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 Diálogo solitário com Hilda Hilst Hilda, foi um absurdo ler Do Desejo naquela praia. Areia, cerveja, suor e sono e a curiosidade por certo. Aqueles versos xerocados e encadernados que eu lia ávida me transportavam para um Universo do que jamais eu tocaria. Desejo do diferente e talvez à época um delinquente ou marginal. Entre tanta novidade daquela literatura que se descortinava eu adormeci e o mar algum tempo me acordou a tempo de salvar a encadernação. Hilda, falam mal de mim como falaram mal de ti, mulheres que escrevem rompem tabus e trazem medo. Mas de fato esse lapso de tempo que nos distancia, me traria várias universidades, idiomas, títulos, casamentos, filhos, esperas, buscas e confrontos. Te fizeste arquiteta de ti mesma no teu lirismo beirando a embriaguez sutil dos primórdios dos meus primeiros versos. Não fui arquiteta de mim mesma, como tu fostes, fui algoz, juíza e talvez abrigo de mim mesma. As minhas sabotagens só amputaram as minhas dores. Os meus indeléveis vers...
Géia   Que a ciência desafie o sacral Já imortalizado em tantos ritos, ditos e mitos Que o desafio seja a razão da ciência Sua fina essência Mas que ela não ouse tocar na arte Que não viole a humanidade Eis o homem em completude Não só composto orgânico, células, tecidos E ortopedia Mas feito de toda magia Que vê na ciência o que amplia O que cria em prol da vida Eis o homem: material onírico Repleto do que ainda não se decifrou Sedento de dar a mão a seu igual Sedento de paz, de arte, de jardins em flor Somos todos corpos mergulhados nessa géia E quantas guerras se precisaria para destruir tudo que somos? Imortais nas lembranças Nos sorrisos de crianças Na heterogenia de todas as danças Homem, produto, meio, fonte e ponte Faz na terra sua lambança! Reverencie as cirandas, mas não cultue a guerra. Permita aos vindouros o mergulho na géia. Seja o artista deste palco Terra. Alyne Costa, 2002 (publicado anteriormente no Usina de Letras)
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  Esboços Roda a roda da vida Ciranda, chegada, partida Roda a gente doída Roda a gente ferida Roda a gente saudade Roda a gente e a verdade Roda a roda da vida Esboços de recomeços É a fonte É o monte É a ponte Roda a roda da vida Do moço boêmio Da mulher parida É o fim É a canção Pulsando em mim.   Alyne Costa, 13/02/2025
  Manual para lidar com poetas   Não faça muitas perguntas aos poetas Deixa que deles brotem as palavras que por assim se acasalam e viram poemas Não pergunte a um poeta as horas... Poeta é ser que vive além do tempo e das intempéries Zombe, chacoalhe, duble o poeta Mas nunca... Nunca o busque numa medida certa.   Alyne Costa, 5/02/25