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Showing posts from October, 2015

Contemplação

No templo de  Daniel Um monstro adormecia Contemplo abstrações Hoje três anjos me fizeram cafuné Não sou a toa, sou Mulher Alyne Costa, 29/09/15

Noites

Numa noite enluarada Ildete ariava os pratos João Pequeno olhava estrelas e depois contava casos Eu, no colo de Vô Me admirava de Joao Enquanto lembrava alguma aula sobre constelação Os mistérios da noite que ardia E o medo de assombração Vó ajudava a comadre Eu era só inocência Ia ver a cova do anjinho E colocava florzinhas De vez em quando Íamos ao Zé Lopes visitar Tio Zé Antoninho Que era só doçura mesmo quando velhinho A casa era uma belezura com o lampião aceso Passávamos pelo curral Vô comentava a estirpe do marruais Eu ficava apavorada com o tamanho dos chifres Sâo essas doces lembranças Dos meus dias de criança Que me enchem de acalanto e esperança E hoje nas noites vazias Fora do tempo de meu avô Me visto de poesia E espanto toda dor. Alyne Costa, 25/09/15

Como Baleiro

Hoje amanheci com vontade de fazer um cafuné na vizinha Lourdinha De dar leite a uma cadelinha De tomar uma cerveja sozinha De despedaçar a folhinha E, depois, quando a vontade passar. Vou ali, passear. Alyne Costa, 30/09/15

HaiKai Musical

E se eu morrer, morro feliz, hoje ouvi 14 Bis.

Maria Três Saias

Lia tinha três saias Usava as três num só dia Quando Lia franzia a testa Menino de medo corria Lia andava descalça E coava café numa fogueirinha O café de Lia cheirava Invadia o quintal da vizinha Lia nos seus devaneios Sonhava casar com Zé Bernardo E inaugurar um reinado Na sua casa de barro Ai que saudade de Lia Do seu quiabento Dos meus tempos de menina Gravados no firmamento. Alyne Costa

Vida

Eu vi o anjo da noite A morte me vigiar Com dois olhos enormes Rogando pra me levar Travo desde então uma batalha Entre o vício e o precipício Sob a vigília da morte As minhas mãos tremem Foram-se meus pecados Rogo a tudo que é santo Rogo à virgem Maria Dia e noite, noite e dia Para que me guarneça Com um bocado de alegria A minha tristeza mansa Atravessa a rua cabisbaixa Sabendo durar tão pouco A aventura da vida. Alyne Costa

Sou Uma Poeta Triste

Sou uma poeta triste Rabisco no infinito meu destino Desenho com giz minhas angústias As flores me comovem E ontem à noite eu chorei no cinema A dança de Matisse sobrevoa meu sexo Meus dissabores têm raízes profundas E, num recôndito, te amo Mas sou uma poeta triste Que não deveria casar. Alyne Cossta

Ana Rosa de Tobias

Ana Rosa se maquilava Passava batom, rouge Virava moça faceira Botava um belo vestido E rumava pra feira Namoradeira de perder o juízo Teve um filho muito moça O menino já era rapaz quando morreu de Chagas Ana Rosa se triste ficou foi somente por dentro Não lhe caía bem um luto Continuou a namorar Principalmente rapaz de fora E era das minhas maiores alegrias Falar "inglês" com Ana Rosa de Tobias Alyne Costa, 2014

Outono em Mim

O outono me nubla Espero cair a madrugada Não tenho medo da morte E até tenho sorte Gosto de sorrisos discretos E o outono me silencia O vento me aprecia E eu procuro uma cadeira de balanço Já não tenho tempo para asperezas Quero a suavidade de meu roupão O outono me prende no porão E fujo na ponta dos pés Sinto sua presença Hipertensa O outono mede minha pressão E eu sigo Na contramão Alyne Costa. 2014

Felicidade de Filha

Minha mãe me pegava pela mão E me levava a passear no Centro da cidade Para tirar 3X4 nos lambe-lambes da Piedade Gostava de ver tanta gente na rua Aquele alarido de palavras enfeitiçadas E minha mãe gritava: -Não pisa na merda! E sempre havia alguma por ali Comprávamos bunjingangas, bijouterias Depois tomávamos um sanday ou uma salada de frutas na Savoy Ah, como minha mãe me fazia feliz. Alyne Costa, 25/03/14

Madrugada

Pássaros noturnos vigiam meu sono Sou a feiticeira encantada E canto uma canção na madrugada Do tempo em que ainda não nasci E faço uma viagem colorida Perfumada de jasmin Sou a cantora de fado E o terço da beata Sou uma procissão de fêmeas loucas E ouço bandolins distantes Preciso de uma porção de solidão Aquela que se faz necessária E surge uma alegria prrimária Por ser alegre, etérea, alucinada Ser a maluca feliz no centro da Praça Enquanto os pássaros noturnos roubam meu sono E me perturbam com a madrugada enluarada. Alyne Costa, 13.08.14

Poema Canção

Faz frio Tomo um café Espero plena a visita de um verso Assisto uma partida de futebol E esqueço o cigarro A pressão abaixa O sorriso de Jô ecoa na cozinha Quero fazer um poema Que a mão trema Que os anjos sorriam Que as polícias silenciam E guardem suas armas Que a tarde caia Sobre a moça de mini-saia Que denuncie toda violência Que acenda uma nova crença Um poema-canção Que acorde um amigo E afague o sorriso puro de meu irmão. Alyne Costa 14.06.14

Doçuras Que Se Foram

A Igaporã dos meus sonhos não existe mais Não existe mais o assobio de meu avô Nem a padaria de Seu Gute Não existe mais a praça lotada de amigos felizes Ao som de um violão solitário Não existem mais o Bar de Seu Vavá, nem o carnaval do ACRE Não existe mais o quintal de Seu Zé Mirréis Nem as cabeças cheias de piolho Não existem mais as moagens, nem as canas enroladas de puxa quente Não existe mais Berrador Não existe mais Zé Bernardo, nem Julinda Pé de Foice Tudo é lembrança Até as siriguelas de Dr. Joao Não existem mais as rosas formosas da varanda encantada de Dona Dalci Não existe mais as cartas anônimas das Pulguinhas Nem as tampinhas premiadas de coca-cola Mas existe algo que resistiu ao tempo A saudade, a esperança Ainda vivas Em minh'alma de criança. Alyne Costa, 12/05/15