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Showing posts from November, 2010

Vôo Livre

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Eu não sei esse idioma, confesso. E, assim, meu sorriso finge entender Aquilo que já não se faz segredo E nessa avenida da vida tantas vezes enfeitada Há cores do que não me comove mais Mais em um canto surge uma lágrima muda Uma lágrima santa que grita: Absurdo! É a solidão de uma lágrima única. E todo silêncio cresce ao redor. Silêncio de fêmea que traz nas entranhas da alma uma indignação sufocada. Sem alarde. Discreta e morna. Que assombra os sonhos da mulher. E essa indignação passeia calmamente por jardins encantados. Joga runas, ri alto do que não tem mesmo jeito. O desespero é a matriz dos fracassos. E mulher foi feita sob encomenda para sagradas esperas. E assim ela assiste ao mundo. Ela gira. Ela gera. Ela faz fibra da vida e transmuta. Desespero é redoma de sofrimento. Mulher cresce quando abraça o vento. E voa livre muito mais feliz. Alyne Costa 20/11/2010

Terapón

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Com ela aprendi significâncias e significados... Aprendi que terapeuta é quem caminha junto. Depois descobri que este caminhar ao lado é por um tempo, depois a vida dá um jeito da gente ir sozinho. E foi assim no que eu descreveria como um inesperado salto de paraquedas: Salta! Agora é com você. E você tem a obrigação de sobreviver. Não tivemos tempo de preparar despedidas, de tomar sequer um café naquela cafeteria que tanto gostamos. Não vivi o luto, não digeri, foi literalmente uma despedida por decreto que nós mulheres muito ladinas entendemos porque sabemos que murro em ponta de faca na melhor das hipóteses gera corte e cicatriz e isso lá no fundo não é melhor pra ninguém. Mas não posso deixar de ponderar a força da passagem dessa mulher em minha vida, de suas lições e do quanto ela se faz presentes em coisas que tempo, vento, decreto nenhum apaga. Com ela eu perdi o medo. Medo das paredes da minha casa. Medo do que era meu. Medo dos meus talentos e sonhos. Medo da língua alheia, ...

Meu Machão

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Devia estar na casa dos seis anos quando o ganhei de presente. Era de plástico e imóvel. Usava uma camisa vermelha de mangas compridas onde estava escrito “MACHÃO”, assim mesmo em maiúsculas e possuía a genitália desnuda em contraste. Foi presente de Tia Marta, sempre provocativa com os sobrinhos. Devo ter ficado rubra a princípio com o presente. Eu acostumada com bonecas bem comportadas ter que lidar com aquele intruso de piroca de fora no meio delas. Mas achava muito legal aquela camisa vermelha e a palavra “MACHÃO”. Não tivesse ele as pernas grudadas eu juro que lhe arrumava umas calças cumpridas. Tia Marta ficou muito tempo por perto assistindo minhas reações com o Machão, devia estar se divertindo com meu constrangimento e até brincou comigo, dando vozes e falas ao boneco, entrosando no meio dos outros brinquedos e eu comecei a ganhar intimidade. Em muito pouco tempo Machão já havia virado o rei do pedaço. Disputado por todas. Era marido de um, amante de outra. E meu reino infant...