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Showing posts from September, 2007
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"Na verdade, aqueles entardeceres com rum e luz dourada e poemas duros ou melancólicos e cartas aos amigos distantes me faziam ganhar confiança em mim mesmo. Se você tem idéias próprias – mesmo que sejam só umas poucas idéias próprias –, tem de compreender que estará sempre encontrando caras feias, gente que vai fazer questão de lhe dar o contra, de diminuí-lo, de “fazer você entender” que não tem nada pra dizer, ou que você deve evitar aquele sujeito porque é louco, ou efeminado, ou um verme, um vagabundo, outro porque é punheteiro ou voyeur, outro porque é ladrão, outro, macumbeiro, espírita, maconheiro, outra porque é canalha, indecente, puta, sapatona, mal-educada. Eles reduzem o mundo a umas poucas pessoas híbridas, monótonas, aborrecidas e “perfeitas”. E assim querem transformar você num excluído de merda. Jogam você de cabeça na seita particular deles para ignorar e suprimir todos os outros. E lhe dizem:“A vida é assim, meu senhor, um processo de seleção e descarte. Nós som...

Pedra

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Carlos Drummond de Andrade Como num silêncio profundo a poesia sumiu dos meus olhos. Apareceu em meu sonho como estandarte. Penso em ti, poeta, quando os seus versos sumiam e cochilavam em sua alma. E, assim, essa poesia muda grita em mim. Debruçada no infinito, ela é soberana. Sua vigília entoa ladainhas, mas não me traz a alegria dos salmos. Essa poesia, Carlos, é a voz dos anjos sussurrando a inquietude de todos os poetas. Quando ela corrói as entranhas, envolve o poeta e este não a consegue traduzir no papel. Resta essa tristeza imensa em não traduzir. Florbela, Adélia, Cecília, Clarice, Cora Coralina, Ana C. Umas, assim. Outras assado:Rosa, Olga, Pagu, Simone, Zuzu Angel. Quando a poesia se faz fêmea e num mesmo peito se acasalam a condição de poeta e a de mulher. Peço-te licença... Não consegui ser gauche. Só vejo uma pedra. Alyne Costa Brumado, 8 de setembro de 2007

Vendaval

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Meninas do Paquistão Cores estranhas num telefonema. O sabor amargo na alma que chora. O sabor do medo que no sonho queima... Cores da vida em amarelo gema. O sonho que chega a cada nova aurora. O sonho da seção da tarde ser cinema... A doçura de um filme de Carlitos. O aroma de versos soltos num varal. A dor abortada em infinitos gritos. A infância renascida em fruta de quintal. A solidão que aprende novos ritos. A esperança dança em voltas num pombal. A resignada obediência a mitos. A sábia serenidade abranda o vendaval. Alyne Costa Brumado, 06 de setembro de 2007

Quando resta o nada... Que Clarice fale por mim aos que insistem em não ouvir...

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Quando me restar o nada... Quando tiver a certeza de nada ter... Quando ninguém mais inspirar confiança... Que me leiloem as pobres vestes! Eu nada tenho que pese em suas balanças! Sou poeta e fundo reinos. Meu erário não se mesura. Que exponham meu nome em seus diários. A minha poesia é intangível! Alyne Costa, Brumado 2 de setembro de 2007 Clarice: Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde,entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falarcom este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me se...