Tuesday, November 21, 2023

 

Lembranças

Moram nas minhas lembranças não somente os amores que vivi

Os afetos sinceros que colhi e sei bem quais os são

Também os tropeços e os recomeços

Arranquei à foice a mordaça e uma parte de mim ainda acha graça

Daquela eu que não existe mais

Ah, fim de ano que tens do cotidiano?

Um tanto de desengano recheado de luzes coloridas

Um bocado de luz nas novas feridas

Um desenho rabiscado e um sonho ainda não sonhado

Ah, fim de ano que ficou de aprendizado?

A falsidade que há de ficar no passado.

Que traz de bom?

A esperança dançando na valsa da vida...

Na janela colorida, nas luzes da avenida

E essa minha sanha de mulher atrevida!

Alyne Costa, 21/11/23

Sunday, November 19, 2023

 

“A arte é uma ferida feita de luz.” Georges Braque

 

Há dores concentradas feito chagas na alma do poeta

Que, profeta da vida, atiça esperanças ao vento...

Morando no reino do sentimento.

Ora em riso e ora em pranto

Traz ao coração um acalanto

Feito canção de ninar

Há cores em potes transparentes de flores

Que, perfume do tempo, mora feito brisa no silêncio do vento

E, muda, assombro meu querer que já não tem ciência nem prazer

Há uma velho triste que mora no menino

Um moribundo que balança o sino

Alardeando a morte do que não se sabe

Há uma bruxa na boneca da vida

Que insiste em se fazer colorida

Oposta a qualquer sinal de fim

É breve a vida e nós o sabemos

E, nem sempre, são fartas as colheitas

Os paços são trôpegos no início e no fim

E entre o querer e o amar:

O caminhar...

 

Alyne Costa, 19/11/2023

Sunday, November 12, 2023

 

“E há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende o braço para quem procura carinho e proteção.”

Reflexões de uma mulher que não lava louça

E a vida vai se gastando com cobranças e julgamentos inúteis do quanto se poderia ser e não se é, do que poderia ter sido o dito e acabou omitido, do choro negado a si mesmo quando todos nós precisamos de abrigos de nós mesmos.

E, assim, refugiados do que sobrou de vida que está aí sendo diuturnamente oferecida para ser vivida e nós já quase sufocados nos nossos cataclismas existenciais, deixamos escorrer com pressa e medo.

O quanto se perde do amor verdadeiro com reclamações e autossabotagens, exigindo do outro que faça uma ginástica de alma para que possa caber no porão em que nossos sonhos se perderam antes mesmo que tivessem começado.

Talvez estejamos desaprendendo a ouvir o outro, e, nessa avidez por notícias, cobrando do outro uma perfeição que jamais teremos... Talvez essas coisinhas escritas aqui, sem pretensão alguma, precisem ser ditas para salvar a minha humanidade e dizer que o tamanho do meu amor por essa vida, mesmo doída, ferida e frágil (sim, cuidado conteúdo frágil) é imenso e inclui um universo de pessoas que ora me condenando e ora me absolvendo compuseram a minha trajetória.

Nessa estrada cheia de encruzilhadas, nossos passos muitas vezes se confundem a outros passos e dá vontade de que uma música nos soe favorável, como um bolero ou uma flauta suave no soturno alarido das madrugadas solitárias dessa mulher que odeia afazeres domésticos e escreve porque precisa viver e se comover.

Alyne Costa, 13-11-2023

 

 

Saturday, November 11, 2023

 

Aprendi não ter vocação pra espera...

Complicou? Já era!

Alyne Costa, 2023

Thursday, November 09, 2023

 

Sabores

Reparem bem que tudo tem sabor

Até os dias mais tristes têm sabor dos felizes....

Deveria tudo ter sabor de sentimento...

No peito agora tudo tem sabor de um sorvete:

Ausência, ausência, ausência.

 

Alyne Costa, 09-11-2023

Friday, November 03, 2023

 

Criança não toma conta de Criança

Gente, pelamordeDeus, criança é para brincar com criança e sob a supervisão de um adulto (de preferência, imparcial), jamais pense que uma criança pode ter noção de cuidados.

Quando eu tinha uns quatro anos, meu sonho era ser cabelereira e se alguém me perguntasse o que eu ia ser quando crescer, a resposta vinha na bucha:

- Cabelereira!

Certa ocasião, estava no interior e Marilena veio chamar minha mãe para ir na feira, minha relutou que não podia ir porque não havia ninguém para tomar conta de mim e de Rose (filha de Marilena), mas a moça insistiu que ia ser rápido, que não tinha nada demais e que eu já estava maiorzinha e ia tomar conta de Rose direitinho...

Bem, colocaram-nos num canto com brinquedos e nos deixaram brincando de casinha e lá se foram pra feira...

Não sei quanto tempo demorou, mas foi o suficiente para eu pegar uma tesoura e começar meu curso de cabelereira com Rose... Fui direto na franja e créu, créu, créu, fiz um corte em zig zag e deixei Rose punk.

Foi uma satisfação tão grande cortar aquele cabelo!

Lá pelas tantas ou poucas, as duas mulheres voltaram e Marilena viu o resultado de sua teimosia, fez um horror e minha mãe me defendendo e se defendendo já que ela havia advertido que algo poderia acontecer.

O resultado foi Marilena levar Rose nalgum cabelereiro e cortar de cuia o cabelo da filha. Sei que fiquei anos sem brincar com Rose que só superamos este trauma já adultas quando apresentei um amigo gatérrimo e que acabou namorando com Rose. Já Marilena passou a nutrir um sentimento não muito bom por mim...

Tenham noção, criança não pode tomar conta de criança!

Alyne Costa, 03/11//2023