, 2023

 

“E há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende o braço para quem procura carinho e proteção.”

Reflexões de uma mulher que não lava louça

E a vida vai se gastando com cobranças e julgamentos inúteis do quanto se poderia ser e não se é, do que poderia ter sido o dito e acabou omitido, do choro negado a si mesmo quando todos nós precisamos de abrigos de nós mesmos.

E, assim, refugiados do que sobrou de vida que está aí sendo diuturnamente oferecida para ser vivida e nós já quase sufocados nos nossos cataclismas existenciais, deixamos escorrer com pressa e medo.

O quanto se perde do amor verdadeiro com reclamações e autossabotagens, exigindo do outro que faça uma ginástica de alma para que possa caber no porão em que nossos sonhos se perderam antes mesmo que tivessem começado.

Talvez estejamos desaprendendo a ouvir o outro, e, nessa avidez por notícias, cobrando do outro uma perfeição que jamais teremos... Talvez essas coisinhas escritas aqui, sem pretensão alguma, precisem ser ditas para salvar a minha humanidade e dizer que o tamanho do meu amor por essa vida, mesmo doída, ferida e frágil (sim, cuidado conteúdo frágil) é imenso e inclui um universo de pessoas que ora me condenando e ora me absolvendo compuseram a minha trajetória.

Nessa estrada cheia de encruzilhadas, nossos passos muitas vezes se confundem a outros passos e dá vontade de que uma música nos soe favorável, como um bolero ou uma flauta suave no soturno alarido das madrugadas solitárias dessa mulher que odeia afazeres domésticos e escreve porque precisa viver e se comover.

Alyne Costa, 13-11-2023

 

 

Saturday, November 11, 2023

 

Aprendi não ter vocação pra espera...

Complicou? Já era!

Alyne Costa, 2023

Thursday, November 09, 2023

 

Sabores

Reparem bem que tudo tem sabor

Até os dias mais tristes têm sabor dos felizes....

Deveria tudo ter sabor de sentimento...

No peito agora tudo tem sabor de um sorvete:

Ausência, ausência, ausência.

 

Alyne Costa, 09-11-2023

Friday, November 03, 2023

 

Criança não toma conta de Criança

Gente, pelamordeDeus, criança é para brincar com criança e sob a supervisão de um adulto (de preferência, imparcial), jamais pense que uma criança pode ter noção de cuidados.

Quando eu tinha uns quatro anos, meu sonho era ser cabelereira e se alguém me perguntasse o que eu ia ser quando crescer, a resposta vinha na bucha:

- Cabelereira!

Certa ocasião, estava no interior e Marilena veio chamar minha mãe para ir na feira, minha relutou que não podia ir porque não havia ninguém para tomar conta de mim e de Rose (filha de Marilena), mas a moça insistiu que ia ser rápido, que não tinha nada demais e que eu já estava maiorzinha e ia tomar conta de Rose direitinho...

Bem, colocaram-nos num canto com brinquedos e nos deixaram brincando de casinha e lá se foram pra feira...

Não sei quanto tempo demorou, mas foi o suficiente para eu pegar uma tesoura e começar meu curso de cabelereira com Rose... Fui direto na franja e créu, créu, créu, fiz um corte em zig zag e deixei Rose punk.

Foi uma satisfação tão grande cortar aquele cabelo!

Lá pelas tantas ou poucas, as duas mulheres voltaram e Marilena viu o resultado de sua teimosia, fez um horror e minha mãe me defendendo e se defendendo já que ela havia advertido que algo poderia acontecer.

O resultado foi Marilena levar Rose nalgum cabelereiro e cortar de cuia o cabelo da filha. Sei que fiquei anos sem brincar com Rose que só superamos este trauma já adultas quando apresentei um amigo gatérrimo e que acabou namorando com Rose. Já Marilena passou a nutrir um sentimento não muito bom por mim...

Tenham noção, criança não pode tomar conta de criança!

Alyne Costa, 03/11//2023

 

 

Monday, October 23, 2023

 

Se te quero

 

Sou fêmea feita de urgências e segredos

Talvez um cofre num oceano de medos

Sou fêmea e sem paciência...

Se espero é porque amo desafios e nocautes

As primeveras são vésperas de verões

O sol acende fogueiras e corações

Cavalos marinhos invadem meu ser

Todo efervescente de você

Sou fêmea e não acumulo

Nem angústias e nem dúvidas

Sempre na corda bamba do destino

Em busca do que não conheço, por vezes entristeço

Mas, se te quero, espero...

 

Alyne Costa, 23-10-2023

 

Tuesday, October 17, 2023

 

Labuá

 

Desculpa, Adélia, minha mãe me falou de amor.

Falava quando preparava as minhas fantasias de carnaval.

Quando me arrumava para as festinhas da escola.

Também quando me cobrava estudo.

Me deu algumas surras, mas pé de galinha não mata pinto.

Me falou de amor muitas vezes e de diferentes maneiras.

Eu que, com minha rebeldia, não entendia.

Eu que, a rigor, a rigor, sempre fui labuá.

Só me arrumo quando dá na telha de me arrumar.

E, confesso a você, me falou de amor de uma maneira tão sua.

Única e engraçada.

Minha mãe me falou de amor, a coisa mais importante do mundo.

Palavra que no fundo dá o sentido da vida que ela me deu.

 

Alyne Costa, 17/10/2023

 

Saturday, October 07, 2023

 

Flor Mulher

Algumas pessoas possuem em seu coração um reino de ternura, são poetas de nascença, independente de crença e saem costurando na vida seus tapetes de carinho.

Um amigo me ensinou que “poeta é quem cria”, cria afeto, cria alegria, horta, bichinho ou poesia.

Algumas pessoas nascem poetas por colocarem amor em poções de tudo que fazem, transformam a vida em sonho, bolinho de chocolate e, assim, comida vira arte.

Algumas pessoas trazem em si a poeira da inspiração e vão bordando seus dias como fadas de estimação.

E nesse bordado infinito que alguma criança atrevida pode chamar de vida costróem nos corações mais aflitos um ninho de bem me quer, nascem flores em forma de mulher.

