Saturday, November 05, 2011

Resgate



Você me amordaça e me tira a graça...
Depõe contra mim.
Me estilhaça.
Me joga no chão e tripudeia.
Como se não tivesse nem sangue na veia.
Me cobra dobrado o bem que pensa que me fez.
E eu que não sou dama de um baralho.
Te deixo jogar sozinho.
Me escolhe as vestes, os meios e os fins.
E meu grito oprimido é meu silêncio vendido em módicas prestações.
Um silêncio que ninguém entende nem quer entender.
Um silêncio de mulher que sabe que na hora certa vai vencer.
E enquanto você fala para uma palestra invisível eu finjo que não vejo.
Eu finjo que beijo.
Eu finjo que não sei.
E nesse patins sem rodas eu desfilo pela vida.
Deixo que me joguem pedras.
Deixo que me condenem sem contraditório.
Calada, deixo morrer a poesia.
Calada, tremo em face ao abismo.
Calada, eu já nem cismo.
Mas ainda há amor.
Um amor que vinga e adormece embora acompanhe sua pasta de notas fiscais...
Seus telefonemas em código.
Suas fugas para além do cais.
Já não tenho medo porque guardo um segredo.
Falo em dialeto cigano, da vida que, por engano, insiste em sobreviver.
Resgato sorrisos...
Fico só observando as mudas gravuras na parede.
A mulher sem terra se envergonha de mim.
É que eu não sei ser assim tão única.
Eu sou várias.
E às vezes me dispo pra um varão invisível que pagará meu resgate.
E me levará de volta ao templo de sonhos.
Povoado de anjos de vários tamanhos.
Onde meu sorriso se descortinará!

Alyne Costa
5/11/2011

3 comments:

Lara Utzig said...

Varão invisível... Agora me deu medo. rs

Charles said...

Nossa, conheço alguém que se encaixa certinho neste texto!

Antônio Paixão said...

Uma fascinante odisséia através dos sentimentos, anseios, angústias, encontros e desencontros do corpo, da alma e do coração.