Saturday, December 23, 2023

O que eu não disse a meu amor

Ontem, meu amor fez 29 anos e me arrependo de muitas coisas na vida, mas talvez a que mais me arrependa seja algo impossível, eternizar o seu abraço...

Me arrependo de não ter dito muitas coisas, mas talvez a coisa que eu mais me arrependa é de não tê-lo dito que as pessoas não são nem tão boas, nem tão más quanto possamos pensar, posto que somos todos imperfeitos e que esse processo de viver é muito doloroso e que eu guardo em meu coração materno que sempre perdoa, tudo que ele me disse, as coisas bonitas e as tristes.

Meu pai tem um poema que diz que “ter perdido a inocência” foi a “falência do seu querer” e aqui no peito arrebatado de orgulho de sua véia uma verdade é sussurrada: Para as mães seus filhos são eternamente inocentes!

Alyne Costa, 23/12/23

Wednesday, December 20, 2023

 

Absorta

As cores não me concentram, me absorvem

Minhas multifaces se revelam em matizes

Por vezes sou intensa e loucamente rubra

Noutras, leve azul piscina

Meu bem querer tem cor de dendê

Mexe por dentro feito não sei o que

Enquanto meu gato adormece no meu colo

Sonho com telas e lápis de cor

Das coisas que ainda não rabisquei

Meu cérebro se reparte em instalações

Buzinas, lentes, semáforos me azucrinam

E o que me habita de lucidez navega em oceanos marrons

Sou crespa, ácida e meu peito é pura candura

Se me queres louca, aqui estou

Se me queres aflita, bem mais bonita,

 

Alyne Costa, 20/12/2023

Wednesday, December 13, 2023

 

Mais um ano finda...

Quando eu estava grávida de meu único filho humano, certo dia, num pequeno shopping em Brotas (É, eu tive certos privilégios na vida, um deles foi ter morado em Brotas nos anos 80/90) havia um homem com um turbante jogando cartas, me aproximei dele com aquela curiosidade juvenil e acertei uma consulta e perguntei como seria meu futuro com aquela criança e o cartomante me respondeu:

“Minha filha, todos os homens são pais de todas as crianças do mundo!”

Aquela frase ficou martelando em minha cabeça até que, amadurecida, volta e meia ela vem à tona e eu percebo que é uma grande verdade.

Meu avô que foi a primeira visita masculina a meu filho na UTI Neonatal, não foi só bisavô, não existe bisavô, existe pai três vezes, sim, as avós tão certas...

Nesse período natalino ou fim de ano foi o período que meu filho nasceu e, algumas lembranças... Ah, lembranças e memórias fazem as nossas histórias.

Como esquecer as rosas vermelhas que minha prima Denise foi me levar no hospital na noite de Natal?

Como esquecer Dani ceando comigo aquele panetone? Aquela amiga que me acompanhava para cima e para baixo e cujo pai, meu  inesquecível amigo Augusto, acertou o dia que o rebento veria a luz da vida?

A visita daquele paquera que me levou uma caixa de chocolate e que me deu uma crise de risos?

Sim... Todos os homens são pais de todas as crianças do mundo, somos todos cidadãos do mundo e numa guerra não existe razão. Finda o ano e sinto-me cansada, desejo de coração a todos que compartilharam mais um pouquinho de vida comigo nesse 2023 de tantos repentes e mudanças, existencialmente difícil ante tantos acontecimentos guardadinhos aqui na cachola, um novo ano melhor, com mais amor e menos razão, mais utopia ao romper dos dias, um ano de música, paz e alegria.

Um ano com mais alimentos e sentimentos...

Boas Festas!

Alyne Costa, 13/12/23

 

Cura

“Só eu sei as por que passei.”

Cura quem reconhece e por vezes desobedece

Aquilo que não concorda

Cada um tem seu  processo

Sua dor, sua ilusão

Cada um é recomeço e às vezes solidão

Todo mundo já foi criança e, nas cirandas da vida:

Pegou piolho ou lombriga

Não precisa remoer...

Me curar foi tão difícil e continua o sendo

Sigo alegre e enloucrescendo

Tagarela e apaixonada

Sei quando o outro cala

E respeito a faixa de pedestre

Nunca tive um automóvel

E sou fã de um buzú

Quem quiser gostar que goste

Que eu já não estou nem mais lá

Me importa o clima do planeta que está prestes a estourar

Continuo me amando

Mesmo sendo um pouco vesga

Mas, mas, mas...

Sou baixinha e bonitinha

E, não vem que não tem dor no joelho

Quando passo um batom

Vejo ele em meu espelho!

 

Alyne Costa, 13/12/2023

Monday, December 11, 2023

 

No Mundo

 

Nesse mundo, bem lá no fundo

Escolho me acolher

Ver minh’alma florescer

Sou feita do barro de chegadas e partidas

Quero a paz abençoada

Jamais a alma vilipendiada

Por cicatrizes que não me pertencem

Mas que surgem e ressurgem pra me machucar

Cada um cria suas teses ou catequeses dos diálogos travados na vida

Seja lágrima de riso ou despedida

Nesse mundo, bem lá no fundo

Escolho dormir no seu ombro

Enquanto a bailarina faz um solo

Faço meu abrigo no seu colo.

 

Alyne Costa, 11/12/23