Tuesday, January 23, 2007

Ê Beleza...


Talvez meu fardo não seja leve, talvez menos atroz que os alheios.
Mas cada qual com seu fardo, assinando seus destinos.
Destino diferente este de ser poeta, varar noites de solidão.
Ê beleza que é a imagem de São Sebastião.
Beleza também aquela música de Roberto e Erasmo: Sentado à beira de um caminho.
Quando eu viajo costumo olhas coisas à beira do caminho...
Barraquinha vendendo fruta, espetinho, artesanato...
De vez em quando um pé de acácia amarela.
Ê beleza...
Beleza é ouvir minha avó falar: “Misericórdia!”
E meu avô dizer: “Coraçãozinho de Vô”.
E a gente não cresce nunca num lugar qualquer da alma.
Talvez eu não tenha mesmo sorte com romances.
Talvez não esteja olhando pros lados.
Talvez o amor esteja ao meu alcance.
Em garupas de cavalos alados.
Beleza é saber que na distância a gente some um pouquinho, perde um pouquinho de viço, mas mergulha de vez no fundo da alma da gente e se surpreende:
Sobrevividos.
Beleza é saber-se vivo, ainda que dolorido, saber-se inteiro ainda que dividido e saber-se forte em meio a tantos infortúnios.
E porque a vida é assim, a gente escolhe ver o belo onde talvez ninguém o veja.
Na água da chuva, no riacho e na correnteza, que a vida é também assim: criando lodo e trazendo o novo.
Beleza é lembrar do alpendre da casa da minha bisa, limpinho, com uma pequena bacia de porcelana branca que com água quente esperava o irmão chegar da roça e lavar a mão para o almoço.
Aquilo era que era beleza, aquilo é que era amor e depois que ele chegava, colocava a mesa com a galinha temperada e pra meninada, o ganhador.
Beleza era o doce de leite com rapadura e a água de pote.
E se os meninos na estripulia ralavam a perna nos arames das cercas, tinha cachaça canforada que ardia e sarava.
Beleza era ouvir a missa direto de Aparecida do Norte às 6:00, naquele rádio enorme que nunca quebrou e acreditar em Deus.
Era ouvir os aboios e ter medo de lobisomem.
Talvez o fardo se torne mais leve se a gente poetisa as lembranças e começa a sentir esperança.
Ê beleza....
A lembrança do que fomos e as incertezas do amanhã.

Alyne Costa
Brumado, 23 de Janeiro de 2007

1 comment:

Anonymous said...

Uma vez aqui na minha cidade mataram um lobisomem.! Corri no cemitério pra ver seu corpo mas não consegui porque tinha muita gente curiosa. Pois é.
ê beleza.
Tutu-marambaia.