Alyne Costa, 07/10/2023 para Dona Sônia Mattos

Sunday, October 01, 2023


A Peleja e o Puxadinho

 

Deus um dia se zangou com a justiça dos homens

Que de vez quando assombra muito mais que lobisomem

E declarou por decreto, transcrito por algum médium

Que um dia se vingaria a começar por um prédio

O coitadinho é antigo e cheio de infiltração

Além de tudo há inseto por toda tubulação

Cupim, barata, mosquito e até escorpião

É azulejo rachado, cimento no marmorite

Interfone que não toca ou toca além do limite

Portão que quebra e requebra, terraço mal-amanhado

Zeladora sem direito e artista estabanado

É caixa d’água rachada e idoso desrespeitado

Pra azar do pobrezinho (Bell Marques não leve a mal!)

Achou de ficar situado no circuito do carnaval

Tem militar que achando pouco a bagatela do soldo

Subloca todo ano, sabendo guardar o troco

Eu agora acendo uma vela pra N. Sra. Auxiliadora

Pois vou falar um pouquinho da empresa administradora

Ninguém vai saber ao certo quem teve a ideia da lora

De colocar num predinho de 4 andares e 13 apartamentos

Sem garagem e nenhum elevador, só pobreza e sofrimento

Uma empresa pra “cuidar”, somente de segunda a sexta

Do pobrezinho do prédio, com multas e taxa extra

Deus tava era muito zangado, virado na mulesta

E resolveu de uma vez liberar uma peleja

E apesar da empresa ter fixado na mureta

Que quando tudo passar todos iriam de abraçar

O que veio foi contenda, fofoca e confusão

E haja dose de rivotril para cada reunião

Quem escreveu não indico, já tem novo candidato

O dono do puxadinho cheio de balacubaco

Deus então achou pouco o castigo dado ao grupo

Solicitou a São Genaro um grupo de whatsapp

E eu até tenho medo de virar carnificina

Porque esse grupo parece correio da Carmesina

E Deus mandou avisar que só acaba a peleja

Quando tirarem a Princesa já com pena da menina

 e colocar na gestão o Hospício Leopoldina.

Autor Desconhecido

 

 

 

Thursday, September 28, 2023

 

Ilísia

Eu achava Ilísia fumar cachimbo a coisa mais linda do mundo.

Sentada, de coluna já curva, no alpendre da casa, macerava o fumo de rolo e preparava.

Vinda lá do Iuiú, aquelas terras de parentes que eu não conheci, com um lenço amarrado na cabeça, pitava que era uma belezura de se ver e eu sentada, no seu encalço, não perdia um detalhe, um gesto, um pequeno traço daquele ritual, místico e solene.

Não tinha brincadeira no mundo que me roubasse daquela presença, da riqueza daquela persona e de seu pouco caso de qualquer coisa mais.

Ilísia, com a pele negra enrugada, mãos escuras do fumo e sua indiferença a qualquer coisa foi a primeira empoderada que eu conheci!

 

Alyne Costa, 29/09/2023

Wednesday, September 27, 2023

 

Improvisos

 

A vida tem encantos sim

Apesar da fome e das guerras

De tanta miséria na face da Terra

Dos muitos desencantos que por si encerra

Não esse poema que como a vida insiste em brotar a cada manhã

Jamais a minha esperança que como criança dança

Mora um erê dentro de mim

Mora uma preta velha que me conta as histórias

Que eu reinvento

E, nesse sustentáculo, que é renascimento

Por fora e por dentro

Eu sigo sendo eu e nós

Um nós, incompreendidos

Oprimidos

Olhados de cima a baixo na delicatessem

Um nós que desata nós e faz laços em abraços sinceros

Lágrimas cedem a um riso de leveza

De não ir mais de encontro à sua verdadeira correnteza:

A arte que é completa em qualquer parte

E a poesia que navega os mares da magia

O que sobra, no todo ou em parte, dessa beleza

Não é alimento!

É sobremesa!

 

Alyne Costa, 27/09/2023

 

 

 

Monday, September 25, 2023

 Perdoai. Mas eu preciso ser várias em mim, às vezes boneca de chita, noutras caixinha de porcelana com cetim. Alyne Costa, setembro de 2023

Sunday, September 24, 2023

 

Solidão de Domingo

Reparem que domingo é um dia de reflexão. Eu costumo refletir aos domingos, acho que até me atrevo a dar uma volta pela manhã, mas chega uma hora que o que eu quero mesmo é ficar só.

Essa solidão que já combina tão bem comigo e que eu costumo ser eu mesma meu abrigo. E aprendi a gostar de rabiscar alguma coisa aos domingos para que ele ecoe meus pensamentos, o sentir e às vezes faço alguma coisa para comer.

Ai hoje me peguei com aquela frase clássica de Clarice acerca da poda de defeitos. Todos nós temos um defeito que não podemos abrir mão, um não, às vezes uma multidão. São defeitos de estimação, como temos amigos e parentes prediletos. Livros, sabores e vícios. Temos coisas que preferimos e isso é tão natural como não acertar o primeiro beijo.

Indecisão me dói na alma, mas eu pago o preço. Está todo mundo querendo ir embora, como se Drummond sussurrasse: “José, para onde?” Alguns lugares costumo conjugar no pretérito perfeito.

Já me doei de doer a pessoas que nem me lembro, mas saí de órbita por um tempo e quando voltei eu não me encaixava mais no mesmo mundo, nem no mesmo modo de viver, a minha fundação estava enferrujada e eu já não me permitia mais recomeços.

Não sei se era eu que não me encaixava no mundo, ou o mundo havia se fechado para mim, pelo menos, a velha forma de viver, já morrí tantas vezes, talvez meu coração seja uma exposição de arte gótica, mas respeito enormemente cada faceta do tempo que vivi, a minha criança curiosa, a adolescente rebelde e a mulher criativa que nasceu, ou melhor, sobreviveu.

