Wednesday, September 30, 2015

É Tarde

Já é tarde.
Não atenderei telefones.
Não acenderei as luzes.
Travarei a porta.
Resta-me pouco tempo.
Quero me perder nas minhas próprias coisas
Quero a leveza da poesia
Quero meu riso de volta
Quero o abraço terno do meu filho
Não quero de cuidados
Aliás, não preciso de cuidados
Não, eu não vou usar batom
Nem vou descruzar as pernas
Vou voltar a escolher minhas roupas
Farei uma grande fogueira com todos os papéis
Pintarei a casa
Jogarei fora todas as coisas velhas
Só não me livrarei dessa cicatriz
Ficará exposta
Á mostra
Não precisa devolver nada
Não quero nada de matéria
Voltarei a ter as tvs desligadas
E, depois, enfim, em torno do que sobrou de mim
Morrerei, enfim.
Alyne Costa, 15.05.15

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