Wednesday, September 26, 2007


"Na verdade, aqueles entardeceres com rum e luz dourada e poemas duros ou melancólicos e cartas aos amigos distantes me faziam ganhar confiança em mim mesmo. Se você tem idéias próprias – mesmo que sejam só umas poucas idéias próprias –, tem de compreender que estará sempre encontrando caras feias, gente que vai fazer questão de lhe dar o contra, de diminuí-lo, de “fazer você entender” que não tem nada pra dizer, ou que você deve evitar aquele sujeito porque é louco, ou efeminado, ou um verme, um vagabundo, outro porque é punheteiro ou voyeur, outro porque é ladrão, outro, macumbeiro, espírita, maconheiro, outra porque é canalha, indecente, puta, sapatona, mal-educada. Eles reduzem o mundo a umas poucas pessoas híbridas, monótonas, aborrecidas e “perfeitas”. E assim querem transformar você num excluído de merda. Jogam você de cabeça na seita particular deles para ignorar e suprimir todos os outros. E lhe dizem:“A vida é assim, meu senhor, um processo de seleção e descarte. Nós somos donos da verdade. O resto que se foda.” E como passam trinta e cinco anos martelando isso no seu cérebro, quando você está isolado se acha o máximo e se empobrece muito porque perde uma coisa bonita na vida, que é desfrutar a diversidade, aceitar que nem todos somos iguais e que se assim fosse seria muito chato."

Pedro juan gutiérrez - trilogia suja de havana

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