Ora ostra, ora um mosaico de fragmentos divididos entre outras vidas, sinto um passado distante tão presente e todos os meus fantasmas costumam me visitar aos domingos, preciso dialogar com eles...

 

Alyne Costa, 24/09/2023

 

 

 

 

A Poesia Brota

 

A poesia brota quando a gente muda

Quando a gente emudece

Quando a gente cresce

Quando um amigo aparece

 

A poesia brota quando a gente sente

Quando a gente entende

Quando a gente surpreende

Quando a gente aprende

 

Brota, quando a gente sobrevive aos inimigos mais vis

Às ciladas tramadas

Às guerrilhas mal contadas

 

Brota, quando a gente enfrenta as tramas

E quase meio louca, canta com a voz rouca

E meio cega, surda, muda, insiste e tira a roupa.

 

Alyne Costa, 24/09/2023

 

Saturday, September 23, 2023

 

Rota

 

Meus heróis estão todos cansados

E meus ombros já não suportam o peso das minhas dores

Não tenho mais esperança nos caminhos de outrora

E o teto está repleto de angústias desenhadas

A poesia triste é meu abrigo sincero

Meu sorriso invisível mora num cheque em branco

Meus sonhos todos mal interpretados

E as cartas do baralho mentem, corruptamente

Asperezas e incertezas, fatiadas em sobremesas

Vou-me embora porta afora

Vou-me

Vou-me

Vou-me para um lugar incerto

Para um reino perdido de Deuses e prantos

Não há para traição acalanto

Nesse reino de maldade e desonestidade

Apenas os morcegos voam

Rendo-me à espera da tal indesejável

E a solidão se faz ponte

Entre o que se foi e o que não mais virá.

 

Alyne Costa, 23/09/2023

Thursday, September 21, 2023

 

Pietá

No silencio escuro da noite que iniciava, o menino voltou ao colo da mãe e chorou.

Suas lágrimas não possuíam mais rebeldia, nem molecagem... Eram lágrimas de dor, aquelas dores de um deserto na alma que as mães não conseguem calar.

Balbuciou segredos, rogou por uma fuga geográfica, talvez algumas reminiscências de infância trouxeram lembranças daquilo que não se pode mais viver.

Quantos segredos moram no deserto da solidão nos apartamentos do centro?

Saiu desnorteado pela porta sem nada dizer.

Deixou no ar o suspense e o desequilíbrio de um idoso taciturno que, teimoso, não pede ajuda.

À mãe só restou uma vela acesa, no imenso caos de si mesma.

Alyne Costa, 21/09/2023

Thursday, September 14, 2023

 

Sentidos

 

Sou flor de sentimento

Presságio

Pressentimento

Sou rosa do deserto

Sem endereço certo

Ré primária

Rocha calcária

Trago desejos em potes e a conta-gotas

Tenho mistérios e miragens

Segredos escondidos nas paisagens

Às vezes água cristalina de piscina

Noutras alma lavada em enxurrada

Mas sigo, sem rumo certo

E digo baixinho como miado de gato:

Poesia não se guarda em porta-retrato.

 

Alyne Costa, 14/09/2023

Monday, September 11, 2023

 

Telefonema

 

Um dia um cristal quebrou

Os cristais quebram

A louça suja

O cachorro late

Alguém come água para chocolate

O setembro é amarelo

Emicida representa

Tantos ausentes presentes

Na vida que segue enquanto vidas se ceifam

Tanto tormento

Armamento

Tanta miséria na contramão

Vidas ceifadas, obliteradas

O preço do bife caiu

Viva as manicures!

Abaixo os telefonemas!

Meio fora de tempo de propósito de inopino

Sobra a mentira

Farsa desgasta

Doeu

Menos em mim

Mais em quem deu

Doerá pra sempre

É eterno o presente.

Nunca esquecerei como numa cena de cinema

O Jogo e o Telefonema.

 

Alyne Costa, 11/09/2023

Wednesday, September 06, 2023

 

Absoluto

 

Quero mil vezes me desesperar

Me apaixonar, sonhar, voar

E, mesmo com desespero

Fabricar meu tempero

Acender os castiçais e perfumar travesseiros

Acender velas e mandar flores

Já não há temores

E, nesse abismo entre você e eu

Há uma fonte de mil quereres

Pouco importa os saberes do mundo

Se meu sonho é o profundo

O enigma, o mistério e o absoluto

Dor e Amor.

Alyne Costa, 6/09/2023

 

Wednesday, August 30, 2023

 

Laço

 

Num passo, te enlaço

E, se me perco, te acho

E, se te acho, me perco

Num catálogo de endereços

Numa loja de adereços

Não há mais relicário, nem telegramas

A escrivaninha está sozinha

Na vitrola qualquer musiquinha

Ghost

E se tropeço, não caio

Tudo que não cumpro, um percalço

Tudo diferente e um mundo ausente

Enquanto coloco no meu coração de aço

Uma tela em branco e um laço.

 

Alyne Costa, 30/08/2023

 

Thursday, August 24, 2023

 

O Poema Amanheceu

 

Hoje eu fiz um poema de encantamento

Encantamento com a vida que aflora

O carteiro lá fora

As cores da aurora

 

Hoje eu fiz um poema pra lua

Para a saudade nua

O barco que flutua

A moça da rua

 

Hoje eu fiz um poema pro tempo

Pro balão no vento

Pra flor do momento

Pro meu sentimento.

 

Alyne Costa 24/08/2023

Thursday, August 17, 2023

 

Ser mãe não é qualquer coisa

Ser mãe é uma premiação divina que nada subestima, é o maior de todos os dons. O dom do prosseguimento da vida. Talvez por isso Drummond disse que “Mãe devia ser eterna”. No coração dos filhos toda mãe o é.

Sentimento de mãe é algo que move, remove qualquer obstáculo. Mãe sente, mãe pressente, amor de mãe é comovente.

Das decisões de minha vida tem uma especial demais, ser mãe. Acordar de madrugada só para conferir se o bebe está respirando, preparar a papinha, levar à escolinha, ensinar a tarefa, rir das rebeldias de adolescente.

