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Showing posts from April, 2009

Será Arte?

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Madame Yvonne Landsberg, 1914, oil on canvas, Philadelphia Museum of Art. Observo passos mudos na neblina Homens sem rosto Apenas um cartão com barra de indicação Será vida? Será parte? Será Arte? Mulheres sem salto. Vestidos rotos. Essa casa não é minha. Essa rua não é minha. Esse silêncio não é meu. Me pertence um grito que ainda não lancei. Um grito de histeria santa. Um grito de alegria que eu nunca mais vi. Dois olhos de serpente lacrimejam. Será sorte? Será morte? Será Arte? Há algo que ainda me locomove de braços erguidos e risos fáceis. O que me acende e aquece e até comove. A pergunta que ainda não fiz. Ando sem pressa e toco em mãos feitas de mármore. Será verde? Será ramo? Será árvore? E amanhã, mesmo na chuva, sairei... Serelepe a buscar flores em meio a arranha-céus Acácias ternas... Verbenas e tulipas num vale qualquer. Mas um desenho rabisca minha mente. Traça pensamentos distantes e inconseqüentes. Será demência? Será clemência? Será Arte? Um desenho pousa uma nave na f...

Decifra-me

Eu sou uma sei lá... Sei cá, sei ali Sou também o que não sei Uma não sei quem Uma não sei o quê Uma sabe-se lá o porquê Eu sou a sobra de tudo que passei Sou a bandeira de todos os recomeços Sou fêmea, mentira e gema Sou a partida e a lágrima lambida Sou o pico do desespero Sou o pincel e a aquarela Sou a tinta azul-verde-e-amarela Sou a caneta e a página em branco Sou o teclado e a tela Sou vários links e formatações Sou o cochilo e o solavanco A sujeira do pé do mendigo que dorme nú Sou a calçada e o banco vazio de uma praça O vestido de Lady Di num leilão Sou o pássaro e o alçapão E nas copas das árvores, meu tapete verde Sou a fome da multidão Sou a esperança sadia da utopia Sou a nevralgia e a solidão E entre o céu azul e o sol que viola o olho que acorda: Decifra-me Salvador, 15/03/03 Breve passagem pelas Flores Mortas do Palhaço

Da Conta de Ninguém

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A gente ama a quem quiser e pronto. A gente ama e não escolhe. A gente ama pela fragância e pela essência, pela barba, pelo duro que a pessoa dá, pelo amor que a pessoa demonstra em olhares, em gestos e em verdade. E doa a quem doer. Eu amo e ninguém tem nada a ver com isso, muito menos com o objeto do meu amor. Já amei e não fui amada. Já amei e me precipitei. Já amei e passei meses me embreagando por um amor não correspondido. O resto a vida me ensinou e não foi soprando não. A vida me ensinou com muita porrada e talho de estilete. Me ensinou a amar sem escolher e aquela coisa do pincípio da isonomia (ria quem quiser) eu levo ao pé da letra. Todos são iguais e pronto. E, no amor, todos são diferentes. Eu amo o joanete dele, os mergulhos filosóficos, a bandeira comunista que carrega na alma. AMO! AMO! AMO! Òbvio que jamais vou trocar a aprendizagem de um amor desses pela dinastia dos bonitinhos. Não quero menininho mais não. Blergh! Quero amor que me leve pra cozinha. Pra fazer sopa s...

CAMINHO

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GUSTAV KLIMT Pode me cortar em lâminas, já não sangro As antigas dores agora saltam em jorros Desdobram-se Multiplicam E em meu peito já não habitam Rodopiam pelo externo E brota em meu caminho um jardim repleto Flores, cores, canções... Pode me amarrar de corda, já não movo Assisto a um desfile de cascatas com águas rubras Os meus sonhos saltam os precipícios do que não ultrapasso E se há dúvida, me abraço Faceira, mineira, feiticeira O começo sou eu O fim sou eu Mas importa, o meio, o ínterim, o caminho. Que ninguém faz sozinho. Vamos de mãos dadas e vidas doadas. Alyne Costa

Insignificado

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Harmony in Red (The Red Room), 1908, oil on cavas, Henri Matisse Não sei guardar poemas Não sei organizar Não sei metrificar Não sei rimar rima com lima Escrevo, assim, num canto qualquer de papel de amendoim torrado, meu verso guardado, moído, transmutado. Jamais insignificado. Alyne Costa