O Sexo dos Anjos
O Sexo dos Anjos
Era final da década de 70, pertinho ali da sorveteria
Primavera no Relógio de São Pedro. Mais precisamente esperando um Vibensa.
Meu pai adorava me fazer participar de seus encontros com
amigos talvez daí tenha vindo minha precocidade e curiosidade, se ele pensava
que eu só estava passeando estava redondamente enganado, eu gravava tudo e
ainda contava pra minha mãe.
Nessa ocasião ele estava com Guto e eu adorava Guto porque
ele gostava da minha presença. Sei que conversavam muito, meu pai com sua
filosofia e cheio de questões que nunca acabavam.
Naquele tempo os camaleões enchiam a Piedade e já era quase
noitinha quando Guto deu uma bela resposta a meu pai:
“-Ah, João! Não vamos discutir o sexo dos anjos!”
Aha, ali eu peguei na hora e guardei aqui na cachola. Não
perguntei na hora porque eu estava pensando em outra coisa, mas quando
voltávamos para casa, arrisquei:
-Pai, o que é o sexo dos anjos?
Não me lembro da resposta e sempre que alguém me vinha com
perguntas que não acabam mais, uso a expressão, mas somente hoje descobri sua possível
origem histórica! Em Constantinopla.
A vida e a poesia me deram a felicidade de reencontrar Guto
já na maturidade num dos lançamentos de José Inácio, creio que no livro Sete se
não me malha essa memória um tanto cambaleante em decorrência do mundo pós
pandêmico (quiçá, quiçá, quiçá).
Guto é um poço de ternura e talvez o único amigo que meu pai
não tinha nenhuma teoria persecutória, bem, vamos nessa que eu vou ler um pouco
de Zélia . Talvez eu também precise de um pouco mais de praticidade.
Alyne Costa, 26/03/23
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