Tuesday, May 05, 2009

Caduca


De volta ao altar, ergo as mãos
Mas as palavras que me saem, não são preces
Calo minha oração enquanto admiro as rugas que me nascem
E sonho envelhecer nos braços dele
Em seu desvelo, enrolo-me feito novelo
E como em sonho, acendo velas pelo porvir
Lembro as longas e enrugadas mãos de meu avô
Pela manhã rego as mudinhas das plantas
E a palavra de amor, viola o silêncio com um telefonema
E o dia assim amanhece, com promessas claras
E cheiro de bolo frito de tapioca e sal
Mesmo se chove as manhãs são claras
Cheias de esperanças novas
Volto ao altar e ergo as mãos
De puro agradecimento, Deus, é feita minha poesia
Assim, calma, sem estardalhaço
Feito aposta de menino
Mas eu queria mesmo era ter mãos encantadas
Para aparar o intangível do amor que o céu derruba em mim
Aparar e colocar em taças
Servir a quem se achega como de costume
E essa vida que faz pouco caso de ser entendida
É meu valioso dom
E ela não é mais minha e nunca o foi somente
Ela é teia de um fio maior
Tecido dia a dia
Hora em porão de dúvida, outra em despensa cheia de amor
É a velhice que chega ainda tímida
É a vida florindo a graça de quem cresceu.

Alyne Costa
5/05/09

1 comment:

Luciano Fraga said...

Mora no leito da sabedoria que passa pelas diversas etapas da vida(juventude,velhice, decrepitude, morte), com compreensão e serenidade, belo poema, cabe para todos nós, beijo.