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Showing posts from March, 2023

Atrevida

Sou comovida com outonos Tardes nubladas de frio e neblina Para alguns: Irreverente Importante é que sente Dispenso rótulos Me edifico ora em cismas e ora em pedacinhos de ciúmes Há coisas que muito me aprazem Sopa de abóbora com coentro Sou única e coletiva ao mesmo tempo Gosto de vestidos tipo comprida sem roda Na linguajem de minha avó Respeito abismos e saudades Anoto meus sonhos em alto falantes A minha liberdade é cheia de atrevimento Mas no cinza dessa dor aguda e atroz Restaram eu, a xícara e o sousplat sobre a mesinha de cabeceira.   Alyne Costa, 28/03/23

O Sexo dos Anjos

  O Sexo dos Anjos Era final da década de 70, pertinho ali da sorveteria Primavera no Relógio de São Pedro. Mais precisamente esperando um Vibensa. Meu pai adorava me fazer participar de seus encontros com amigos talvez daí tenha vindo minha precocidade e curiosidade, se ele pensava que eu só estava passeando estava redondamente enganado, eu gravava tudo e ainda contava pra minha mãe. Nessa ocasião ele estava com Guto e eu adorava Guto porque ele gostava da minha presença. Sei que conversavam muito, meu pai com sua filosofia e cheio de questões que nunca acabavam. Naquele tempo os camaleões enchiam a Piedade e já era quase noitinha quando Guto deu uma bela resposta a meu pai: “-Ah, João! Não vamos discutir o sexo dos anjos!” Aha, ali eu peguei na hora e guardei aqui na cachola. Não perguntei na hora porque eu estava pensando em outra coisa, mas quando voltávamos para casa, arrisquei: -Pai, o que é o sexo dos anjos? Não me lembro da resposta e sempre que alguém me vi...

Contemplação

    Onde mora o absurdo que se transmuta em guerra? Seria por acaso o sangue o preço do metal? Nada mais imoral açoita a terra. Matança: planta, gente e animal   Porque lutam bravios soldados? Que vale mais que um fuzil? Na terra ainda existem belos fados. E um céu cinzento prevê o anil.   As cinzas e a carne não destroem a ganância Mil cruzes não superam sublime dor Amor, sabor e esperança   Sempre há de sobrar um sonho na distância Tardes cinzas escondem o perfume e a flor Café, poesia e dança.   Alyne Costa, 18/03/23