É Tarde
Já é tarde. Não atenderei telefones. Não acenderei as luzes. Travarei a porta. Resta-me pouco tempo. Quero me perder nas minhas próprias coisas Quero a leveza da poesia Quero meu riso de volta Quero o abraço terno do meu filho Não quero de cuidados Aliás, não preciso de cuidados Não, eu não vou usar batom Nem vou descruzar as pernas Vou voltar a escolher minhas roupas Farei uma grande fogueira com todos os papéis Pintarei a casa Jogarei fora todas as coisas velhas Só não me livrarei dessa cicatriz Ficará exposta Á mostra Não precisa devolver nada Não quero nada de matéria Voltarei a ter as tvs desligadas E, depois, enfim, em torno do que sobrou de mim Morrerei, enfim. Alyne Costa, 15.05.15