Dois Retratistas
Lugar comum em cidades do interior nos velhos tempos e figura
ímpar para lá de importante era o retratista.
Sempre chamados para os eventos mais importantes como
batizados, casamentos, eram eles que registravam com suas lentes em seus
laboratórios a história local, crianças, casais e festejos, nada escapava de
suas lentes vorazes.
Em Igaporã, havia, como sempre, uma certa peculiaridade. Ali
não havia um só retratista, eram dois: Seu Zé e Seu Aloísio, retratistas.
Os dois eram vizinhos de parede meia e nunca se ouviu falar
de qualquer desavença entre ambos. Exerciam seu labor coincidente na maior
pacificidade e não me lembro de um ter mais fama ou ser considerado melhor ou com
mais virtudes na arte da fotografia que outro.
Se alguém tinha preferência seria tão somente pela
disponibilidade momentânea.
Assim, nos antigos carnavais e festejos santos tirava-se
muitos retratos e depois ia até à residência do respectivo retratista pagar e
receber a foto.
Aí era uma questão de honra porque aquele que não pagava a
foto tirada ia parar na “boca da onça” não o animal, “boca da onça” era porque
a fotografia ficava exposta e, quem por ali passasse ia ver que fulano ou
cicrano tinha foto dependurada na parede do retratista, ou seja, tirou e não
pagou.
E ai de quem caísse na boca da onça, não saía dali tão
cedo...
Alyne Costa, 10/03/2025
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