Ser mãe não tem palavras, a gente simplesmente sente...

Alyne Costa, 17/08/2023

Saturday, August 12, 2023

 

Naquele tempo parecia ter o céu um azul mais céu. E as nuvens costumavam brincar como carneirinhos correndo soltos ao vento. Só faltava mesmo o verde de uma colina qualquer.

E ele costumava me acordar antes do nascer do sol para ver os primeiros raios aparecerem do alto do morro.

E me levava em seus braços. Eu, ainda sonolenta, sentia aquela alegria única de ver o mundo amanhecer naqueles braços, meu porto. Tirava-me da cama, sem coberta e eu era despertada pela brisa fria da manhã da vida.

E caminhava comigo ouvido o cocorejar dos galos, a doce melodia do dia que chegava. E não lembro mais de nenhuma viv´alma que presenciava aqueles momentos. Tão meu e dele. Só nós protagonistas. E eu sorria o riso mais aberto do meu coração em flor. Eu sorria a plenitude daquele amor.

Atravessávamos o quintal e o pé de manacá ao lado do portãozinho do fundo parecia dar até logo. E saíamos para desbravar o mundo novo do dia que nascia. Eu vestida de inocência, ele despido de ambição. E chegávamos no morro. Ele me erguia para perto do céu. O sol me abraçava. E a vida me intimava a crescer.

E meu pai, quando me acordava antes do dia nascer. Me mostrava que a vida seria assim... Sempre. Um convite. Uma dádiva. Inevitável fenómeno.

E seus braços me guiavam à  sensibilidade. Talvez um batismo no mundo dos sentidos raros. Mas meu pai, ao som do cocorejar dos galos e do canto dos primeiros pássaros, me acordou pro amor. E o nosso amor foi sempre um amor puro, extrato, fina essência, azul de matizes de um céu que amanhece. E até hoje, quando preciso acordar na vida antes da vida amanhecer, sinto-me em seus braços, porto das minhas aflições. Desperto-me com a brisa fria dos recomeços. Costumo sorrir plena, repleta de um amanhecer e mais perto do céu.

 

Para meu pai, João Roberto, 2004

Sunday, August 06, 2023

 

Às vezes o dia tem gosto de saudade de um tempo, um pequeno momento...

E a gente fica fina flor de sentimento.

Sentimentos muitas vezes transformam-se em ausências, algumas doloridas e outras refrescantes.

Um texto desses que circulam nas redes trata de “quando a casa dos avós se fecham”.

Quando perdemos nossos avós perdemos uma boa parte de nossa esperança.

Saudade tem recheio de goiabada cascão e a gente teima em sonhar na contramão.

A gente tem certeza do dedo de Deus em muitas coisas e em momentos, por sermos humanos e imperfeitos, não conseguimos ser leves e falhamos. Outras falham com a gente e, ou vem o perdão ou o esquecimento.

Porque lembrança tem que ser boa. A alma sorri com as lembranças boas, aquele abraço sincero, aquele sorriso cúmplice, a indignação no olhar que u amigo entende e acolhe outro amigo.

Lembrança é quase compaixão, quando nos encontramos com um pedaço de nós mesmos que não se perdeu no emaranhado do tempo.

E uma musiquinha toca leve como um violino.

E a gente pensa que no silencio talvez more a voz de Deus ou a nossa voz pedindo um pouco de paz.

Paz de criança que cansa na dança do vento e por um momento brincou de ser aprendiz.

 

Alyne Costa, 06/08/23

 

Sunday, July 30, 2023

 

De como eu deixei de me preocupar com “o silêncio dos bons”

 

Sinal que não eram tão “bons”... Sem querer me aventurar nesse domingo de quase agosto com a visão maniqueísta da vida, porque entre os bons e os maus há um grande abismo e uma ponte que se há de atravessar.

Existe uma distância enorme entre ser bom ou mau. Se você vestir todos os rótulos que lhe colocam, se acreditar em tudo que dizem a seu respeito você está dando permissão para que oprimam e uma permissão enorme.

Eu levei quase meio século para compreender que o Direito por mais necessário que seja não nos traz receitas de felicidades e que ser feliz é uma decisão diária.

Escolher nunca foi tarefa fácil e eu busco saídas para ser feliz e fazer feliz. Aprendi a me retirar serenamente, como se nada estivesse acontecido, e, se minha presença não satisfaz, eu tenho encontros maravilhosos comigo mesma e com o que me circunda.

Fazemos escolhas o tempo inteiro: o que comer, o que ler, aonde ir e somos, irrefutavelmente somos, responsáveis por elas.

Não estranhe, os bons se calarão mil vezes porque ser bom também é uma escolha e ser humano na luta diária é um processo de um longo aprendizado que se chama Vida.

Também não acredite nessa coisa louca que o mundo está perigoso, o mundo sempre o foi e no final das contas a gente sobrevive com coragem, habilidade e um pouquinho de perspicácia.

Pé que não anda não leva topada e, como cantaram os meninos lá de Minas, aqui também é bom lugar de se viver, mas caprichando nas escolhas...

E “bom lugar será o que não sei, mas será”.

Capricha no domingo, no fundo no fundo, sempre foi entre você e você mesmo.

 

Alyne Costa, 30/07/23

 

Thursday, July 06, 2023

 

Como Cazuza

 

Cheguei à conclusão que preciso de

Ilusão

Para tornar leves os dias

Calmaria

Para buscar razão pra sonhar

Amar

Para me perder em meu destino

Desatino

Cazuza não estava errado, também quero um amor...

Inventado.

 

Alyne Costa, 06/07/23

 

Sunday, July 02, 2023

 

Declaração

Enquanto ele vestia a calça olhou para mim, com brilho no olhar...

- Enquanto eu visto essa calça para passear eu vou dizer uma coisa que eu nunca te disse antes.

E, vestindo a camisa do Vitória, prosseguiu:

- Você é a pessoa mais especial da minha vida e o Amor mais importante porque se não fosse você eu não estaria aqui, eu não estaria aqui com essa calça e essa camisa, eu nem estaria aqui, porque de tudo que você já me deu, você me deu a coisa mais importante para qualquer pessoa, você me deu a vida e eu Amo Viver.

