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Showing posts from February, 2007

De Mim

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Foto by: Alyne Costa De Mim Uma serpente me incomoda a noite Dançando dentro de mim Um baile atônito Entrelaçada entre minhas feridas Degusta minhas entranhas e me faz mansa Assobia os meus segredos aos quatros cantos Revira todos os meus mundos Intestinos, gota, apêndice Lustra o sótão da minha alma Me desnuda sobre estradas e avenidas Me traz lembranças, ira... Soterra meu ego e me mostra crua Uma serpente dança um tango argentino Pisa de salto nas minhas angústias Me atira facas Me oferece maçãs Ri das minhas preces E depois ganha asas e voa Me sobro em várias Desmascarada e histérica De quantas faces são feitos meus sonhos? Quantos caminhos para os meus ais? Uma moto passa... Um trem-de-ferro apita... Uma fumaça bruma a cidade. Nua em frente ao espelho Eu quase sou Eu quase vou Quase serpente Quase em frente Eu quase esqueci – De mim! Alyne Costa Brumado, 14 de fevereiro de 2007

Sobre Flores...

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Foto by: Alyne Costa Frase de Caminhão pinchada no muro do cemitério de Brumado "Até as flores dependem de sorte, umas enfeitam a vida outras enfeitam a morte." A poesia não escolhe hora pra nascer. Pode brotar de uma esquina entre uma dúvida minha e sua. Numa frase de caminhão, de ré, na contramão... Num atrito, feito cacto... Num muro de cemitério. Porta de banheiro. Mas ganha ares de flor e asas de anjo. Voa entre o medo e a esperança. Poesia é anúncio de alma. É flor pro mundo áspero do mistério que ronda: A vida e a morte. Alyne Costa 9/02/07 Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava longe do céu...Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar. . . Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par.....

Brincadeira com Barro

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Havia um tempo em que brincávamos com barro. Quando a chuva deixava úmida a terra era uma festa. O barro era colhido com as mãos em barrancos. Haviam vários barrancos que disputávamos. Os meninos que tinham coragem e liberdade de ir mais longe traziam em suas mãos o barro de melhor qualidade, sem mato, sem tocos de madeira e faziam cavalinhos, boizinhos e carrinhos-de-boi. As meninas faziam panelinhas. E nosso barranco preferido era o da casa de Maria “Três Saias” ou Lia, para os íntimos, os que a queriam bem e os “filantrópicos” que lhe davam alguma assistência. A casa de Lia – eu queria bem – ficava na antiga Rua do Pontaleite e era um pouco recuada. Diziam que a velha era feiticeira. Costumava espiar a casa dela quando deixava uma gretinha da porta aberta. Havia muito mulambo, papel e uma escuridão terrível. Lia fazia café toda manhã na casa de Dona Júlia, levava o pó, o açúcar e o bule. Sempre usava saias, por isso o apelido de “três saias”. Se eram três, nunca contei. Mas Lia nunc...