Sunday, June 19, 2022

Zé Bernardo

 O primeiro "maluco" que me vem a mente é Zé Bernardo. Assim mesmo, com nome composto, com direito à dignidade pelo menos no nome pelo qual era conhecido.

Deveria ter uns 04 anos quando o conheci andando pelas ruas com suas roupas rasgadas, suas feridas que lembravam um São Lázaro, cobertas por tiras de tecido e uma toca de nylon amarela daquelas que se colocava verduras na feira prendendo seu cabelo ensebado.

Zé Bernardo tomava banho num bueiro e pouco lhe importava o mau cheiro, ali sentava-se, rolava e lavava o cabelo.

Ninguém tinha medo dele posto que inofensivo, doce e  sorridente. Só era sujismundo, tanto, que sua pele não se definia...

Todos brincavam com ele, davam-lhe sobras de comida, um pouquinho de farinha, um pouquinho de arroz num saquinho, sendo mantida a distância necessária. Não sei onde morava e creio que ninguém saiba mais pois são incertezas que os invisíveis parece trazer tatuada no DNA!

Se Zé Bernardo sabia ou não sabia eu também não sei... Só  sei que como canta o regueiro... "Andava pelas ruas da Bahia."

Enquanto Chico canta um samba, fala em devaneio, eu vou viajando aqui nessa história. O sorriso de Zé Bernardo está em minha mente feito "tatuagem" talvez para "me dar coragem" coisa   que diria o poeta "estamos todos precisando".

Alyne Costa, 19/06/22

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