Victor para mim, em junho de 2023.

Sunday, June 25, 2023

 Me vens com vinho e Neruda

Te dou Adélia Prado e Arruda


Alyne Costa, 15/06/23

Friday, June 23, 2023

 

As Fogueiras do Meu Avô

As fogueiras do meu Avô, aquelas que ele acendia, com suas mãos grandes e grossas não existem mais, porém nunca apagarão suas chamas.

Ele separava o pedaço de lenha que na manhã seguinte viraria o tição daqueles em que se assa milho e batata e acendia, num ritual que só a ele pertencia, nenhum filho, neto ou amigo lhe roubava essa tradição.

Nos anos de muita dificuldade, por vezes, não tinha fogueira e à meninada fascinada naqueles fogos de artifício que, certamente, só traziam benefício, corria pras fogueiras vizinhas e Ele chamava Vó e ia cumprindo a tradição: de casa em casa e assim, reciprocamente. Lembro de uma iguaria sem igual, o arroz doce de Ivone, ainda no tempo do Finado Loro, uma das coisas mais gostosas que já provei.

Apagou-se, na velhice a chama da fogueira da vida de meu Avô e lá se foi meu coração pelejar em outras plegas, conhecer as fogueiras da Chapada, lá se foi meu encanto por essa noite que ainda aquece meu peito de saudade porque é noite de festa, mas eu prefiro sentir saudade e quem disse quee saudade, não nos traz ao menos na lembrança uma esperança que tem que tiquinho de felicidade?

“Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo?”

Alyne Costa, 23/06/2023

 

Thursday, June 22, 2023

Noite de São João

 

“Olha pro céu, meu amor.”

De todas as noites, a mais linda

Há algo que aquece e aproxima

No céu nunca triste, toda lembrança resiste

Fogueiras e estrelas e toda delícia que existe

Uma sanfona embala o coração

Uma alegria em forma de paixão

Bandeirolas meninas enfeitam o que se chama vida

De uma noite eterna de São João.

 

Alyne Costa, 23/06/23

Thursday, June 08, 2023

Mais Uma de Inverno

 

Ternurinha de inverno é pão na chapa quente

Torrada no azeite por puro deleite

Um incenso de sândalo e arruda de enfeite

Pra que não vingue qualquer mal querença

E saravá de virose, gripe ou fibrose

Que os chás sejam curadores com encantos

Que os sinos ressoem e levem quebrantos

Ternurinha de inverno é pão com geléia

Trago em charuto pra agradar caboclo

Uma colcha macia e um chinelo roto

Beijo na boca do garoto maroto

Filme de Woody e muito café

Na sala de espera uma quimera qualquer

Rever amigos, criar abrigos e ter prudência

Dizem que o mundo anda: Polarizado.

Acho que algum coisa ruim botou foi mau olhado.

E se não tiver jeito, stentes no peito.

Ternurinha de inverno tem sopa e manjericão.

E, alguma poesia, na palma da mão.

 

Alyne Costa, 8/06/23

 

Tuesday, June 06, 2023

 

Poetas Anônimos

 

Quando as horas acabam imensas

E os rios cansam

E um frio perfura a alma de esperança

Restaremos despidos e cantando

A chuva que cai sonhando

Já não tem qualquer tradução

Somos mambembes e saltimbancos sem tamancos

Os dias frios são plenos de recordações

Releio ávidas as placas de interrogação

A minha loucura mora assombrada na sua graça

E os meus pés frios pedem cochilos de ternura

No rádio eu ouço Sinônimos

E choro por todos os poetas anônimos.

 

Alyne Costa, 06/06/23

Monday, May 29, 2023

Como um bem-te-vi

 

“Quero ficar no seu corpo como tatuagem...”

 

Como um bem-te-vi

 

Indelevelmente, vivemos...

Sonhamos e construímos.

No meu castelo de areia vive uma sereia

Uma sereia menina com sina de bailarina

As sereias da Bahia possuem algo mais que magia

Suas tranças libertas se escondem nas cobertas

E, nesse inverno atenuado, quase sagrado

Regado a licor e bom bocado

Costumam não se acasalar

Diria um Jorge de certo bem Amado

- Balaio Fechado.

Faço contas na agenda

Anotação é lenda

E dinheiro vai e vem

Vida que é boa é algo além

Além de tenda, encomenda e talvez uma reprimenda

E, de tanto amar, diante desse mar imenso e denso

Aguardo esse moço

Para dá-lo um amor de profundeza atlântica

Que desafie as regras da semântica

E que pouse leve na órbita torta da minha vida

De certo, um pouco sofrida

Não tão ágil como um colibri

Mas, talvez, certeiro

Como o canto do bem-te-vi.

 

Alyne Costa, 29/05/23

 

 

Sunday, May 07, 2023

 Para tudo

Hoje eu sai da casa de mammys pra voltar pra casa e não tinha buzú nem dos amarelinhos...

Eu de mochila nova nas costas, arrisquei a pedir carona porque tenho medo de uber, entoces, como ninguém deu carona pra uma maluca de bata, havaianas amarelas e uma bermuda horrorosa (pensem numa coisa horrorosa) que eu comprei por uma fortuna num hortifruti aqui perto.

Ai passou um táxi e eu dei sinal, genteeeeeeeeeeeee, para o mundo aê, o cara do táxi era um menino lindo, maravilhoso e eu estava com tinta no cabelo, quando eu olhei para o rapaz, me lembrei de Lucas, o tenente tipo o gatinho tinha no máximo 30 anos e eu falei:

-Você é um gato!

Ele riu a risada mais fofa da face da terra.

Aí eu perguntei de onde ele era e sabem o que ele me respondeu?

LAPINHA...

Ai meus sais, eu perguntei é o que menino?

Fala sério que você é da Lapinha!

Aí cara no fim da rua tinha uma viatura, aí eu falei pra ele:

"-Polícia para quem precisa!"

Eu tô com essa música na cabeça!

