Monday, October 16, 2006

Abrindo a Janela



Vou abrir ao mundo meus cafundós. Tudo que ta guardado lá dentro: impressão ou sentimento. Pode ser que pinte poesia, de safra boa, frasinha à toa, musiquinha que lembre alguém. Tudo que emane dos cafundós desse meu coração. Estou me sentindo como quando fazia minhas agendas na adolescência. Pena que não dá pra colar, recortar, artesanalmente. Minhas agendas sumiram, sumiram nada. Foram furtadas! A autora do delito famélico-lírico (só pode ser fome de emoção) foi Lú, Lucitânia, a primeira babá de meu filho, ela vivia com as agendas na mão copiando frases, poesia, escrevendo carta para o namorado. Depois que ela foi embora porque na época eu não tinha um puto, as agendas sumiram. A miserável não me deixou nenhuma mágoa, mas que saudade de fazer agenda, que curiosidade de saber o que nelas escrevia, os códigos, os amores, os chororôs, calundús, dedicatórias... Ró, minha amiga, ainda guarda as dela, de vez em quando relê e me conta, assim, acaba tendo documentada uma parte de meu passado que eu sequer sonhava testemunho...
Bom, recapitulando... Consoante Aurélio:
Cafundó
[De or. afr., poss.]
S. m. Bras.
1. V. cafua (3).
2. Baixada estreita, entre lombadas sensivelmente altas e íngremes.
3. Lugar ermo e afastado, de acesso difícil, normalmente entre montanhas. [Sin. (vários deles bras.): cafundoca, cafundório, cafarnaú ou cafarnaum, cafundó-de-judas, cafundó-do-judas, caixa-pregos, calcanhar-de-judas, cornimboque-do-diabo, cornimboque-do-judas, cu-de-judas, cu-do-conde, cu-do-mundo, deus-me-livre, fim de mundo ou fim do mundo, fundo, meio de mundo ou meio do mundo, tifa ] .
Opa, Cafua!
Ainda, por Aurélio:
Cafua
[De or. afr., poss.]
S. f.
1. Antro, cova, caverna, esconderijo.
2. Habitação miserável.
3. Bras. Quarto escuro onde se prendiam os alunos castigados; cafundó.

[Sin. ger.: cafurna.]
Rapaz... Cafua era como a gente costumava chamar uma quitanda que havia lá em Brotas, no Alto do Saldanha, também conhecido como Baixa do Cacau. Vendia frutas e verduras baratinhas, Gaída me ensinou, eu ensinei Tia Marta, só sei que em poucos meses a Cafua virou pop e eu parei de comprar lá.
O nome do blog não é qualquer alusão ao lugar em que atualmente moro, embora Brumado seja cercada de morros, ora, ora, morros e não montanhas e também não é nem de longe um cafundó, pertinho de Conquista que é um centro, tem cinema, boas escolas, inúmeras lan-houses, um povo muito gente boa, sem contar que tem trem-de-ferro o que lhe dá um ar mineiro e muito minério. Pois é, Manoel de Barros, eu estou aprendendo sabedoria mineral antes da vegetal. E se por um lado fica próximo a Ibitira, por outro também fica de Rio de Contas que é lindo de se ver, ali a natureza é páreo pro Rio de Janeiro. Ah! Muito chique é Brumado ter CAPS. Ah, eu juro que ainda faço uma postagem sobre CAPS, ter um CAPS no sertão da Bahia é ser muito moderna. Meus amigos, a cidade tá podendo!
Desfeita a possibilidade de equívoco, Cafundó é meu coração, as vezes minha cabeça que sente em lugar de pensar e as vezes pensa em lugar de sentar. Não tenho pretensão alguma de ser clara. Este cafundó se tiver alguma coerência, será ela eminentemente despropositada. Não só não tenho pretensão como não tenho propósito. A minha única obstinação é escrever. Lembrei de Fernando e aquela história de quem escreve como diarréia e depois se dá conta que só saiu merda. Pode ser um desabafo, pode ser um passatempo, um safanão no deserto da solidão, a magia de algum momento. Pode ser só brincadeira, riscos da desilusão, pode ser coisa de gringo, descendente de alemão. Pode ser algum fenômeno ou nenhuma graça ter. Pode ser pura delícia. Pode ser...

2 comments:

Anonymous said...

cafundó é aqui!
Amei o que li,amo quem escreveu e a saudade nao mata,mas aumenta o qto pode e indomoda,ás vezes...
Bjo meu.
carla desde o cafundó Barcelona.

Anonymous said...

Espero ter lugar cativo no cafundó do seu coração, pois no meu vc tem um espaço enorme. Beijo, beijo, beijo...