Sunday, June 19, 2022

Zé Bernardo

 O primeiro "maluco" que me vem a mente é Zé Bernardo. Assim mesmo, com nome composto, com direito à dignidade pelo menos no nome pelo qual era conhecido.

Deveria ter uns 04 anos quando o conheci andando pelas ruas com suas roupas rasgadas, suas feridas que lembravam um São Lázaro, cobertas por tiras de tecido e uma toca de nylon amarela daquelas que se colocava verduras na feira prendendo seu cabelo ensebado.

Zé Bernardo tomava banho num bueiro e pouco lhe importava o mau cheiro, ali sentava-se, rolava e lavava o cabelo.

Ninguém tinha medo dele posto que inofensivo, doce e  sorridente. Só era sujismundo, tanto, que sua pele não se definia...

Todos brincavam com ele, davam-lhe sobras de comida, um pouquinho de farinha, um pouquinho de arroz num saquinho, sendo mantida a distância necessária. Não sei onde morava e creio que ninguém saiba mais pois são incertezas que os invisíveis parece trazer tatuada no DNA!

Se Zé Bernardo sabia ou não sabia eu também não sei... Só  sei que como canta o regueiro... "Andava pelas ruas da Bahia."

Enquanto Chico canta um samba, fala em devaneio, eu vou viajando aqui nessa história. O sorriso de Zé Bernardo está em minha mente feito "tatuagem" talvez para "me dar coragem" coisa   que diria o poeta "estamos todos precisando".

Alyne Costa, 19/06/22

Thursday, June 16, 2022

Outra vez Bandeira

 Eu ia começar hoje aquela história dos malucos beleza, mas veio a lembrança  de um poema de Bandeira.

"Havia um bicho na imundície do pátio."

Veio a lembrança da frase: "Só os loucos dizem a verdade" de Oscar Wilde

"Um dia pretendo tentar descobrir porque é mais forte quem sabe mentir..."

"Aquele bicho, meu Deus, era um homem."

"Se fosse só sentir saudade..."

Tá frio e eu tô afim de um dejavu.

Alyne Costa

Tuesday, June 14, 2022

A Blitz no Buzú

 Carambolas, só quem já passou por uma blitz no buzú naqueles anos 90 sabe o que é adrenalina.

Quem inventou essa história deve ter sido a maledicta (desculpa, moça) Kátia Alves porque isso foi na época do ACM, o Vô.

Lá ia eu voltando do Vieira naquele Comércio R2 da Sulamérica,foi quando a Ipitanga faliu e perdeu o monopólio das linhas de Brotas, me achando a própria turista porque o azulzinho fazia uma viagem.

Eu pegava quase umas 20:00h na lateral do CAV, companhia mesmo só da galera de Brotas e de Ednilson que pegava Rua Direta pra ir pro Uruguai. Ei de confessar que Ednilson (Atual Bigu) me dava uma certa segurança.

O buzú tava passando perto da entrada pra Santa Cruz quando de repente, não mais que de repente, o motô parou e a polícia entrou e botou os homens pra descerem do buzú, a galera toda de costas, mão na parede, pro baculejo, quem não teve uma boa história com esse negócio foi Marcão meu amigo, mas isso já outro livro.

As mademoseiles ficavam sentadas e eram delicadamente vistoriadas por uma Pfem. Foi a primeira vez que eu vi uma PM Mulher. Eu usava uma bolsinha preta e levava os livros na mão o que dava um desequilibrio da Z%R$$#2, apois, lá fui eu, abrindo a bolsa e mostrando a identidade pra Pfem sorridente, mas é claro né que eu tava de butuca no baculejo da galera lá embaixo no paredão que não era ainda esse negócio aí de paredão com caixa de som, pepepê papapá, caixa de fósforo.

Sei que não devia ser uma experiência muito agradável em virtude do semblante dos vistoriados. A parada se deu ali, um pouquinho antes da subida pro Santa Cruz que até parecia uma cidadezinha de interior de tão light, digo isso porque uma vez bateu um sono e eu dormi no buzú e fui acordar no fim de linha do Santa Cruz, o porquê eu não si, só sei que foi lá mesmo e desci do buzú até esperar o outro chegar.

Não tinha nem uma fichinha de telefone pra ligar pra ninguém, mas tinha orelhão sim, bons tempos da Telebahia, meu irmão...

Fiquei lá comendo um milho assado até o cobrador, gente boa, botar uns 4 passageiros no ônibus e ainda bem que tinha passe.

Não sei nem que horas fui chegar em casa, mas eram outros São Joãos... Tirei a farda, tomei um café e uma sopa, acendi um Plaza e fui estudar pro vestibular. O pessoal do colégio me chamava de turista porque eu faltava pra caramba. Vá lá meu irmão pegue um Comércio R2 no Garcia e chegue vivo na Cruz da Redenção que você vai saber o que é turismo hoje em dia.

Dê a Cezar o que é de Cezar, era outra Bahia, e eu já iaaaaaaaa falar: "Vem de lá do Nordeste, cabra da peste".

Mas vamos lá, bandeira branca amor, não posso mais, pela saudade que me invade eu peço: PAZ!

Alyne Costa, 14/06/22