A viagem curtinha e ele parou na minha porta, eu perguntei :

-Posso te dar um beijo?

Ele deixou e eu beijei no rosto e pedi desculpas porque eu estava com tinta no cabelo.

O meu Eduardo não achou nada estranho...

Estranha e louca sou eu que perguntei se ele era casado, ele foi extremamente sincero e disse que era e tinha uma filhinha, deixei o boy magia seguir seu destino em paz.

Porque apesar de Marcionílio estar certíssimo em pedir o táxi pra levá-lo para a purificação, eu tenho consciência e não ia acabar com a vida do pobre rapaz.

Ainda mais que eu estou apaixonada.

Fim de papo que já dei bandeira demais.

Alyne Costa, 7/05/23

Tuesday, May 02, 2023

Sonhos


 

Os poetas nunca adormecem

Em algum lugar as auroras nascem

E os sonhos não fenecem

Os poetas nunca adormecem

Tomam uma média numa padaria

Preparam a ternura mãe da alegria

Os poetas nunca adormecem

Procuram moedas no catavento

São sonhos vivos a todo momento

 

Alyne Costa

Prisma

 


 

Por favor, um café com tatibitate...

Se a gente não vacila

Brota Arte.

 

Alyne Costa

Saturday, April 22, 2023

Mundo cão e meu cão

 

“Sabe esses dias em que horas dizem nada?”

 

Mundo cão e meu cão

Vive-se um tempo, potencialmente, tristemente, esquisito...

Hoje eu resolvi dar uma volta com meu filho e meu cachorro, meu filho protelou, protelou, mas foi.

Subimos a rua e meu cachorro que pula como um cabrito, ia alegre e saltitante, entramos numa rua sem saída e deserta, feriadão e eu sem noção de que vivemos a era do “grande irmão”, achei que poderíamos ter um pouco de privacidade, enganei-me.

Fui vendo a rua e de repente uma criança grita:

“Ei, cadê você?”

Imaginei que brincava de esconde-esconde.

O jornaleiro passou em sua moto e jogou um jornal, não era bem o horário certo...

Um dos porteiros ouvia rock bem alto, a-do-rei!

Lembrei-me da doce Inês cuja casa ouvi pela primeira vez: “Titia que morava na Colômbia chegou, riu de mim porque não entendi...”

Um pouco mais tarde ví um curta excepcional, li alguma coisa, joguei conversa fora.

Tem um livro que eu nunca lí: Morangos Mofados.

Estou de fato emocionalmente exausta, nada me faz mais falta, dizem que solidão vicia e eu sou somente uma aprendiz do amor.

Alguns dizem que devo aproveitar a vida, que estou de boa.

Quem está de boa nesse deus dará?

Nesse calor infernal?

Confesso que cansei, tudo que eu queria era chorar, mas minhas lágrimas sumiram.

Eu só penso na capa de um livro que eu vi: “Porque pessoas inteligentes cometem erros idiotas?”

Porque já está todo mundo pensando nas eleições municipais se ainda nem nos recompomos da exaustão das presidenciais?

O pessoal quer guerra, confronto, caos...

Fico com Raul:

“Entrar pra história é com vocês”.

Alyne  Costa, 22/04/23

 

Saturday, April 15, 2023

A rota

Entre fugas e buscas

Os holofotes se apagam

Os heróis se calam

Paradigmas se evaporam

No caos, no cais

Apenas um beija-flor sobrevoa

Feito chuva farta na horta

Uma garrafa de vinho sobrevoa um mapa

Três Américas

Três estrelas

Três canções

Sobraram enigmas e corações


Alyne Costa 15/04/23

Wednesday, April 05, 2023

Uma noite dentro de um filme

 Nos bons tempos da Sala de Arte do Bahiano, vi alguns filmes muito bons, ir ao cinema era um refrigério...

Certo que aquela sala em especial tinha seu charme particular, ali encontrei e vivi cenas e flagras inesquecíveis. Mas não vou entregar ninguém, não dessa vez...

Tá tudo certo em construir delicatessem, espigão underground e talvez alguns binóculos indiscretos de alta resolução, bem, não vamos delirar... Vamos adoçar as palavras, usar de alguma leveza no olhar, porque não dá pra fugir do que por aí está.

Essa semana fui parar na emergência, evitei ao máximo, peguei um táxi (sim, eu pego táxi!) com um carinha fã do Chiclete até o Canela, voltei pela Vitória e o verde e o vento aliviaram a dor... Mas fui na emergência e juro, era um filme de Almodóvar...

Tramal, Dramin e Captropil e eu ligadaça pra não perder um lance. Uma moça de preto abriu as mãos cheias de pedras e me disse que eu ia ficar boa porque eu vestia lilás.

Pausa para a enfermeira que queria comprar uma moto! Concordo com ela!

Apareceu um crush, cismou que me conhecia (não sei quem é, tava de máscara), tava com uma tia (que bonitinho) e meio sem jeito pra levá-la ao banheiro e conversa vai, conversa vem, saiu pra ficar lá na ala da moça dos cristais. E antes me disse: - Vc é uma pessoa boa! Eu disse que sim quase me esquecendo do meu lado Malévola, mas é verdade eu sou uma pessoa boa e engraçada.

De repente chega um ruivo muito doido, com os olhos bem arregalados acompanhado de um rapaz bem miudinho com um brinquinho delicado que só na orelha, eu achei o casal meio desproporcional e tive medo daquele ruivo me meter o murro na realidade. Esse "Na realidade" aprendi com meu amigo que me ensinou a nunca esquecer a identidade e a chave de casa, ah, há coisas que só se aprende com os amigos gays.

Remédio acabou e eu quietinha, ultra bem comportada, quando pouso os olhos numa personagem new wave sentada na minha frente, a mocinha de cabelos cor de rosa, terno de tracinhos brancos (podiam ser bolinhas, eu enxergo muito mal e ainda não adquiri os óculos porque gasto demais e no dia que resolvi comprar reparei que os gatos haviam mijado na receita).

