Sunday, September 02, 2007

Quando resta o nada... Que Clarice fale por mim aos que insistem em não ouvir...


Quando me restar o nada...

Quando tiver a certeza de nada ter...

Quando ninguém mais inspirar confiança...

Que me leiloem as pobres vestes!

Eu nada tenho que pese em suas balanças!

Sou poeta e fundo reinos.

Meu erário não se mesura.

Que exponham meu nome em seus diários.

A minha poesia é intangível!


Alyne Costa, Brumado 2 de setembro de 2007


Clarice:


Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,

todos vazios de Tua presença.

Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude.

Faça com que eu seja a Tua amante humilde,entrelaçada a Ti em êxtase.

Faça com que eu possa falarcom este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala.

Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.

Faça com que a solidão não me destrua.

Faça com que minha solidão me sirva de companhia.

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.

Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.

Receba em teus braçoso meu pecado de pensar.


Clarice Lispector

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