A Mãe e a Repartição Eugênia chegava cedo na repartição, olhos cheios de olheiras das noites mal dormidas pelas dores que lhe acometiam, doía da nuca à sola do pé. Após falar com os colegas e a chefia abria o computador e fazia suas orações, seu ofício de lidar com gente era repleto do inusitado. Aos 40 e poucos anos um erro de diagnóstico havia aumentado e muito seu peso, corticoide, estava transformada e era raro algum amigo antigo lhe reconhecer. Sentava-se quase escondida, mas alguns dias observava de longe um jovem de olhos parados, observando o ir e vir das pessoas com um classificador talvez com seus documentos mais importantes, parecia pronto a fugir a qualquer momento e trazia no olhar sempre uma despedida. O rapaz às vezes passava horas ali como se hesitando em tomar alguma decisão importante, e seu olhar carregado observava atento o entra e sai da repartição, de vez em quando parecia esquecer seu problema e papeava com alguns cidadãos com um distraído sorriso...
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Não ser ou ser normal? “Um diagnóstico não resume a sua história, um transtorno não te define” Postou minha psicóloga a semana passada e eu acho que ela bebeu na fonte desse pensamento: "Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância" . Simone de Beaouvoir Fontes à parte, cai a matutar e a dialogar com minha amiga Alice domingo passado e resolvi escrever sobre isso hoje... A vida não é linear, você não pode se prender a nenhum rótulo ou diiagnóstico posto que a psique humana não é um bolo com receita perfeita, ela muda, o ideal sim é se cuidar e buscar no diagnóstico um ponto de partida para fazer e dar o máximo de si para viver bem. Tomar medicamento sim, bonitinho, mas ir além, ousar, crescer e até às vezes dar um passo atrás para poder dar dois à frente. No mundo pós pandemia o conceito de normalidade que há muito já vinha sendo questionado, mudou. O que é ser normal, quem é normal? Um transtorno de fato não...