O tênis na mocinha era amarelo com quadradinhos pretos, meu Deus! Eu já tenho coisa demais! Vejo coisa demais e escrevo bobagem demais. Conversei com ela e depois o rapazinho magrinho me disse que os enfermeiros eram bons e eu concordei e acrescentei que era muita responsabilidade.

Enfim, fomos liberados, só uma saiu por conta própria, outra seria internada e o ruivão, graças a Deus, não voltou a tempo de me dar um murro!

Dei no pé e deixei o crush na outra ala trocando instagram com a moça dos cristais, enfim, saí correndo, se o crush for esperto me acha, se não for, que lamentável, vida que segue, vamos na sincronicidade, moça, cristais, UFBA, New Wave, a médica, ah! Se chamava Natália.

Shiva Om, a moça dos cristais estava de preto e meu talismã de Mercúrio escondido na mochila. Esse ninguém sabe, ninguém viu.



Tuesday, March 28, 2023

Atrevida


Sou comovida com outonos

Tardes nubladas de frio e neblina

Para alguns: Irreverente

Importante é que sente

Dispenso rótulos

Me edifico ora em cismas e ora em pedacinhos de ciúmes

Há coisas que muito me aprazem

Sopa de abóbora com coentro

Sou única e coletiva ao mesmo tempo

Gosto de vestidos tipo comprida sem roda

Na linguajem de minha avó

Respeito abismos e saudades

Anoto meus sonhos em alto falantes

A minha liberdade é cheia de atrevimento

Mas no cinza dessa dor aguda e atroz

Restaram eu, a xícara e o sousplat sobre a mesinha de cabeceira.

 

Alyne Costa, 28/03/23

Sunday, March 26, 2023

O Sexo dos Anjos

 

O Sexo dos Anjos

Era final da década de 70, pertinho ali da sorveteria Primavera no Relógio de São Pedro. Mais precisamente esperando um Vibensa.

Meu pai adorava me fazer participar de seus encontros com amigos talvez daí tenha vindo minha precocidade e curiosidade, se ele pensava que eu só estava passeando estava redondamente enganado, eu gravava tudo e ainda contava pra minha mãe.

Nessa ocasião ele estava com Guto e eu adorava Guto porque ele gostava da minha presença. Sei que conversavam muito, meu pai com sua filosofia e cheio de questões que nunca acabavam.

Naquele tempo os camaleões enchiam a Piedade e já era quase noitinha quando Guto deu uma bela resposta a meu pai:

“-Ah, João! Não vamos discutir o sexo dos anjos!”

Aha, ali eu peguei na hora e guardei aqui na cachola. Não perguntei na hora porque eu estava pensando em outra coisa, mas quando voltávamos para casa, arrisquei:

-Pai, o que é o sexo dos anjos?

Não me lembro da resposta e sempre que alguém me vinha com perguntas que não acabam mais, uso a expressão, mas somente hoje descobri sua possível origem histórica! Em Constantinopla.

A vida e a poesia me deram a felicidade de reencontrar Guto já na maturidade num dos lançamentos de José Inácio, creio que no livro Sete se não me malha essa memória um tanto cambaleante em decorrência do mundo pós pandêmico (quiçá, quiçá, quiçá).

Guto é um poço de ternura e talvez o único amigo que meu pai não tinha nenhuma teoria persecutória, bem, vamos nessa que eu vou ler um pouco de Zélia . Talvez eu também precise de um pouco mais de praticidade.

 

Alyne Costa, 26/03/23

Saturday, March 18, 2023

Contemplação

 

 

Onde mora o absurdo que se transmuta em guerra?

Seria por acaso o sangue o preço do metal?

Nada mais imoral açoita a terra.

Matança: planta, gente e animal

 

Porque lutam bravios soldados?

Que vale mais que um fuzil?

Na terra ainda existem belos fados.

E um céu cinzento prevê o anil.

 

As cinzas e a carne não destroem a ganância

Mil cruzes não superam sublime dor

Amor, sabor e esperança

 

Sempre há de sobrar um sonho na distância

Tardes cinzas escondem o perfume e a flor

Café, poesia e dança.

 

Alyne Costa, 18/03/23

 

 

Sunday, February 26, 2023

 


A cadeira de Van Gogh - 1888


Manhã de Domingo

Por um tempo havia em minha sala uma réplica de Os Girassóis de Van Gogh que morava ao lado de uma fotografia de Sebastião Salgado do MST, com uma mulher com um filho no colo e outro segurado na barra de sua saia, enquanto seu braço direito estava erguido na posição de luta.

A temporalidade da vida rabisca tudo e os girassóis também se desbotam, como tudo vai ganhando novas nuances... A idade que chega para o ser humano também chega para objetos, idéias e movimentos.

Sentimentos também perdem a cor com o tempo. Lembro da frase de minha amiga Ró: Todo mundo tem 15 anos em algum lugar do coração.

A arte tem um condão de nos mover e comover em diferentes direções, infância e adolescência, eu gosto de dividir detalhes e me disseram que isso era bom pra conviver, mas não, não caí nessa cantada, caí foi num golpe.

Águas passadas não movem moinhos, a não ser que você veja e reveja mil vezes uma cena de cinema, ouça uma canção que toca o coração e vai tocando a vida como uma toada, relendo antigos versos, lembrando da tabuada.

Num determinado momento, aposentei os girassóis e a fotografia do Sebastião que também sabia como Nando Reis que o mundo é bão.

Imagens são símbolos, signos e movimento na vida. Como já foi dito, viver requer paisagem, riscos e sacanagem.

Hoje é domingo e pede cachimbo.

Alyne Costa, 26/02/23

 

Saturday, February 25, 2023

Um verso

Per-verso

Que sinto - voando feito borboleta

No meu labirinto.

Alyne Costa, 25/02/23

Tuesday, February 21, 2023

 

Fim de Carnaval

O primeiro carnaval do resto de nossas vidas vai se findando...

Os olhos passeiam pelas versões digitais dos principais jornais, sim, menos violento máxime se nos atentarmos que estava todo mundo com energia presa, doido pra soltar a franga.

