A cadeira de Van Gogh - 1888
Manhã de Domingo
Por um tempo havia em minha sala uma réplica de Os Girassóis
de Van Gogh que morava ao lado de uma fotografia de Sebastião Salgado do MST,
com uma mulher com um filho no colo e outro segurado na barra de sua saia,
enquanto seu braço direito estava erguido na posição de luta.
A temporalidade da vida rabisca tudo e os girassóis também
se desbotam, como tudo vai ganhando novas nuances... A idade que chega para o
ser humano também chega para objetos, idéias e movimentos.
Sentimentos também perdem a cor com o tempo. Lembro da frase
de minha amiga Ró: Todo mundo tem 15 anos em algum lugar do coração.
A arte tem um condão de nos mover e comover em diferentes
direções, infância e adolescência, eu gosto de dividir detalhes e me disseram
que isso era bom pra conviver, mas não, não caí nessa cantada, caí foi num
golpe.
Águas passadas não movem moinhos, a não ser que você veja e
reveja mil vezes uma cena de cinema, ouça uma canção que toca o coração e vai
tocando a vida como uma toada, relendo antigos versos, lembrando da tabuada.
Num determinado momento, aposentei os girassóis e a
fotografia do Sebastião que também sabia como Nando Reis que o mundo é bão.
Imagens são símbolos, signos e movimento na vida. Como já foi
dito, viver requer paisagem, riscos e sacanagem.
Hoje é domingo e pede cachimbo.
Alyne Costa, 26/02/23
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