Ai, Jesus, uma expressão homofóbica...  É uma unanimidade o Carnaval de Salvador é uma festa alegre, tanto que todo mundo corre pra cá e quer beijar, dançar, pular e ser feliz, eu fiquei na cocó mesmo, ia pra mudança se não tivesse caído o cacau na manhã em que me preparei pra sair.

Já no furdunço, o único dia que aventurei sair, falei pra um velho amigo que fica circulando que se eu não o encontrasse havia algo errado na Bahia (de hooooje! Né?).

Ninguém sabe onde ninguém tá, quem viajou e já voltou, quem ficou e nem quem ficou com quem.

Eita, caindo de novo um toró aqui e hoje tem pipoca, vai chovendo mesmo...

Françoise Hardy num volume modo não perturbador... Lendo Quintana depois de cozinhar alguma coisa e dar uma caminhada.

Escrevendo essa coisinha aqui só pra prestar prova de vida porque todos nós sabemos que o ano começa mesmo é depois de amanhã, feliz 2023!

E... “Deus me livre de não ser baiano, de não ter carnaval todo ano.”

Alyne Costa, 21/02/23

Thursday, February 16, 2023

Poema Sem Nenhuma Importancia

 Que importa a simplicidade dos meus versos?

Um pouco das minhas indelicadezas.

Se deixo ou tiro o bigodinho chinês - a gosto do freguês?


Que importa se não grito aos quatro cantos meu amor?

Tu bem o sabes.

Tu conheces bem os meus suspiros e o sal das minhas lágrimas na madrugada estridente?


Que importa um não entender de todas as coisas se todos os meus versos não são secretos?

E, saiba, plenamente, saiba, todos eles falam do meu amor.



Para meu filho Victor.

Tuesday, January 24, 2023

 

A calçada da fama...

Que baiano é presepeiro não há dúvidas, mas não é assim de qualquer jeito, a presepada tem que ter requinte...

Por exemplo, parece que a música foi feita pra gente e dois anos de abstinência de carnaval subiu pra cabeça de todo mundo e agora no verão, oxi, carnaval já começou faz tempo, vu?

Tá todo mundo em pleno carnaval, ou se sentindo, ou se achando e isso vai de mamando a caducando. Se der uma volta na Barra você escuta a babel, vááários idiomas, todos bem vindos, é claro... Eles ajudam e muito, tanto no consumo de bens e serviços quanto no aluguel por temporada. Aqui no prédio eu estou cheia de vizinhos novos, já no dia 31 quando ia ao mercado encontrei duas moças e um rapaz na casa dos seus vinte e poucos anos esperando o portão ser aberto para, purucutuf, adentrar o prédio e eu de bom dia, boa tarde, boa noite, nem sempre nessa ordem, obviamente...

A prefeitura desde 2022 vem trabalhando nas calçadas desde lá de cima, do Largo  e veio descendo a rua, até a delicatessem famosa não escapou, e eu pensava: Eita que quando chegar lá vai render! E não deu outra!

A bendita da ladeira é a via preferida dos que vem do centro pra Barra e já teve até arrastão num carnaval ai, e lá vem os pedreiros pra nossa humilde calçadinha, só que quem de direito não avisou aos mais sensíveis e, se avisou a alguém, se alguém vai ter quer arcar com alguma irregularidade também pianinho...

Ontem encontrei um vizinho na calçada da fama que me destrinchou a história num breve relato, mas, enfim, a calçada da fama ficou até bonitinha, não sei até quando, mas ficou, e eu que não tenho pra onde ir carnaval, não sou peru pra morrer de véspera, “com dinheiro ou sem dinheiro, eu me viro em fevereiro, fevereiro... Fevereiro...” Ai que saudade do Guetho!

Alyne Costa, 24/01/23

 

 

Friday, January 06, 2023

 

Indelicada, porém honesta.

Repararam bem que a vida moderna está repleta de indelicadezas? Num pequeno delírio parece que a humanidade colocou um chip depois dessa pandemia.

O egoísmo se tornou mais egoísta e a vida se gasta com pequenas insinceridades cotidianas. A vida está difícil, sim, complicado lidar com pessoas que fazem você acreditar nelas e só nelas porque o outro não tem importância.

Não é caso a ser estudado, é a realidade, é fato. Há um provérbio chinês que diz “não há que ser duro, há que ser flexível”.

Felizmente minha flexibilidade (até hoje) tem garantido a minha sobrevivência. Ouço de Pitty a Odair José e juro que não estou esperando alguém para ficar comigo, mas pra me tirar desse lugar!

Aprendi a não esperar mais nada. E minha paciência está no limite. Salvador virou uma selva e o Porto da Barra não é nada seguro, mas muito mais gostoso que as praias de Trancoso.

Tá é tempo novo, Lula voltou, mas como se curar quando o país está adoecido? De cabo a rabo. Há salvação! Na tentativa de evitar que meu cachorro atacasse uma vizinha bati a porta e esqueci a chave dentro. Minha vizinha de baixo me acolheu com meu cachorro e pagou o chaveiro.

Consegui adentrar em casa, tudo certo na Bahia, mas como diz meu filho, ninguém come poesia.

Foco, preciso de foco, fé e coragem. Eu já botei fé na rapaziada, hj só dá pra acreditar numa parcela da juventude. A que estuda, a que pensa, se move e se comove. Não dá pra botar fé nem mesmo na minha geração se alguns persistem com o mesmo modus operandi: fé cega, língua afiada.

A vida dos outros pode até ser interessante, mas viver a sua (garanto!) e em off é muito mais gostoso porque a maledicência é um veneno espiritual e você não é a cigana Sandra Rosa Madalena de Magal.

E os bancos continuam os mesmos, a falta de praticidade e criatividade das pessoas assusta, e a novela previsivelmente entediante segue como uma nau sem rumo! Coitado do irmão coragem.

Vou tomar um banho, bloquear um infeliz aqui no Instagram porque eu não joguei pedra na cruz e cuidar da vida.

“Para curar um amor platônico, só uma trepada homérica.” Leminski

Alyne Costa, 06/01/22